terça-feira, 9 de agosto de 2011

Notas sobre os motins no Reino Unido - I


Estamos já na terceira noite de motins e pilhagens em Londres, que entretanto alastraram a outras cidades: Birmingham, Bristol, Liverpool. Tudo começou na sequência de uma marcha pacífica contra a morte, às mãos da polícia e ainda mal explicada, de um homem em Tottenham. Mas isso foi apenas a faísca que detonou um potencial pré-existente. Os comentadores dos diversos quadrantes começaram já a esgrimir argumentos acerca da correcta interpretação dos acontecimentos. Em particular, têm surgido quatro interpretações principais, eventualmente combinadas em diferentes proporções: os motins como criminalidade gratuita e sem explicação, atribuível apenas à estrutura moral deficiente dos participantes (“thugs”); como protesto politizado contra a repressão policial e as opções em matéria de política social e económica; como resultado da criação de quintas colunas dentro da sociedade inglesa em resultado do excesso de imigração e da falência do multiculturalismo; e como produto das condições sociais nas áreas mais pobres e degradadas dos grandes centros urbanos. Seguem-se algumas notas soltas como contribuição para a intepretação e reflexão em torno destes acontecimentos.

Primeiro, os factos. De uma forma geral, os motins e pilhagens têm tido dois alvos principais: a polícia e estabelecimentos comerciais, sendo que no caso destes últimos os alvos têm consistido sobretudo em lojas de diferentes cadeias de bens de consumo. Praticamente não tem havido destruição de habitações ou ataques a indivíduos isolados, sendo que os casos em que isso aconteceu se devem em geral ao alastramento de incêndios ou a criminalidade que poderia ter sucedido mesmo na ausência dos motins. Por outro lado, os ataques contra a polícia e a invasão das lojas têm sido em geral levados a cabo por grupos de jovens, em números consideráveis, aos quais, no decurso das pilhagens, se têm juntado outras pessoas que estão pelas redondezas. Têm alastrado rapidamente por toda a cidade e para outras cidades, de uma forma imprevisível e que sugere coordenação ao nível dos grupos individuais que atacam em cada local, mas não de uma forma mais geral.

Ora, o que tudo isto reflecte, acima de tudo, é a alienação de segmentos consideráveis da população jovem em relação à sociedade a que pertencem. Essa alienação tem duas dimensões principais: hostilidade face ao poder policial e um desejo reprimido de participação na sociedade de consumo em termos semelhantes aos dos grupos dominantes. Os protestos começaram por ser organizados e politizados, mas rapidamente deixaram de o ser. Porém, isso não quer dizer que não sejam políticos – pelo contrário, pois essa alienação tem causas que são claramente políticas. (continua aqui)

4 comentários:

Thugs? disse...

Também havia estranguladores indianos?

Rotular o que não se compreende não o torna mais compreensível.

São libertações de tensão razoáveis como queimar papelões ou vidrões violência dita gratuita

é uma boa catarse
contra os desarranjos mentais futuros

em termos sociais
agrava fossos

e resolve poucas coisas

FQ"inquieta" disse...

a história não teve outra forma de resolver "coisas" - estas estão já no estiolar da realidade...

Carlos Fonseca disse...

Tomei a liberdade de fazer 'link' aqui:
http://solossemensaio.blogspot.com/2011/08/comentadores-politicos-e-crise.html
Obrigado.
CF

Anónimo disse...

E as lojas de bairro e os edifícios queimados? Araques à polícia? Ó Abreu estás a sonhar...