sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A turbulência financeira não é natural


Keynes é sobretudo conhecido pela sua concepção «activista» da política económica: «servem de muito pouco os economistas que se limitam a dizer que depois da tempestade vem a bonança». Procura e liquidez são os dois termos chave. São menos conhecidas as suas ideias sobre a importância da existência, à escala nacional e internacional, de mecanismos de controlo dos desvarios da finança. Taxas, controlos de capitais ou um credor internacional de última instância eram parte do esforço de reconstrução de uma ordem económica internacional próspera depois do fracasso do laissez-faire. No pós-guerra algumas das suas ideias foram aplicadas e foi em parte por isso que, até aos anos setenta, praticamente não tivemos crises financeiras de grande dimensão. Robert Wade da London School of Economics, para mim um dos melhores economistas do desenvolvimento, defende ontem, em carta publicada no Financial Times, que enquanto as propostas sobre a reforma do sistema financeiro internacional se limitarem a apelar vagamente à transparência (Gordon Brown), as crises continuarão a repetir-se. O que é preciso, defende, é criar mecanismos que generalizem, em caso de crise, o que a Malásia fez, com sucesso, na crise de 1998-1999: aplicar controlos de capitais que «ponham grãos de areia nas engrenagens [demasiado] bem oleadas da finança» (James Tobin). As boas experiências da China ou de Tawain nesta área também são mencionadas. Dani Rodrik da Universidade de Harvard parece concordar.

2 comentários:

Tiago Tavares disse...

Não sei até que ponto a China é um tão bom exemplo. Na minha opinião o ímpeto planificador chinês tem sido errado uma vez que o excesso de poupança e consequente acumulação de reservas não é devidamento canalizado para as populações via aumento do consumo destas. O crédito não se expande para o consumo e pequeno empreendedor, o acesso a bens imoprtados mais baratos está fora de questão devido a um yuan excessivamente fraco, salários estagnados pelo controlo fino do excedente de trabalho rural e enviesamento para o desenvolvimento industrial.

Os resultados esses são inegáveis. A desigualdade na distribuição do rendimento a aumentar e na minha opinião perigosamente elevada; a parte do consumo no PIB em queda livre, assim como a parte dos salários no produto que é incrivelmente baixa sendo MENOS DE40% (por amor de deus); inflação de activos (pressão imobiliária por exemplo em Xangai); e recentemente inflação nos bens de consumo. Parece-me que o modelo de desenvolvimento não está a ter grandes efeitos no seu único objectivo. As populações (especialmente as mais desfavorecidas - rurais).

João Rodrigues disse...

Caro Tiago,

Alguns dos seus pontos são certeiros, mas a questão de Wade prende-se apenas com os mecanismos de controlo de capitais. Como sabe a China evitou a crise asiática também por causa destes (Krugman dixit). Quanto ao consumo, acho que, apesar de tudo, a sua importância para o crescimento chinês é subestimada no discurso público, mas não tenho dados à mão. E agora está toda a gente a rezar para que o mercado interno chinês faça o trabalho de reboque da economia mundial. A seguir com atenção.