quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Será que o elo mais forte também poder ser o mais fraco?
Para além do aumento da instabilidade, uma das consequências mais nefastas dos processos de liberalização financeira, com o correspondente reforço do papel dos mercados financeiros internacionalizados e dos seus agentes, foi a reafirmação dos interesses dos proprietários que passaram a ter mais mecanismos para captar o «valor» criado nas empresas. Julgo que esta é uma das principais explicações para o aumento das desigualdades salariais (resultado do esforço dos accionistas para «alinhar» os interesses dos gestores e quadros de topo com as suas prioridades), mas também para a quebra generalizada do peso dos salários no rendimento nacional (resultado da pressão para a compressão dos salários dos restantes trabalhadores por forma a «criar» cada vez mais «valor para o accionista»). Isto tem mecanismos «micro» e «macro»: a ameaça permanente e credível de fuga de capitais reergueu o famoso «muro do dinheiro» que dificulta ou sabota as reivindicações salariais e os projectos políticos igualitários. Nas discussões à esquerda dá-se muita atenção à abertura comercial e pouca ao poder da finança e à sua «liberdade» excessiva de circulação. A crise financeira, ao abrir de novo a discussão sobre o papel e a natureza de um sistema financeiro agora fragilizado pelos seus desenvolvimentos internos, poderia também ajudar a eliminar, se se introduzissem reformas profundas na suas estruturas, muitas das causas dos actuais desequilíbrios entre o capital e o trabalho.
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2 comentários:
Nenhuma liberdade de circulação é excessiva, meu caro João...
Quando se fala de dinheiro, está demonstrado que pode ser desastrosa.
Caro Pedro Sá. E não faltam exemplos empíricos da eficácia da sua restrição.
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