quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

As hipóteses do keynesianismo ecológico

Eric Schmidt, líder da Google e actual conselheiro económico de Barack Obama, publicou recentemente um artigo onde defende, na linha do programa eleitoral do futuro Presidente norte-americano, um plano público de investimento que aumente a eficiência energética e desenvolva as tecnologias ambientais e as energias renováveis, favorecendo a criação de milhões de "postos de trabalho verdes" ("Financial Times", 2/11/2008). Noutro sentido, sabe-se que só a ExxonMobil canalizou, entre 2000 e 2003, cerca de oito milhões de dólares para financiar as actividades de "think-tanks" neoliberais*. Ignorando toda a evidência científica disponível, estes dedicam-se a desinformar os cidadãos, difundido a ideia de que não existe qualquer fenómeno de aquecimento climático causado pela acção humana. O resto da minha contribuição mensal para o Jornal de Negócios pode ser lido aqui.

A tradição associada a um economista, cuja expressão “no longo estamos todos mortos” é erradamente colada à suposta irresponsabilidade da despesa pública, fornece-nos afinal uma grelha útil para pensarmos e agirmos em nome dos melhores interesses das gerações futuras. Sobre as virtudes do aumento da despesa e do investimento públicos em tempos de crise, ver também Dean Baker e Paul Krugman.

4 comentários:

Anónimo disse...

Felizmente vão aparecendo algumas propostas de solução economica/ambiental por parte dos entendidos.
O Keynesianismo Ecologico, parece ser uma ideia a aprofundar consideravelmente dado poder vir a ser uma aposta chave.
Talvez o problema desta e outras ideias seja, depois, a dificuldade para pôlas em prática, dado que tem custos altos, e o capitalismo foge de custos como o diabo da cruz, ainda por cima num tempo de crise profunda que só agora se iniciou estando portanto nas suas primeiras fases, o receio de investimentos nos empresarios ou paises nestas materias é enorme.
Podemos tomar como exemplo o Ocidente que limita-se a injectar mais dinheiro ficticio na banca apodrecida. Ou ainda a China, que so pensa nas pontes e caminhos de ferro ou ainda no aumento do consumo. (virou-se para o seu umbigo e paises à volta (africa))
No fundo, a competição inerente ao capitalismo desenfreado desta globalização, dificilmente tenderá a preocupar-se com as externalizações positivas dado que diminue a capacidade concorrencial de quem as produz, o que poderia levar a deixarem-se ficar para trás, num mundo onde mais que nunca muitos (empresas e paises) poderão difinhar a nivel concorrencial.

Torna-se portanto necesário acrescentar ao consenso mundial (G20) muita CORAGEM e REALISMO, para pôr no terreno as reformas necessárias e totalmente inadiaveis, perante a evidente catastrofe económica/ambiental que se avizinha.

Na minha modestia, simples mesmo, opinião esta é uma supercrise que junta duas (economica+ambiental)e onde se começa a ver que injectar por injectar dinheiro não é a solução.
È preciso um modelo novo...ideias novas, e essas tal como o dinheiro na economial real, anda muito dificil de aparecer.

António Lage

L. Rodrigues disse...

George Monbiot escreve um artigo pessimista. De acordo com o painel internacional para as mudanças climáticas, estima-se que seja preciso a total descarbonização da produção energética lá por 2050, para evitar uma subida de 2 graus. E isto sendo optimista.

Acontece que o esforço para produzir os meios e a infraestrutura necessários, será largamente alavancado nas formas de energia actual. O que levaria a um disparar das taxas e emissões no curto prazo, o que por sua vez encurtaria o prazo para implementação das reduções necessárias.

A alternativa é uma redução drástica, na ordem dos 10% anuais durante 5 anos, do consumo de energia. ISto é largamente impensável, pois implica uma letargia económica incomportável, social e políticamente.

E no entanto, neste panorama, não fazer nada é ainda e sempre a pior das soluções.

José M. Sousa disse...

O artigo de monbiot não é pessimista nem optimista, baseia-se simplesmente nos dados científicos mais recentes que são deveras preocupantes.

Entretanto, escreveu outro artigo sobre o mesmo tema.

Lester Brown, do Earth Policy Institute, também alerta para a necessidade de uma transformação com a urgência de uma mobilização para uma guerra em grande escala

Nuno disse...

Olá a todos, antes de mais é bom encontrar mais leitores do G.Monbiot que é sempre muito eficaz em provocar debates.

Concordo com o António Lage quando diz que é díficil lidar com uma "tempestade perfeita" de factores ambientais e económicos que inflaccionaria preços da energia e de alimentos, vindo tudo o resto atrás- é este urgência que importa ter presente mas sem alarmismos.

Como o L.Rodrigues também interpreto o texto do Monbiot como pessimista mas algo pragmático também. Só discordo totalmente na questão da insensibilidade das pessoas face a desafios drásticos- eu acredito que quando está muito em causa é possível organizar vastos números de pessoas num objectivo comum e a história dá-me razão.

O esforço de que se fala aqui é no sentido da conservação e redução, que Monbiot descreve como inviáveis economicamente.

Eu acho que são inviáveis neste modelo económico, e que urge encontrar uma nova solução estrutural inteiramente nova, a transição não seria fácil mas não é caso para cenário catastrofistas.
A maior parte dos governos já reconheceu que algo está diferente.

É por isso, como diz o José Sousa, que urge uma acção coordenada e motivada por um grande número de pessoas (na era da internet não é assim tão difícil).
Umas das "wartime initiatives" fundamentais é o racionamento voluntário de energia (uso de transportes públicos e\ou sem combustíveis p.e.), os "victory gardens" (40% dos produtos alimentares dos EUA em tempo de guerra eram cultivados em subsistência) e o restabelecimento\reforço de redes locais de interajuda (como os bancos de tempo, mercados de troca e distribuição de excedentes).

Essencialmente isto tem de partir de iniciativas de cidadãos e de uma visão optimista do futuro.

Respondo aos interessantes links com este outro, de repsosta ao artigo do Monbiot pela pensadora que ele refere:

http://sharonastyk.com/2008/11/25/george-monbiot-is-arguing-with-methat-has-to-be-good/