terça-feira, 9 de março de 2010

Dilema dos prisioneiros


A soma de PECs restritivos é uma enorme recessão. A soma de “esquerdas” moles, adaptativas, conformadas e respeitadoras dos “mercados”, é uma social-democracia europeia incapaz de contribuir para evitar o desastre anunciado.

18 comentários:

João Galamba disse...

Caro José,

deixei-te um contemtário no jugular. quanto a este post: inteiramente de acordo - e não acho que isto seja ocntraditório com aquilo que escrevi.

abraço,
joao galamba

João Aleluia disse...

PECs restritivos? Quais? Não me diga que acredita no Zé Socrates e nos outros lideres europeus.

Não se preocupe, os governos europeus continuarão a esbanjar e a promover expansões monetarias suicidas até termos inflação a mais de dois digitos e até a maior parte do capital ter sido transferido de investimentos produtivos para o consumo das massas.

E com as esquerdas divididas, também não se preocupe, porque quando não for possivel esbanjar mais e economia cair na realizade, lá estarão todos os esquerdistas unidos para inflamarem as massas.

Rogério G.V. Pereira disse...

Julgo que a vossa preocupação se justifica. Apesar da Ana Moura, do Pápa vir a Fatima e do Benfica se preparar para ganhar o campeonato. O reforço dos 3Fs não vai ser suficiente...

Rui Costa disse...

O editorial do Financial Times aborda esta questão de forma muito clara, referindo-se à sugestão alemã de criação de um Fundo Monetário Europeu.

A rebalancing achieved by forcing deficit countries to cut spending alone is an inevitably contractionary process. (...) [T]he German heart beats only weakly, buying very little from its neighbours. This must change, otherwise there will be no forces to counteract the fiscal contractions in the profligate nations.

http://www.ft.com/cms/s/0/33ce9360-2aef-11df-886b-00144feabdc0.html?nclick_check=1

João Aleluia disse...

"...is an inevitably contractionary process."

Pois claro que é, mas é um processo contracionario positivo, é preciso que os governos e os outros agentes economicos parem de consumir mais do que aquilo que produzem. O ritmo actual é insustentavel.

É preciso gerar poupança, pois sem poupança não há investimento.

A maior parte do pessoal ainda não percebeu que a escolha não é entre consumir menos ou continuar a consumir a mesma coisa. A escolha é entre consumir menos agora, ou consumir muitissimo menos num espaço de poucos anos, e enfrentar uma crise economica sem precedentes na historia.

Para mais, a unica maneira de aumentar sustentavelmente os salarios é aumentar a produtividade do trabalho. E a produtividade do trabalho aumenta-se melhorando a qualidade da educação, e com isso ninguém está preocupado.

Rui Costa disse...

João, esqueceu-se da palavra (que aliás destaquei) alone. É perfeitamente possível gerir algum esforço de consolidação orçamental, de forma mais faseada e menos dolorosa, se em contrapartida quem tem uma balança de pagamentos superavitária, dentro da zona Euro, for menos restritivo do que tem sido. Penso que é isso que o editorial do FT quis afirmar. É uma questão de equilíbrio interno da zona Euro.

Bruno Silva disse...

Caro João,

Inteiramente de acordo, tirando isto:

"até termos inflação a mais de dois digitos".

Expectávelmente não chegaremos a este cenário porque as taxas de juro subirão em flecha.

O cúmulo da ironia será que quando isso acontecer e as famílias começarem a ter elevadas dificuldades para pagar as casas e os carros, estes mesmos "Ladrões de Bicicletas", os defensores do despesismo público, inventarão uma lógica qualquer para culparem o "Neoliberalismo das costas largas".

Bruno Silva disse...

Caros Ladrões,

A economia portuguesa é um balde cujo furo deixa sair um fluxo de água superior ao da torneira que o enche.

