sexta-feira, 24 de abril de 2009

Paradoxos da depressão

Dois títulos do Público: «Desemprego registado cresceu 23,8 por cento em Março» e «Mesmo com maior rendimento, a ameaça do desemprego leva os portugueses a poupar mais». E depois ainda andam por aí umas almas a clamar contra a «rigidez do mercado de trabalho» (muitas aspas, muitas aspas), que supostamente impede os «ajustamentos» da economia. Antes impedisse. O desemprego é hoje um problema de procura, de procura e de procura. Repetir mil vezes e retirar todas as consequências disso. Investimento público. Muito investimento público. E ainda mais investimento público. E controlo público do crédito. É preciso evitar o paradoxo da poupança: o que parece racional para cada agente individualmente considerado – poupar mais devido à incerteza face ao futuro – gera um resultado global de compressão da procura efectiva, do rendimento e no final da própria poupança. A economia da depressão está cheia de paradoxos que só a política pública pode superar.

Como mostra Eugénio Rosa, o governo, apesar dos discursos recentes, está muito atrasado e ainda não é, através do investimento público, parte da solução. Os estabilizadores automáticos não chegam. Por toda a Europa anda toda a gente muito atrasada. Mesmo muito atrasada. É o elo mais fraco à escala global. Coordenem-se. As regras económicas neoliberais da UE, onde as medidas de relançamento ainda não ultrapassavam uns irrelevantes 0,85% do PIB há pouco tempo, têm de ser todas abolidas. Todas. Repito: precisamos de um credor, investidor e comprador de última instância disposto usar todos os instrumentos de política disponíveis e por disponibilizar. Todos. Quanta destruição económica e quanto sofrimento social pode uma construção política tolerar?

17 comentários:

Bruno Silva disse...

"E depois ainda andam por aí umas almas a clamar contra a «rigidez do mercado de trabalho»"

Quanto desse desemprego não se deve a falências, que se devem à rigidez? Se houvesse maior flexibilidade talvez menos empresas acabariam por fechar e os números, no final das contas, não seriam inferiores? Se houvesse maior flexibilidade talvez não haveriam mais pessoas dispostas a correr riscos de investimento o que traria criação de emprego?

Não sei.. deixo para reflexão..

Bruno Silva disse...

Isto não é mais do que um comentário irresponsável de quem não tem responsabilidades de governação.. o dinheiro não nasce.. se você estivesse no "poleiro" o que aconteceria é que assim que passasse a deflação passaríamos para uma hiper-inflação.. entre as duas venha o diabo e escolha..

Por muito que custe, o que devíamos retirar desta crise é que nada do que é fácil é eficaz. Ganhar dinheiro de forma fácil deu problemas, tratar a economia de forma fácil (há desemprego, bloqueia-se o despedimento e o estado cria postos de trabalho, há desigualdades o estado redistribui, há deflação o estado injecta moeda... tudo muito fácil) também não o será..

Apelemos à responsabilidade individual, à criação real de riqueza, ao empreendedorismo, ao investimento em formação, à racionalidade no consumo.. se cada um de nós mudar um pouco nesses sentidos, o somatório de mudanças fará a diferença. Mas para mudar mentalidades é preciso bons lideres.. ou seja.. temos um problema..

Pedro Viana disse...

Bruno,

1) O código do trabalho português possibilita o despedimento colectivo com bastante facilidade. O mesmo não acontece é com o despedimento individual.

2) Nunca foi encontrada qualquer correlação entre facilidade de despedimento e nível de emprego.

3) O que foi encontrado sim, foi que a facilidade de despedimento contribui para a criação de empregos com forte rotatividade e tão baixa remuneração que os que a auferem são considerados pobres.

Obviamente, para além de tudo isto, sobra o mais importante: a dignidade humana. O despedimento é uma forma arbitrária de exercício de poder de uma pessoa sobre outra. É um acto de prepotência, e como tal deve ser desencorajado, obrigando a que a decisão da rescisão dum contrato seja por mútuo acordo.

Bruno Silva disse...

