Sem surpresas, a declaração do Eurogrupo e dos ministros das finanças da desunião usa os termos assistência e apoio para se referir a uma intervenção externa que significa a transformação definitiva da União num imenso FMI, à semelhança dos programas de ajustamento dos anos oitenta e noventa, mas sem desvalorização cambial.
Algumas palavras-chave da declaração: “condicionalidade estrita”, ou seja, condições draconianas para empréstimos destinados a evitar ou a minorar as perdas dos credores; “ajustamento orçamental ambicioso”, ou seja, aprofundamento da austeridade recessiva geradora de desemprego, de destruição da capacidade produtiva nacional, de quebra dos salários directos e indirectos; “remoção da rigidez no mercado de trabalho”, sendo a expressão rigidez uma das mais reveladoras, como temos insistido, da orientação ideológica neoliberal destes programas de distribuição do rendimento das classes populares para os mais ricos; “medidas para manter a solvabilidade e liquidez do sector financeiro”, ou seja, todo o apoio à banca sem quaisquer condições; PEC IV como “ponto de partida”, ou seja, austeridade assimétrica permanente. Isto para já não falar do apelo ao esvaziamento da democracia, com exigências de entendimento entre os partidos em torno de um programa retintamente neoliberal.
Perante esta desgraçada economia política, não percebo o que passou pela cabeça de alguns intelectuais de esquerda, que subscreveram um apelo a uma convergência nacional para legitimar esta barbárie, mesmo que tal (des)orientado apelo tenha uma ou outra flor retórica vagamente progressista. Tais flores não resistirão à agreste realidade das políticas públicas que serão adoptadas se esta linha vencer. As esquerdas devem responder à doutrina do choque e do pavor com propostas clarificadoras, que apontem para um saudável rebelião económica das periferias (a Espanha vem a seguir). Só assim se quebrará o consenso dos grupos sociais dominantes no país e na desunião.
sábado, 9 de abril de 2011
Doutrina do choque na desunião
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1 comentário:
O choque do sobreendividamento criado pelo PS abriu o caminho para a entrada do FMI/BCE/CE com um programa neoliberal.
Mas parece que o governo de Portugal já não quer sequer representar o país nas negociações de modo que podemos mesmo chegar à bancarrota, o que garantiria um choque de magnitude bastante superior, abrindo caminho a todo o tipo de consequências, incluindo a destruição das liberdades políticas.
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