Caso se tenham esquecido a economia portuguesa é uma economia bastante aberta. Qualquer estímulo ao consumo só agravará o fluxo de saída de água (antigamente representaria queda do escudo, agora da massa monetária). Nestes últimos anos, os níveis de água têm sido mantidos graças a jarros de água que nos serão cobrados no futuro. Não acham que já chegou a altura de abrirmos mais a torneira (produção) em vez do buraco (consumo)?
Acham mesmo que é com aumento de impostos e de despesismo público que se vai atrair investimento produtivo para o território nacional?

Isto é como aquele video de RAP Keynes vs. Hayek.. Se dois copos de vinho (investimento público) animam qualquer pessoa sóbria, levam à ressaca a quem já se anda a embebedar há anos!!

José M. Castro Caldas disse...

Caros João e Bruno:

Bem Say que ainda há quem acredite que toda a oferta cria a sua própria procura, mas isso pressupõe que toda a poupança se transforma em investimento “real”. E já não Say como é que uma inundação monetária poderia dar origem a um aumento da taxa de juro… a não ser que os bancos centrais a decidam, e isso já é outra conversa.

Quer me parecer que a medicina da sangria dá mau resultado… mas (insistência na acusação gratuita de despesismo à parte) prefiro a candura que reconhece desejar uma recessão, à impostura da estabilidade e … crescimento. Mas cuidado, é mais fácil provocar uma recessão monstra do que sair dela.

Os economistas "austríacos" sabem sem dúvida provocar recessões, até as desejam secretamente, mas nunca me convenceram quanto ao método para sair delas.

Bruno Silva disse...

"E já não Say como é que uma inundação monetária poderia dar origem a um aumento da taxa de juro"

Muito simples:
PQ = MV

se M aumenta sem que haja um aumento de Q... P tem necessariamente de aumentar... Como P = f(r)... os bancos centrais vão aumentar r... diminuindo v.. ou seja.. as vossas políticas da treta vão lixar a vida das pessoas... como têm lixado...

José M. Castro Caldas disse...

Ah, “os bancos centrais vão aumentar r”, em que r é a taxa de juro… Bem me parecia que isso já era outra conversa.
E essa educaçãozinha da teoria quantitativa da moeda funciona sempre, como as leis da gravidade? O desemprego e a subutilização da capacidade não interessam nada?
E “nós” é que somos responsáveis pelas políticas monetárias dos últimos 20 anos… Que tipo de economista é (ou era) o Greenspan? Que tipo de Economia reina no BCE? “Agarra que é ladrão” não vale.

Rui Costa disse...

Bruno, isso supõe certamente que a velocidade da circulação da moeda seria estável. O que, tanto quanto sei, vários estudos empíricos contrariam. E não é difícil perceber que a quebra abrupta de confiança dos agentes tenha afectado fortemente essa variável.

O que (talvez) se possa dizer é que, à medida que a confiança dos vários agentes seja recuperada - e não me parece fácil fazer previsões quanto ao retorno a uma certa "normalidade" - poderão ver-se alguns efeitos dessa "inundação" monetária sobre os preços e sobre as taxas de juro. No entanto, estas dependem em boa parte dos bancos centrais - e logo da avaliação que fizerem dos riscos de inflação face à solidez da actividade económica. É sintomático que (até!) o economista-chefe do FMI coloque em questão a adequação do nível de inflação tido até aqui como "desejável".

JP Santos disse...

Acho que se continua a confundir o que a zona euro, no seu conjunto, devia fazer com o que Portugal tem de fazer no actual quadro institucional.
Em teoria concordo que uma união polítca e um orçamento central seriam uma boa solução. Na prática isto significa que conseguiriamos repartir com os outros o nosso problema mas provavelmente mesmo assim todos poderiam ficar a ganhar (teriamos o equivalente a uma melhoria à Pareto). Mas tudo depende dos arranjos institucionais que fossem feitos e, embora os pudesse minorar, não resolveria todos os problemas (veja-se a situação da Califórnia e de outros Estados americanos como o Michigan).
De qualquer modo, na prática, essa solução é politicamente inatingível não só por motivos egoístas e até míopes mas porque há aqui um trade-off com a soberania nacional e a capacidade de manter alguma autonomia para definir políticas económicas nacionais de forma independente. Importa não esquecer que no seio da Europa existem opções diferntes quanto ao peso do Estado e da tributação que teriam que (pelo menos) ser fortemente esbatidas para que essa solução fosse viável. Ora a maior parte dos países não estão numa situação tão desesperada e não aceitariam isso de modo algum.
O que não significa que não considere que a Europa não deveria fazer alterações nas suas políticas (pessoalmente penso que sim), mas apenas que é absolutamente irrealista pensar numa alteração radical do quadro de definição das políticas macroeconómicas e é necessário pensar em medidas de coordenação macroeconómicas que possam ser executadas num quadro institucional similar ao existente.