Olhe, você acha que alguma empresa despede porque quer? Que não tem encomendas por que quer? Que se desmobiliza por que lhe apetece incorrer os custos de desmobilização? As empresas desmobilizam-se mais por necessidade do que por ganância, porque se não vão eles vão outros, e se não vão outros, outros criarão outras empresas nos outros sítios e produzirão produtos mais competitivos que eventualmente levarão as primeiras à falência, isto tudo porque o consumidor é que compra os produtos com a relação qualidade/preço que quer..

Você acha que as empresas que não têm encomendas deveriam manter os trabalhadores às suas custas? Arranjar-lhes umas mesas para jogar às cartas? Não há trabalho..

Compreendo a parte da dignidade, mas esse é um problema que TEM de se dirimir à medida que os trabalhadores ganham poder negocial, através da formação, da diferenciação de serviços, da sua escassez pelo aumento do investimento.

pode não haver correlação entre flexibilidade e nível de emprego, mas há certamente correlação entre flexibilidade e criação de emprego nas economias mais maduras, não há correlação com o nível emprego porque são as economias mais dinâmicas as que absorvem mais mão-de-obra estrangeira, o que numa análise fria não é muito bom para os trabalhadores não qualificados de lá, mas dá oportunidades a outros que vêm da miséria...

Nos países nórdicos existe uma elevada rotação, e ao contrário do que diz isso até serve como forma de valorização pois expande as experiências das pessoas como profissionais. Mas lá os níveis de formação são bastante diferentes, esse é o nosso principal problema!

Anónimo disse...

O Paradoxo do João é achar que o Estado pode resolver alguma coisa, para além de minimizar as consequências para os mais necessitados, através dos apoios sociais.

O Estado não tem recursos. Tudo o que pode fazer é taxar, endividar-se ou imprimir.

Qualquer das formas tem o mesmo resultado, que é uma perda do poder de compra (presente ou futuro, dependendo dos caminhos seguidos).

E os keynesianos portugueses que andam há anos a protestar contra o Pacto de Estabilidade e Crescimento, deviam perguntar-se, se por acaso Portugal tivesse entrado nesta crise com um défice de 10%, como é que estávamos agora?

Estávamos falidos pois ninguém mais nos emprestava dinheiro.

Carlos

Bruno Silva disse...

Carlos,
Tem toda a razão..

Mas tenho a certeza que concordará comigo no facto de apesar de não termos o défice de 10% não dá qualquer mérito ao governo uma vez que a despesa de facto aumentou e foi compensada com uma subida dos proveitos, feita até de formas muito promíscuas, e cujos os resultados não se reflectiram no curto prazo mas estão a reflectir-se agora e no futuro com a economia estrangulada e endividada

Anónimo disse...

Lá isso é verdade. Mas o ponto que eu queria deixar é o de que o Estado não pode constantemente gastar mais do que tem. Algo que os keynesianos aqui do blog pensam ser possivel.

Embora reconheça que economistas como o Joãor Rodrigues e outros têm uma preocupação social importante e que faz falta, acho que apelam a muitas politicas erradas, principalmente ao nível da politica monetária e de despesa do Estado.

No fundo, acho que concordamos nos fins, mas discordamos nos meios.

Carlos

Pedro Viana disse...

O apelo do Bruno é tocante. É pena ser totalmente irrealista, tendo em conta a natureza humana. É estranho que nunca teha ouvido falar do conceito de "free-rider". As contradições em que a Direita se mete são patéticas: andaram anos a elogiar o egoísmo - se todos defendessem apenas o seu interesse individual teríamos o paraíso - e a defender que a acção colectiva/coordenada é sempre prejudicial, para agora concluirem que afinal tudo correria melhor se afinal as pessoas actuassem de modo mais... coordenado. Como resolvem o imbróglio? Através da "coordenação espontânea" pelo exemplo! Ridículo...

