sexta-feira, 24 de abril de 2009

Aprender com os investidores estrangeiros

Numa entrevista publicada hoje no Jornal de Negócios, um administrador da Bosh (uma empresa com vários investimentos - e desinvestimentos recentes - em Portugal) responde assim a uma questão sobre a importância do nosso país enquanto destino de investimentos: «Portugal ainda tem custos laborais muito interessantes, comparando com os países vizinhos. Em segundo lugar, oferece mão-de-obra qualificada. Isso é uma boa razão para ficar em Portugal, mesmo se a concorrência de outros países for suficiente para reequacionarmos investimentos. E também temos uma boa relação com o Governo, que dá um sinal claro de como está interessado no investimento externo.» Estas posições não são únicas, reflectem antes a visão que os investidores estrangeiros tendem a transmitir em vários tipos de inquéritos internacionais (ver, por exemplo, o World Investment Report, da UNCTAD ou o World Investment Prospects, da Economist Intelligence Unit).

São três as ilações a tirar: primeiro, a ideia de que é preciso baixar salários para promover a competitividade da economia é sistematicamente desmentida por quem tem a possibilidade de decidir onde localizar os seus investimentos a nível internacional; segundo, parecem já existir focos de competência do capital humano em alguns segmentos do mercado de trabalho que deveriam ser devidamente considerados nos discursos genralistas e pouco riogorosos acerca das debilidades das qualificações dos portugueses; por último - e, seguramente não menos importante - os investidores estrangeiros em Portugal dão frequentes sinais de satisfação sobre o tratamento que recebem das autoridades públicas em Portugal.

Resta saber se há razões para os contribuintes portugueses estarem tão satisfeitos quanto os investidores estrangeiros. Alguém sabe quanto é que se tem gasto em Portugal com a atracção de investimento directo estrangeiro (incluindo despesas orçamentais e quebra de receitas associadas aos benefícios fiscais concedidos)? Alguém sabe quais os benefícios que derivam dessa política de hospitalidade em relação ao capital estrangeiro? Desconfio que não. E, como já aqui referi, há razões para pensarmos que os benefícios muitas vezes anunciados não são tão certos quanto isso. Num momento em que todas as semanas lemos notícias de fecho de fábricas que há poucos anos foram objecto de propaganda (e do correspondente apoio generoso) por parte das autoridades públicas, já vai sendo tempo de exigirmos que as contas sejam feitas.

8 comentários:

Bruno Silva disse...

Atenção.. face à realidade europeia não há muita mão-de-obra qualificada.. podemos é gabarmo-nos de que a que há é bem qualificada...

Mas aqui está a prova de que é preciso mais qualificação e de que isso resulta..

Portanto, toca a cair em cima dos jovens que têm hipótese de estudar, pois têm ensino público construído pelo trabalho dos mais velhos, e não o querem fazer.. Perdendo-se um potencial trabalhador qualificado e que muito provavelmente vai ocupar um posto que poderiam muito bem ser ocupado por um desempregado de 40 ou 50 anos que perde em competição directa com o jovem. Resultado: Mais oferta de mão-de-obra não qualificada (resulta em baixo valor da mesma), menos um trabalhador mais produtivo e mais um desempregado...

Anónimo disse...

Tenho passado regularmente por aqui mas nunca comentei nenhum dos textos e achei que hoje era um dia tão bom como outro qualquer para dar a minha pequena contribuição (válida ou não. Este post aborda duas situações que considero fundamentais: A qualificação da mão de obra e a prestação de contas ou a accountability. Sobre a primeira apenas digo que nem tudo é tão mau quanto parece, nem porventura tão bom como alguns querem fazer parecer. Relativamente à segunda questão: Defendo o princípio de que quem gere o dinheiro deve prestar contas. É inconcebível e inaceitável que tal não suceda. Atenção que a prestação de contas ultrapassa e em muito balanços e demonstração de resultados. Não deixa de ser curioso o frenesim que o País vive com a apresentação do orçamento... pena que não o viva aquando da prestação de contas contas. A questão colocada e bem na necessidade de se perceber quanto é que se gastou com a concessão de apoios a empresas conduz-nos à necessidade imperiosa de perceber por exemplo onde é que se queimaram os milhões dos fundos comunitários (apenas como exemplo). A não prestação de contas lança um clima de suspeita, de boatos... um veneno que mina de dentro para fora o país.

David

Anónimo disse...

Eu acho que deveríamos ter a mão de obra ao preço da Alemã, e que o relacionamento do Governo com as empresas que cá querem investir, deveria de ser o mesmo que o Chavez tem com as que pretende investir na venezuela.

Assim sríamos muito mais bem sucedidos.

Pedro

inês disse...

Acrecento ao que disse o anomino, se ele permitir, claro, a produção chinesa

Anónimo disse...

Inês

Claro que permito. Bem lembrado.

Anónimo disse...

Será talvez melhor, recusarmos o IDE, e ficarmos orgulhosamente proteccionistas, nacionalizarmos tudo.

Aí sim, seríamos felizes.

A Chata disse...

O que o sr da Bosh se esqueceu de dizer foi que, como a Microdoft, a IBM, a Nestlé, a Cadbury, a Intel, a Danone, a Aviva, a British Telecom, a Dell, a Gap e por aí fora, já deslocaram os investimentos para a Ásia já há algum tempo.

O responsável da Microsoft, que tem 6 centros na China, já afirmou que os engenheiros chineses formados nas universidades chinesas estão mais preparados do que os engenheiros chineses que fizeram formação nos EUA ou no UK.

Sonhamos ou quê?

Henry Kissinger em 2003 dizia:
"Se o outsourcing continuar a ponto de despojar os Estados Unidos do seu tecido industrial e da sua tecnologia, então será necessário pensar seriamente sobre o assunto e procurar que a politica nacional crie incentivos que previnam tais consequências"

Anónimo disse...

Lá isso tudo não sei. Sei que não vale a pena trabalhar para ter algo de seu , sei que não vale a pena investir em Portugal. Grande parte do fruto do meu trabalho e investimento será repartido pelas 2 franjas opostas da sociedade : os de cima , que se mexem como peixe na àgua nos meandros da corrupção grande ,políticos , bancos , construtoras e tal ; e os de baixo , que se mexem como peixe na àgua na corrupção pequenina do sistema securitas , subsdiozinho para cá , habitação social para lá , mais um filho dá tanto , um choradinho dá quanto?
Estou pelos cabelos de sustentar os grandes e os pequenos. Iguais nas manhas. È mesmo verdade que os extremos se tocam , pois é.