João Aleluia disse...

1. "É perfeitamente possível gerir algum esforço de consolidação orçamental, de forma mais faseada e menos dolorosa, se em contrapartida quem tem uma balança de pagamentos superavitária, dentro da zona Euro, for menos restritivo do que tem sido."

Em primeiro lugar, actualmente não está a ser feito esforço de consolidação nenhum. Segundo, qualquer esforço de consolidação serio tem que passar por uma redução muito significativa da despesa pública, o que terá sempre um efeito contracionario no curto prazo. Dizer que se pode fazer uma consolidação orçamental sem contração economica é mentir às pessoas.

2.""até termos inflação a mais de dois digitos".

Expectávelmente não chegaremos a este cenário porque as taxas de juro subirão em flecha."

Em condições normais sim, mas na situação actual, se não subirem as taxas temos inflação por imprimirmos dinheiro a mais, se subirmos as taxas temos inflação porque que todas as economias perifeicas da zona euro vão colapsar. Como referiu:

PQ = MV

ou os preços aumentam porque diminui a quantidade ou porque aumenta a massa monetaria.

Depois da expansão monetaria suicida que já vem de trás mas que obviamente se acentuou de forma brutal no final de 2008, e das policas orçamentais despesistas dos governos europeus, que também é um problema que já tem barbas mas que tambem se agravou na mesma altura, já não há nada a fazer a não ser esperar sentado.

3. "E essa educaçãozinha da teoria quantitativa da moeda funciona sempre, como as leis da gravidade? O desemprego e a subutilização da capacidade não interessam nada?"

Primeiro, o desemprego e a subutilização da capacidade não determinam o nivel de preços. Segundo, se há subutilização da capacidade é porque essa capacidade não é rentavel, pois nenhum agente economico gosta de perder dinheiro. Terceiro se há capacidade obsoleta e desempregados, que mais não são do que profissionais obsoletos, é porque não se investe no desenvolvimento tecnologico nem na produtividade do trabalho. Pois ambos estes factores dependem da qualidade da educação, e disso nunca se fala.

É preciso que se compreenda de uma vez por todas que para haver crescimento economico é preciso produzir mais. E só se produz mais se o factor trabalho e o factor capital forem mais produtivos. Ora o factor trabalho só mais produtivo se as pessoas forem mais qualificadas, e factor capital só é mais produtivo se aparecerem novas tecnologias, que por sua vez também são descobertas por pessoas qualificadas. Deste modo, o motor central do desenvolvimento é o factor educação.

Miguel Rocha disse...

João,

A produtividade do trabalho não depende só da qualificação das pessoas. Os meios tecnológicos e a organização empresarial que o trabalhador dispõe também contam muito embora o tecido empresarial português não os goste de referir.

Se estiveres a trabalhar e o teu computador crashar durante 3h a produtividade do trabalho diminui já que: Quantidade produzida/ trabalhador. Ou se preferires: Quantidade produzida/ hora trabalhada.

Para aumentar a produtividade ou aumentas a quantidade produzida (e vendida já agora) ou produzes com maior valor acrescentado já que a produtividade a nível agregado costuma medir-se em unidades monetárias portanto Pxq.

Profissionais obsoletos? O que te torna um profissional obsoleto?

Cuidado com tantas certezas...

A informação assimétrica existe e está no meio de nós...