Se acho que alguma empresa despede por que quer?! O Bruno deve viver na Lua... Quantas empresas não despedem para aumentar os lucros a curto prazo, de modo a maximizar os dividendos? E não, não é inevitável. Para além de outras opções, há uma muita simples: os acionistas, que são quem decide o que "a empresa faz", poderiam muito bem preferir manter empregos em vez de receberem mais dinheiro. O problema não são as empresas sem encomendas. São as empresas lucrativas, cujos acionistas optam pela ganância em vez da responsabilidade social. E elas não faltam por aí... basta atentar aos lucros obscenos de certas empresas. São "necessários"?...

Imaginar que a grande maioria dos trabalhadores alguma vez poderá ser tão necessário que leve uma empresa a pensar duas vezes antes de o despedir é absurdo. Demonstra uma completa ignorância do mercado de trabalho e da dinâmica social.

Quanto à rotação, ela existe, nas países com fraca protecção do emprego, principalmente nos trabalhos menos remunerados, os que necessitam de menos qualificações. Pensar que alguém "cria curriculo" ou "expande a sua experiência profissional" saltando de empregado de mesa do McDonalds para caixa do Continente para atendedor num call-center é ridiculo.

Quanto ao Anónimo, claramente não percebe economia elementar. Claro que o Estado tem recursos. Os mesmos que uma empresa ou um indivíduo. Dinheiro. Gastar dinheiro, seja obtido através duma venda ou de impostos, estimula a produção. O problema actual é que o dinheiro das empresas e dos indivíduos "está parado". "Todos" acham que beneficiam individualmente se não gastarem tanto, mas "todos" também acham que se "todos" gastassem mais um pouco era melhor para "todos". É o chamado dilema do prisioneiro, e revela que há situações em que a acção colectiva, neste caso mediada pelo Estado, é imprescindível em prol do bem-comum, ou seja em prol do bem individual da maioria das pessoas. De qualquer modo, concrdo consigo num aspecto: o Estado não tem tantos recursos como deveria. Eu cá propunha desde já a nacionalização de algumas empresas economicamente estratégicas....

Anónimo disse...

"Quanto ao Anónimo, claramente não percebe economia elementar. Claro que o Estado tem recursos. Os mesmos que uma empresa ou um indivíduo. Dinheiro. Gastar dinheiro, seja obtido através duma venda ou de impostos, estimula a produção"

Voçê é que não percebe economia básico.

Nem percebe o que é o Dinheiro.

o que cria poder de compra não é a quantidade de dinheiro em circulação, mas sim a produção de bens e serviços que resolvem necessidades. Mais dinheiro sem mais produção apenas causa a subida dos preços.

Vá ler uns manuais de economia antes de invocar a ignorância alheia.

Carlos

Anónimo disse...

Eu concordo que muitos investimentos públicos são necessários e desejáveis, quando realizados numa óptica de criar infraestruturas que por sua vez criam valor económico e social.

Agora gastar o "nosso" dinheiro só por gastar, não é estratégia nenhuma.

Para mais, o Estado já está endividado que chegue. Portugal não tem nenhum excedente nem reservas para usar numa óptica contra-cíclica. logo, ou sobe impostos, ou endivida-se ou imprime o dinheiro para pagar as contas.

Agora escolha a alternativa de sua preferência.

Carlos

Bruno Silva disse...

DEPOIS EU É QUE NÃO ENTENDO A NATUREZA HUMANA... ENFIM..

Ponto um:

O conceito que os liberais defendem é o "Self interest" cuja tradução não é egoísmo, a tradução de egoísmo é "Selfishness". Quem faz a tradução para egoísmo é simplesmente um demagogo que quer vencer debates simplesmente pela eloquência e não pela lógica ou racionalidade.

