A TAP é uma rara grande empresa controlada nacionalmente, ainda para mais uma importante exportadora que assegura ligações às comunidades nacionais. A atitude complacente de Susana Peralta em relação ao seu destino é tributária da míope lógica neoliberal que, em nome das sacrossantas concorrência e soberania do consumidor, tem levado ao desmantelamento da capacidade produtiva do país: da Cimpor à PT. Peralta pensa na UE como se esta fosse os EUA e parece resignada com a periferização a que as tendências do capitalismo, no quadro de regras europeias enviesadas e interpretadas por fanáticos do mercado único, votam um país desprovido de política industrial.
Obviamente, o pirata da Ryanair não é do agrado de Peralta, mas pelos vistos também não o é um Ministro, Pedro Nuno Santos, que não partilha da complacência que favorece objectivamente o tal pirata. Conclui que o tom dos argumentos por refutar, de resto com saudáveis implicações soberanistas, do Ministério prejudicam a “nossa reputação colectiva”. Sim, a reputação do bom aluno euro-liberal de mestres europeus cada vez mais medíocres tem produzido resultados maravilhosos. Duas décadas de estagnação e de periferização não bastaram? Pelos vistos, não.
Vá lá perceber-se porquê, lembrei-me que não é por acaso que um dos segredos dos Estados desenvolvimentistas asiáticos foi não deixar a elite tecnocrática ser influenciada pela economia neoclássica, com as suas ficções das vantagens comparativas estáticas: nesse sentido, é preferível ter engenheiros em vez de economistas convencionais a influenciar a condução de países com instrumentos de política e vontade de os usar para trepar na hierarquia internacional. Estamos muito longe disto, desgraçadamente.
4 comentários:
"A TAP é uma rara grande empresa controlada nacionalmente, ainda para mais uma importante exportadora que assegura ligações às comunidades nacionais."
Só isto bastava para justificar transferir 3, 5 ou 10 mil milhões de euros para a TAP. O que for necessário.
a parte das ligações as comunidades é brutal.
Os senhores ainda não perceberam que o dinheiro haverá de ser, sempre, "transferido'. Restará saber se para a TAP se directamente ao bolso de um qualquer incontrolável pirata, contratado para prestar o serviço público (que a TAP deixasse de cumprir) numa rentávele ruinosa PPP.
Acima de tudo, aquilo contra o que Peralta se insurge é a fanfarronada daqueles que não têm mais do que argumentos e por isso são incapazes, como dizem os franceses, de os levar 'jusqu' au bout'...
A lembrar as entradas de leão com saídas à Syriza que caracterizam as tomadas de posição de uma boa parte da Esquerda Portuguesa. Inclusive, desgraçadamente, do economista Pedro Nuno Santos, que é um bom gestor exceto quando resolve abrir a boca, e este último exemplo nem sequer é o mais grave, não esquecer a forma como tratou o acionista privado da TAP no passado.
A soberania, João Rodrigues, vai muito para além da retórica...
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