Cumprimentos

João Aleluia disse...

Sem dúvida que a produtividade do trabalho aumenta com a produtividade do capital, melhor tecnologia, melhores condições de trabalho, etc...

E o vice-versa, a produtividade do capital também aumenta com a produtividade do trabalho, adicionar uma nova tecnologia numa empresa tem um impacto tanto maior quanto mais qualificados forem os funcionarios.

Existe sempre um efeito "multiplicador" no aumento da produtividade de um dos factores de produção, mas isso em nada invalida a minha analise anterior.

Aliás, para melhorar a tecnologia e as condições de trabalho dos trabalhadores é preciso mais qualificação. Essas coisas não se aumentam por decreto governamental.

"Para aumentar a produtividade ou aumentas a quantidade produzida"

É o aumento da produtividade que aumenta a quantidade produzida, não é ao contrário.

O que torna um profissional obsoleto? Um profissional obsoleto é um profissional que já corresponde aquilo que o mercado procura nos profissionais que contrata. Ou seja é uma pessoa que nem consegue arranjar emprego nem trabalhar por conta própria. Ou seja um desempregado de longa duração. E já estou a ignorar aqueles, uma minoria é certo, que não estando obsoletos decidem não trabalhar porque preferem receber prestações sociais a desempenharem as funções que o mercado lhes oferece e receberem o respectivo salario.

Informação assimetrica

É verdade, isto é um problema de informação assimetrica, pois se as massas compreendessem que as elites dominantes lhes negam o acesso à educação e perpetuam a sua pobreza, já se teriam revoltado.

Rui Costa disse...

Em primeiro lugar, actualmente não está a ser feito esforço de consolidação nenhum. Segundo, qualquer esforço de consolidação serio tem que passar por uma redução muito significativa da despesa pública, o que terá sempre um efeito contracionario no curto prazo. Dizer que se pode fazer uma consolidação orçamental sem contração economica é mentir às pessoas.

Em relação ao primeiro ponto, não se está a discutir o que foi até aqui feito mas o que são os planos para o futuro imediato (próximos três anos).

Em relação ao segundo ponto, o que está em causa na mensagem do JMCC é pensar na economia europeia como um todo. E como é evidente, a soma de políticas orçamentais nacionais restritivas terá efeitos contraccionários... para toda a economia europeia! A questão é se tem de ser assim. E a meu ver, não tem. O esforço (necessário) de uns pode ser contrabalançado por uma maior folga de outros, permitindo uma redução do défice mais gradual nos países deficitários, sem impor um período recessivo tão profundo nestes, que de outra forma inevitavelmente acontecerá.

João Aleluia disse...

Mantenho que os planos para os proximos 3 anos não representam esforço de consolidação orçamental nenhum. Nos casos da grecia e da irlanda, se os governos cumprirem o que prometeram, vão apenas endividar-se menos. No caso de Portugal nem isso.

Quanto à questão de se as economias mais fortes da zona euro devia adoptar uma politica orçamental expansionista para atenuar a contração da zona euro como um todo, isso parece-me um erro, ainda que considere que com toda a probabilidade isso venha a acontecer.

Parece-me um erro porque a menos que os países mais fortes da zona euro, sobretudo a alemanha, injectem dinheiro directamente nos países mais problematicos, os beneficios dessa politica expansionista serão muito limitados para os estes países.

Se por outro lado, houver essa injecção de dinheiro (e.g. através da compra de obrigações, ou ajuda directa através de um fundo criado para o efeito), por outras palavras, se os "países ricos" da zona euro pagarem a conta dos PIIGS, que incentivo é que os PIIGS têm para ser responsaveis?

Mesmo que sejam pressionados a conter um pouco a despesa no curto-prazo, daqui por 5 anos voltamos a ter o mesmo problema e ainda mais agravado.

O crescimento economico dos PIIGS há mais de 20 anos que é um "Ponzi Scheme", vão crescendo porque há sempre estrangeiros a meter mais dinheiro. Tal como o Maddoff, isto é insustentavel e um dia vai ter que parar.