Uma lição de filosofia (Que também interessa à Economia): o Ser Humano actua SEMPRE no seu próprio interesse, agora, a natureza do seu interesse é que pode ser egoísta, ou altruísta, boa ou má, whatever.. O que a realidade nos mostra é que a maioria das pessoas garante prioritariamente o seu bem estar e dos seus familiares do que o dos outros. Você em vez de ter comprado o computador que tem neste momento, ou algumas das futilidades que certamente terá, como todos nós ocidentais, poderia ter dado o dinheiro aos pobres, mas não o fez pois não? Agora, esse facto não esgota que, dentro do seu próprio “self interest" não hajam outros valores altruístas, de solidariedade, de responsabilidade social, mas não são os prioritários, isso só nos santos. E mesmo no campo do egoísmo, existe uma série de acções que nos podem beneficiar individualmente no curto prazo, mas se forem feitas por muita gente estará a comprometer médio e longo prazo do nosso país, ou seja, o nosso próprio, o problema é que nem toda a gente tem essas noções, comprometendo logo o pressuposto de que a acção do indivíduo é sempre racional.
Analise estes cenários…
Cenário A: A empresa A investe num sector e está a ter elevadas taxas de lucro. O sentimentalismo ou “pseudo-humanismo” leva a que se aumentem os impostos, se reivindiquem melhores salários, se baixem os preços.. tudo bem.. no curto prazo todos beneficiam tirando os "porcos capitalistas".

Cenário B: A empresa A está no sector e a ter elevadas taxas de lucro, o que se faz? nada.. deixa-se assim.. o que acontece? Alguém, no seu “self-interest” vê a elevada atractividade do sector e investe nas empresas B e C que passam a ser concorrentes da A. Resultado os preços também diminuem, as taxas de lucro também diminuem, os impostos também aumentam em termos nominais, mas há uma grande diferença: aumenta o número de postos de trabalho, de produção real de riqueza e aumenta a procura por mão-de-obra o que gera um impulso positivo na subida dos salários.

Isto não é teoria, isto também não é a realidade, é a conjugação de ambas.. e basta olhar para o mundo real para se aperceber de que, apesar de poder dar exemplos que a contrariam, são esmagadoramente mais os exemplos que corroboram..

Ponto 2: O investimento envolve endividamento, o endividamento envolve garantias, as garantias envolvem risco, você já se atravessou no banco, seriamente, por mera solidariedade? Já? Obviamente que não.. gostava de saber porque exige isso aos outros…
Ponto 3: Despedem para terem lucros e contratam para terem lucros, o lucro é o motivo do investimento e só um “lírico” é que dirá o contrário. O capital serve-se da mão-de-obra para criar riqueza bem como o contrário, cada um no seu interesse, se um ganha mais é porque é relativamente mais escasso, logo tem mais valor de mercado.. portanto tornar o investimento mais escasso.. diminuindo artificialmente aquilo que o motiva, o lucro, é, a médio e longo prazo, deitar achas para a fogueira e prejudicar, na verdade, os trabalhadores!
Se a lei da procura e oferta não se aplica ao trabalho porque é que nos anos oitenta qualquer engenheiro, advogado, arquitecto, médico, professor, tinha uma vida santa e agora (tirando os médicos) vêm-se lixados para ter um bom emprego, se o tiverem? Escassez/excesso
E quanto ao cenário B.. Não aconteceu isso com a têxtil, ou o calçado em Portugal? Nos anos 80 davam muito dinheiro, nos 90 davam algum, e período anterior à liberalização dos produtos chineses já não davam muito.. porquê? concorrência.. quem ganhou? O trabalhador e o consumidor..

Pedro Viana disse...

Em resposta ao Carlos, aka Anónimo,

"Mais dinheiro sem mais produção apenas causa a subida dos preços."

Não deve ter percebido que eu não defendi que o Estado deve simplesmente começar a imprimir dinheiro, aumentando a massa monetária. Simplesmente afirmei que, numa situação em que empresas e indivíduos preferem não investir nem consumir, levando à depressão da procura, o Estado pode através de impostos acrescidos efectivamente retirar dinheiro "inactivo" a empresas e indivíduos, gastando-o para estimular a produção. Aqui nem se põe a questão de quem aplica mais efectivamente a riqueza gerada, se o Estado se empresas/indivíduos, pois estamos numa situação em que os segundos abdicaram de utilizar (tanto como no passado) essa riqueza para investir/consumir.

