quarta-feira, 18 de julho de 2007

A Esquerda Socialista e o Problema Ambiental


A esquerda socialista negligenciou, durante décadas, os problemas ambientais. A fé no progresso e no rumo certo da História, aliada a uma excessiva desvalorização desta agenda face à contradição maior do capitalismo, a de classe, explicam este tardio «acordar» para o problema. No entanto, é inegável que foi graças a esta esquerda que as questões ambientais entraram na arena política. Sobretudo depois da criação dos partidos «verdes» no final dos anos setenta.

Hoje, as bandeiras ambientais fazem o quase consenso do campo político socialista. Contudo, fruto da derrota do «socialismo real», muitos têm sido os que entendem as actuais e iminentes tragédias ambientais como o prenúncio do fim do capitalismo. Já que a luta de classes parece ter falhado neste desígnio histórico, o Ambiente aparece como o novo «sujeito histórico» (?!) para a transformação social. Tal perspectiva, herdeira de quem sempre viu o fim do capitalismo ao virar da esquina, é muito ingénua. A capacidade do capitalismo de distribuir assimetricamente os custos sociais dos problemas ambientais é notável.

A recente discussão sobre o uso do etanol como combustível é paradigmática. A substituição dos combustíveis fósseis por combustíveis biológicos (teoricamente menos agressivos para o ambiente) estão já a resultar numa subida do preço de bens alimentares (como o milho), essenciais para muitos dos países mais pobres. As recentes revoltas no México mostram como a boa consciência ambiental norte-americana é feita à custa da fome dos mexicanos. As contradições não mudam…

Como o «The Economist» afirmava há algumas semanas: «Castro tinha Razão» - Fidel foi dos primeiros a alertar para o fenómeno acima descrito.

4 comentários:

L. Rodrigues disse...

Essenciais para muitos dos países mais pobres e não só.
Recentemente vi algures, não sei precisar onde, que um "chicken mcnugget" tem 32 ingredientes, 17 deles derivados do milho.

Outro dado: a meta de 7,5 % que creio ter sido anunciada por Bush para quota de Bio Diesel no consumo de combustíveis americano, implicaria desviar TODA a produção de milho e soja Americanos para esse fim.

Entretanto, o preço da cevada aumentou, afectando a cerveja, e o trigo também, afectando as massas italianas..

Diogo disse...

Os combustíveis biológicos são um atentado à humanidade. Precisamos urgentemente de novas tecnologias.

FeminineMystique disse...

é tirar comida do prato para pôr nos depósitos dos carros...

José M. Sousa disse...

sobre o etanol

http://pdf.wri.org/policynote_thirstforcorn.pdf

e a destruição do capital natural:

http://pdf.wri.org/restoring_natures_capital.pdf