quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Não há competitividade no sector privado sem boas políticas públicas



Pedro Santos Guerreiro, no Jornal de Negócios

A pressão para acabar com o pouco que resta da protecção do trabalho na legislação laboral não pára de se intensificar e o Governo já mostrou o seu empenho em cumprir com as "recomendações". A campanha da Comissão Europeia, para além de exorbitar completamente do seu mandato (foi decidido onde que é função da UE promover a "flexibilização das relações laborais"?), tem motivações estritamente ideológicas.

Não é que um apoio das empresas a estas medidas as legitimasse, mas não deixa de ser extraordinário que, num momento em que vários empresários se multiplicam em declarações contra os aumentos da energia, a Comissão Europeia continue obcecada com uma ainda maior precarização das relações de trabalho. E falando de um país em que o despedimento colectivo está à distância de um e-mail. De facto, a única coisa que falta fazer nesse domínio é torná-lo ainda mais barato, coisa que o Governo já pôs em cima da mesa, imediatamente secundado pela UGT(!).

A estratégia de facilitar os despedimentos tem, aliás, efeitos completamente contra-producentes do ponto de vista do ajustamento orçamental que, teoricamente, preocupa a Comissão Europeia. O desemprego é, apenas e só, a variável mais importante na degradação das contas públicas, pelo que significa de riqueza não produzida, impostos não pagos e necessidades de despesa social. Além disso, a depressão da procura provocada pela compressão salarial, associada ao aumento do desemprego e fragilização das posição contratual dos trabalhadores, agrava o ciclo recessivo da nossa economia.

Bem melhor seria que o Governo promovesse a competitividade através da redução dos custos das empresas com a energia. Essa estratégia seria possível se o sector da energia, sendo público como deveria ser, fosse dirigido tendo em conta as necessidades do conjunto da economia. Em vez disso, temos uma empresa privada que usa a sua posição de monopólio para obter margens fabulosas, construídas sobre as ruínas das empresas que abrem falência todas as semanas.

A morbidez intelectual de que se tem falado neste blog tem aqui um dos seus expoentes mais marcantes. O preconceito ideológico contra as políticas públicas e o papel do Estado em sectores estratégicos da economia cega aqueles que enchem a boca com a necessidade de promover a competitividade das nossas empresas. À falta de melhor ou à falta de outra coisa, só querem ser terceiro mundo.

Há alternativas ao beco sem saída que nos propõe a Comissão Europeia. Não há competitividade, não há sector exportador, sem políticas públicas: na energia, nas comunicações, no acesso ao crédito, no apoio à inovação e formação. E não há políticas públicas fortes sem recursos adequados. Quem anda a vender o Estado mínimo, não tem soluções para o Estado, mas também não tem soluções para as empresas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Claro que a UGTide está aberta a negociações.
Mas ela está sempre ( e a adesão á greve geral foi apenas um acidente de percurso).
Isto até mete nojo.
Onde é que alguma vez se viu uma chamada central sindical ( que, aliás, não tem o minimo poder mobilizador dos trabalhadores e foi criada pelo PS só e apenas para acabar com unicicidade sindical - vejam lá se as organizações patronais estão preocupadas, bem ao contrário, com a unicidade deles), estar sempre a ceder.
É mais um exemplo de como o PS se está marimbando para os trabalhadores. É que é preciso não esquecer que o João Proença faz parte da Comissão Politica Nacional do PS.
Estamos todos fartos e cansados de ver e ouvir estes malfeitores todos ( do PS, do PSD e do CDS, e da AIP e da CIP, e do BdP, e do Durão Ranhoso, e de Bruxelas e do FMI e dos tomates...) e mais aqueles economistas que andam sempre, sem descanso, a matraquear que os trabalhadores é que têm a culpa de tudo e mais alguma coisa e que é preciso pô-los a pão e água, quais novos escravos.
A VALENTE PUTA QUE OS PARIU A TODOS ESSES CABRÕES, BANDIDOS.