Em resposta ao Bruno Silva,

Os liberais aceitam o egoísmo como legítimo. Essa é a diferença relativamente a outras ideologias. Os liberais defendem o interesse próprio, mesmo que este seja egoísta, ao contrário de outras ideologias, que apenas aceitam o interesse próprio como legítimo se este não diminuir o bem-comum.

"E mesmo no campo do egoísmo, existe uma série de acções que nos podem beneficiar individualmente no curto prazo, mas se forem feitas por muita gente estará a comprometer médio e longo prazo do nosso país, ou seja, o nosso próprio, o problema é que nem toda a gente tem essas noções, comprometendo logo o pressuposto de que a acção do indivíduo é sempre racional."

Continua a não perceber o dilema do prisioneiro. Individualmente essas acções egoístas são as mais racionais! Imagine que não executa certa acção egoísta, mas os outros sim. Resultado: "sacrificou-se" para nada. Imagine em alternativa que não executa tal acção, e os outros também não. Resultado: teria beneficiado mais se tivesse executado a acção egoísta, e deixado os outros sacrificarem-se beneficiando-o também. Corolário: a atitude racional, de maximização do interesse individual, leva a que execute sempre a acção egoísta que acha que o beneficia. Não sabe porque o pagamento de impostos não é voluntário?... A única maneira de impedir "free-riders" é penalizando de tal modo os comportamentos egoístas que prejudicam o bem-comum, que o benefício de tal comportamento é completamente cancelado pela penalização. Esta é também a solução para o problema da tragédia dos comuns.

O seu cenário B é completamente desmentido pela realidade. Sabe que, nos últimos 30 anos, "apesar" de as empresas se comportarem cada vez mais de acordo com o cenário B, a parte dos salários (remuneração do trabalho) no rendimento nacional/mundial diminuiu constantemente e de modo substancial relativamente à remuneração do capital? Mas a competição não deveria levar a um esmagamento da margem de lucro das empresas e correspondente quebra na remuneração do capital investido?!... Parece que afinal não... Tão lindas teorias que de nada servem.

É interessante como o Bruno apela à responsabilidade e parcimónia individual, mas depois escuda-se atrás de impessoais mecanismos de mercado ("O capital (...) ganha mais é porque é relativamente mais escasso") para justificar a ganância do acionista e do gestor. Repito: quem detém capital não precisa de ser ganancioso. No limite, não há qualquer razão, a não ser a ganância, para em vez de optar por comprar obrigações do Tesouro, que lhe dão uma remuneração segura mas pequena, preferir comprar acções de empresas que prometem fabulosos lucros em parte através da compressão da massa salarial, da justa remuneração do trabalho.

Não é possível apelar à contenção ao mesmo tempo que se desculpa a ganância.

Bruno Silva disse...

Que bonito, vamos todos não ser "gananciosos" e deixar de investir nas empresas e investir nas obrigações do tesouro.. certamente fará um mundo melhor.. O que raio é que se perde com alguém a investir numa empresa? Os sucessivos governos portugueses têm constantemente aplicado a política do chapa ganha chapa gasta, mal gasta em burocracias e ineficiências, e você diz-me que é preferível que alguém invista no governo do que numa empresa?

Mas quem poupa põe o dinheiro de baixo do colchão? Ou põe no banco para outros investirem? O grande problema não é a falta de liquidez dos bancos e consequente diminuição do investimento? Qual é o mal da poupança sendo que aumenta o investimento que neste momento é sem dúvida a despesa mais desejável?

