domingo, 21 de junho de 2009

É Política Pura, mais nada

Para a Drª Manuela Ferreira Leite há os economistas credíveis e ... os outros. Não tenho de dizer quem são os credíveis, pois não?

Para mim o mais significativo do manifesto dos economistas “credíveis” é virem, precisamente agora, contra o investimento público que está programado. Como não nos dizem agora qual seria o bom investimento público e não disseram antes que estavam contra este investimento público, o que se pode inferir é que são contra o investimento público por ser agora (este ou outro): é tudo despesismo e como estamos pobres temos de ser poupadinhos. O conselho é bom para ser dado lá em casa, mas francamente não vejo em que lógica económica se fundamenta enquanto recomendação para o Estado. Sobretudo agora. Ou melhor, vejo, mas o tipo de lógica em que se fundamente parece-me ser exactamente a que nos trouxe ao ponto onde nos encontramos.

Significativa é a afirmação de que este investimento não cria emprego para portugueses. Investimento na construção que crie emprego para portugueses, se calhar só em Espanha, que é onde os portugueses trabalhavam na construção. Mas quem sabe os economistas "credíveis" espanhóis acham esse mau porque não cria empregos espanhóis. A nacionalidade para os economistas "credíveis" é muito importante quando se trata de emprego, embora, como se saiba, não tenha qualquer importância no caso dos capitais. Ideologia em estado puro.

Os autores dizem falar como economistas. O que querem dizer com isso? A sua opinião política vale mais por isso? A sua opinião não é opinião, mas antes conclusão científica irrefutável? Nem científica, nem irrefutável! É política pura, tão boa ou tão má como qualquer política.

Afinal a Economia é assim: sempre política. Mas por favor não puxem pelos galões de economistas, professores e ex-ministros da economia ou das finanças, para dar opiniões políticas, porque depois de termos visto o que já vimos, a Economia pouco humilde (a palavra está de maré, não é) perdeu… credibilidade.

6 comentários:

Tiago Santos disse...

O mais impressionante é querer dar a ideia de grandeza da opinião por serem 28 economistas. Como se não houvesse alternativa àquilo que dizem e que os seus argumentos apenas pudessem ser desmascarados por um manifesto de 29 economistas...

Tiago Santos disse...

Gosto particularmente da frase: "Investimento na construção que crie emprego para portugueses, se calhar só em Espanha, que é onde os portugueses trabalhavam na construção."

Genial...

João Pedro Santos disse...

O facto de 28 economistas (mesmo quando de diversas áreas políticas) estarem de acordo não significa obviamente que tenham razão. Mas parece-me evidente que o post enferma do erro que acusa os signatários do apelo pois lendo-o pode inferiri-se que o autor é favorável ao investimento público seja ele qual for, até porque em nada contrapõe o que nele se refere quanto aos custos e benefícios dos projectos. Ora, nomeadamente quanto ao TGV, no apelo refere-se que "Os estudos parcelares disponibilizados sobre a sua rentabilidade económica e social (mesmo se baseados em pressupostos optimistas) mostram que a sua contribuição previsível para a eficiência económica do país é muito diminuta, e pode até ser amplamente negativa em termos de Rendimento Nacional.
(...) tais estudos também evidenciam que existe uma probabilidade elevada de que pelo menos na primeira década de exploração não existirá procura suficiente para a rentabilização económica e social de tão pesados investimentos. Irão originar, por conseguinte, prejuízos de exploração significativos, a serem suportados pelos contribuintes (em função do modelo das parcerias público-privadas em que o risco de exploração fica essencialmente do lado do Estado e não dos privados)." E para convencer aqueles que, como eu, não são por princípio contra nem a favor do investimento público o que eu gostaria mesmo é de saber se concordam ou não com esta análise.

João Dias disse...

Aqui está a eficácia do bloco central e do seu lobby. Ainda antes de este manifesto sair, já estava cansado de ouvir comentadores a dizer que o tema central devia ser os grandes investimentos. É exactamente o tema que interessa ao bloco central, porque não se discute política de fundo como: política fiscal, políticas de emprego, políticas para água, políticas para o sistema financeiro, políticas de saúde, políticas para educação... Logicamente que este debate não interessa nem a Manuela Ferreira Leite nem a Sócrates, porque uma nada tem a para propor e outro tem políticas ruinosas para exibir.
Logicamente que os investimentos públicos são importantes, mas o problema não está em debater isso, o problema está em só debater isso e deixar outros problemas estruturais de fora.

No post abaixo denomina-se estes economistas como sendo economistas-problema, eu acrescento, são economistas-úteis e economistas-irracionais. Úteis ao bloco central, ao qual todos pretendem fingir serem alheios mas mal falam de partidos lá lhes "foge a boca para a verdade". E irracionais porque têm uma visão da economia semelhante às poupanças de casa, reagem pró-ciclicamente agravando os ciclos negativos. Utilizam o facto de ser economistas para darem um ar de cientificidade ao que dizem, isso é uma balela. E Keynes que defende o investimento anti-cíclico? Que defende o deficit para combater a crise? Não é economista? Então se vier um grupo criar um manifesto baseado em Keynes, afinal qual das opiniões é científica? A resposta é fácil, nenhuma. Como diz José Castro Caldas, são opiniões políticas como qualquer outra e refutáveis ou aceitáveis como qualquer outra. Estes economistas-úteis-irracionais tem de se habituar que não são os donos da verdade, e esse é um dos poucos factos que se pode tomar como tal.

Anónimo disse...

Bolas, já pensava que não.
Afinal de contas este país sempre tem grandes cabeças, quais sejam, estes vinte e tal economistas.
Grandes cérebros e génios pensantes.!!!
Pena é que, sendo os melhores, os mais competentes (auto intitulados ou assim chamados pela imprensa amiga, claro.)nada tenham feito ao longo de todos estes anos, antes ou depois do 25/4, a não ser cuidarem dos seus egoisticos interesses ou dos amigos.
Eles, aliás, dignos representantes da direita mais obtusa (ela é toda obtusa,aliás) são todos muito amigos.

Osvaldo Castro disse...

Fiz link para o Praça Stephens.
Abraço.