quinta-feira, 26 de abril de 2007

Sem investimento não há crescimento (III)

Em vez do não aproveitamento integral do próximo quadro comunitário de apoio, desconfio que outro problema (mais pernicioso?) se avizinha. Devido às restrições orçamentais e à necessidade de aproveitamento deste quadro comunitário de apoio, o Estado ver-se-á obrigado a recorrer às parcerias com o sector privado no financiamento dos seus projectos de investimento. Contudo, tais parcerias só serão possíveis se a rentabilidade destes estiver assegurada. O critério de aprovação dos grandes investimentos passará então a ser este, em detrimento desse outro critério que é o interesse público. O caso do aeroporto da Ota parece já introduzir este paradigma. Através da privatização da ANA (empresa que gere os aeroportos nacionais), o capital privado envolvido na construção do aeroporto captura as lucrativas rendas de um sector em crescimento, onde não existe competição.

Ao contrário das ideias feitas de empreendedorismo, risco e inovação que hoje se difundem como apanágio do capital privado, o capitalismo português mostra a sua natureza emergente: a de um capitalismo rentista, alimentado pela privatização de serviços públicos onde a concorrência é difícil ou impossível.

7 comentários:

Hugo Mendes disse...

Portanto a ausência de competição sob a propriedade do Estado é boa, a ausência de competição sob a parceria público-privado é má, é isso - mesmo que isso leve, eventualmente (estas coisas medem-se empiricamente) a uma melhoria da eficácia dos serviços (que sabemos, sob a acção do Estado, é verdadeiramente notável! :)).

A. Cabral disse...

E' o "bom" exemplo das autoestradas repetido.

alexandre disse...

Eu nao percebo nada de economia, gestao ou politica economica. Na minha percepcao de leigo, a gestao publica tem como prioridades fornecer um servico publico ao utente e manter a sustentabilidade do funcionamento do servico. A gestao privada ssem regulacao no sentido contrario tem como prioridade o lucro a qualquer custo segundo a legalidade, essa e' a Meta bem explicada no livro "The Goal" de Eliyahu M. Goldratt.
Penso eu de que...
Penso eu de que...

baldassare disse...

Transformar o estado em um serviço quase privado é das coisas mais estúpidas que se podem fazer.

-Cria mau ambiente entre funcionários,
-O estado arrisca (sem ter necessidade),
-Esquece-se o interesse público

e no final de tudo, não existe concorrência, como existe entre empresas.
Ou seja, um estado privatizado fica com o pior das empresas (os aspectos que mencionei acima) e com o pior do estado (a auxência de concorrência).

No final, ninguém fica a ganhar: Os funcionários públicos ficam piores; Os consumidores continuam a não ter mercado de concorrência perfeita.

Para quê?

baldassare disse...

a.cabral:
esse das scuts ainda foi melhor...
O estado constrói, o estado paga.
Mas quem é que gere e fica com os lucros? Uma empresa. Tudo em nome de um serviço melhor. MAS QUAL SERVIÇO MELHOR? Até parece que o estado não conseguia fornecer um bom serviço em portagens (parece-me fácil) e obras (o estado faz muitas...)!
Cambada de estúpidos!

João Rodrigues disse...

Tem razão Alexandre.

Onde é que estão os estudos que provam isso do aumento da eficácia? Estamos no domínio da convicção.

Claro que sim: o fim da concorrência é o objectivo do sector privado. Só assim os lucros estão garantidos. O Estado contribui para acentuar certos traços do sector privado ajudando à reconstituição de grupos de natureza monopolista que capturam estes e outros sectores (ver saúde...) e até os seus agentes políticos...

O Estado deveria separar claramente domínios de actividade governados por lógicas diferenciadas. O monopólio público (ao contrário do privado) pode ser virtuoso. Tenha este funcionários qualificados, com carreiras prestigiadas e enquadrados por uma ética de serviço público. Coisas cada vez menos valorizadas em Portugal.

Convicções...:)

João Rodrigues disse...

Tem razão baldassare: "Transformar o estado em um serviço quase privado". É isso o «mimetismo mercantil». Ver David Marquand, Decline of the Public, para uma análise critica da experiência inglesa que nós procuramos imitar.