A mão-de-obra desvalorizou por um motivo.. a velhinha e quase sempre eficaz (não necessariamente a nosso favor) lei do valor determinado pela procura e pela oferta... O Mundo não teve nos últimos anos, fontes enormes de mão-de-obra não qualificada disponível? Obviamente que quem mais iria sofrer eram os ocidentais sem qualificações, isso era inevitável. Mas perdem os ocidentais um pouco do seu nível de vida (que têm sistemas de segurança social e de redistribuição) e ganham
bastante outros seres humanos que estavam na miséria mas que pouco a pouco vão aproximando os seus níveis de vida aos nossos. Isto é a verdade dura e crua, vivemos num sistema de mercado e são estas as suas lei, gostemos ou não. Sinceramente não sei o que será do mundo capitalista quando a pobreza acabar, mas face a esse resultado acho que vale a pena continuar o caminho…

Quer falar no dilema do prisioneiro? cada um pode aplicá-lo ao que quiser.. por exemplo.. entrar numa guerra aberta ao ricos (como se só fosse rico quem fosse desonesto e ganancioso)e à remuneração do capital como se isso fosse ilegítimo.. à primeira vista é vantajoso para todos os pobres.. que eventualmente vão apoiar essas políticas e respectivos partidos, levando a que o investimento diminua, levando a que as pessoas deixem de ter a necessidade de se mexerem para ter uma vida razoável e, à medida que o tempo vai passando, resulta numa manifesta perda de competitividade minando o desenvolvimento sustentável.
Ouça, tudo que está dentro do mercado acaba eventualmente por ficar exposto às suas regras. O preço de mercado de algo não é mais do que o seu REAL valor de mercado, podemos não gostar do resultado, e podemos arranjar mecanismos que de certa forma "corrijam" aquilo que achemos não estar bem, o que tem SEMPRE pontos positivos e pontos negativos, mas isso é tratar da consequência e não da causa. E para tratarmos da causa temos de sair do âmbito do teórico e ir ao âmbito da realidade, porque é aí que as coisas acontecem..

Você não está disposto a pagar mais por ir ao médico do que por ir ao barbeiro? Você não paga mais para ver um concerto dos U2 do que do Zé Cabra? O talento dos U2 não é um activo até mais valioso que qualquer capital? Em última instância, quem faz as escolhas que mexem com toda a dinâmica da rede produtiva é o consumidor, foi o consumidor que comprou os produtos chineses, deixando a china com divisas e nós com t-shirts foleiras e sem liquidez, mas foram as suas escolhas livres, pena é não se ter preocupado com a valorização do seu serviço enquanto trabalhador/agente produtivo para compensar o ganho meramente comercial de curto prazo. E olhe, o preço dos bens depende da proc vs. oferta, a rendibilidade do capital(expressa em taxas e não em termos nominais, o Bloco de Esquerda gosta muito de iludir as pessoas com este assunto, fala sempre em milhões de lucros e nunca em taxas, o que é o que verdadeiramente interessa e acho que não preciso de lhe explicar porquê), também, as matérias-primas idem, acha que a mão-de-obra pode escapar, como se umas pessoas fossem mais ou menos pessoas do que as outras? A dignidade não está de todo nos haveres, havendo certamente um limiar que um estado e direito deverá garantir, mas com essa garantia, com ensino público (tão irresponsavelmente desperdiçado por alunos e mesmo pelo mistério, é inconcebível que se continue a afectar mais recursos a cursos cujo mercado de trabalho está absolutamente lotado e depois haja médias elevadíssimas para cursos de cariz tecnológico, dizendo a estudantes com médias de 12, 13, 14, 15 e até 16 que querem se tornar engenheiros e cientistas, que não há espaço para eles... enfim..), redistribuição fiscal, subsídios de desemprego, acho mais justo que critique quem teve oportunidades e não as aproveitou, antes de criticar quem, movido seja pelo que for, fez algo de positivo, é por esses que devemos começar a mudar o país, e sabe? temos muito trabalho.. porque desses há muitos..

Anónimo disse...

Caro Pedro Viana

Então numa situação de crise,em que há falta de poupança nacional, voçê acha que o Estado deve aumentar ainda mais impostos.

A poupança é essencial, pois é ela que permite a formação de capital que por sua vez financia o investimento.

Para além disso, acha que o Estado é melhor a seleccionar investimentos do que o sector privado? Quer um economia comandada?

O que você propõe são mais impostos e mais endividamento externo. Não me parece que seja uma estratégia muito boa em tempo de vacas gordas, quanto mais numa situação de crise.

Argumentos muito pobres para alguém que insinua que os outros é que são estúpidos.

Carlos

Pedro Viana disse...

Vamos lá ver se nos entendemos: a poupança apenas gera investimento se... fôr investida. O problema actual é que não só os bancos têm restringido o crédito, efectivamente mantendo uma maior fracção da poupança inactiva relativamente à situação anterior, como há também uma menor procura de crédito para investir por parte de empresas e indivíduos. Para agravar a situação, a poupança tem crescido em detrimento do consumo e do investimento directo. O resultado final é que muito mais dinheiro, ou Capital, está hoje inactivo do que anteriormente. A consequência é a diminuição da actividade económica, o desemprego, e ainda maior retração do consumo e investimento. Uma espiral de destruição negativa que apenas a acção colectiva coordenada, pelo Estado, foi e é capaz de quebrar. Não fosse a intervenção do governo americano nos mercados financeiros após o colapso da Lehman Brothers, e, sem exagero, todo o sistema económico mundial tinha colapsado em horas, lançando o caos social.

Que apenas o Estado consegue resolver a crise actual é patente pelo facto de todos, repito, todos, os governos do planeta, independentemente da filiação ideológica, terem e estarem a intervir massivamente na economia. Apenas ideólogos completamente desligados da realidade, e sem resonsabilidades de governação, têm defendido o contrário.

"Isto é a verdade dura e crua, vivemos num sistema de mercado e são estas as suas lei, gostemos ou não."

Não, não são. O mercado pode ser mais ou menos regulado. O mercado pode até existir sem que seja permitida a acumulação de Capital.

"Sinceramente não sei o que será do mundo capitalista quando a pobreza acabar"

Algumas das suas afirmações são de tal modo delirantes, e contrárias à evidência, que só posso concluir estar na presença dum adolescente em plena fase das certezas iluminadas.

O resto do seu comentário não tem nada de original. Obviamente não tem resposta que não a cassete habitual: o mercado resolve tudo, e se não resolve, nada pode ou deve ser feito, porque melhor não é possível fazer e de qualquer modo se fosse feito infringiria a liberdade do egoísta o que é "ilegítimo".

"antes de criticar quem, movido seja pelo que for, fez algo de positivo"

Quem se move pela ganância nada de positivo (para o bem-comum) consegue produzir a longo-prazo. A ganância é uma forma extrema de egoísmo, que por definição (Dicionário Priberam Online: egoísmo = amor exclusivo à pessoa e aos interesses próprios.) raramente contribui para o bem-comum.

Anónimo disse...

Eu nem vou perder tempo em voltar a lhe explicar algo que o Pedro claramente não quer perceber.

Para que saiba, em Portugal o crédito concedido aumentou efectivamente.

Informe-se em vez de debitar o que outros mal informados andam a dizer por aí.

Carlos

Bruno Silva disse...

Antes pensamentos de adolescente do que o pensamento infantil, você sempre que ouve a palavra "investidor" ou a palavra "patrão" cria logo imagem de alguém com corninhos vermelhos, um tridente na mão e um rabo em forma de seta... uma imagem muito adulta.. como se você fosse uma pessoa melhor do que eles.. só não criou tanta riqueza e postos de trabalho.. mas como é altruísta e cheio de boas intenções, antes um mundo cheio de "pedros vianas" do que de Belmiros ou Amorins ou de pequenos e médios empresário "gananciosos" do têxtil e do calçado.. certamente os chineses, indianos, angolanos, brasileiros e mesmo os portugueses, já estariam a viver bem melhor do que o que estão... certamente não haveria fome no mundo e éramos todos felizes...

Quando os economistas começam a achar que a economia faz-se mais de políticas de gabinete do que da livre iniciativa do Ser Humano na busca por uma vida melhor, através claro do esforço, da perspicácia, do risco, da diferenciação, e quando se tenta passar aos indivíduos essa mesma idéia, ignorando os seus erros e faltas de esforço individuais e menosprezando as suas iniciativas construtivas, achando que o que realmente importa é a política A ou B, entra-se um caminho muito perigoso...