quarta-feira, 28 de abril de 2021

Vacinas: a urgência de levantar patentes


Três importantes e internacionalmente consideradas economistas apelam ao levantamento das patentes. O texto (aqui) é breve e aconselho a leitura. No essencial, argumentam que é falso que as patentes tenham sido essenciais para estimular uma descoberta mais rápida das vacinas, que a maioria do investimento foi público, que as companhias farmacêuticas estão a ter lucros sem paralelo e que (o mais importante) a queda das patentes permitiria aumentar significativamente o ritmo de produção global.

Um dia olharemos para trás e veremos como o fanatismo do mercado na gestão das vacinas à escala global causou uma escassez desnecessária e, mais importante, custou vidas.

O apelo de levantamento das vacinas não é um apelo de hoje. Desde o início da pandemia que os países em desenvolvimento, como a Índia, apelam a uma quebra de patentes como única forma de um combate atempado e robusto à pandemia nesses países. Fica a questão: quantas vidas dos que hoje morrem à porta dos hospitais indianos poderiam ter sido salvas se esses pedidos tivesses sido atendidos? Um dia, talvez alguém também se devesse dedicar à contabilidade dos mortos do mercado livre.

Hoje, o parlamento europeu vota uma iniciativa que pretende que a União Europeia se coloque ao lado desta posição de elementar justiça social e de direitos humanos, que conta com amplo apoio internacional, incluindo no seio da OMS.

Estejam atentos às votações. Temo que tenhamos surpresas desagradáveis daqueles que gostam de propalar o europeísmo, a cooperação internacional e os direitos humanos.

6 comentários:

Jaime Santos disse...

O Público noticiava aqui atrasado que a Rússia, País que vacinou uma percentagem da população inferior à Portuguesa, produzia as sua própria vacina em Países como a Coreia do Sul (6 milhões!!) e a Índia. Está bom de ver que aqueles que falavam da superioridade do modelo russo e das alternativas às farmacêuticas (incluindo neste espaço) estavam a dar um passo maior do que a perna.

O problema, Diogo Martins, está ao nível da capacidade produtiva e do know-how, mais do que ao nível da quebra das patentes. Não adianta nada fazê-lo para dispor de vacinas para daqui a um ano.

O mercado pode ter muitos defeitos mas a produção centralizada deu no que deu, ou seja, falhou de alto a baixo. Mas rasgar as vestes em tom de escândalo não custa nada, não é?

Anónimo disse...

Vivemos tempos onde os valores da vida são postos de lado a todo o momento,o caso da tragédia de Reguengos de Monsaraz(cerca de duas dezenas de mortos) já foi "branqueado" e o responsável pela instituição "premiado" pelo Governo,propondo-o a candidato a capital do Alentejo,revoltante para quem perdeu familiares e amigos.

Anónimo disse...

Mercado livre...? Livre de patentes?! Como é que o problema é do mercado livre e não das regras em relação às patentes (monopólios)?

Jose disse...

Basta fazer as contas ao número de vacinas que já estão em algum lugar aceites para uso público para saber-se que a capacidade mundial de produção de vacinas em condições de qualidade deve estar em vias de se esgotar - pressupondo que tudo o mais na actividade laboratorial e de produção de medicamentos não é para parar.

Os investimentos públicos foram compras antecipadas, tanto quanto se sabe.
Naturalmente que quem nada investiu estaria disposto a usufruir à borla do resultado, ou não fosse esse o verdadeiro espírito de esquerda!

Francisco disse...

Há seguramente muitas e diversificadas explicações para o facto de o conjunto e indivíduos a que chamamos Humanidade, manter no seu seio práticas que, sendo objectivamente contrárias aos interesses naturais da sua esmagadora maioria, são, por isso mesmo, inequívocamente aberrantes. Poderiam chamar-se à colação os mais diversos exemplos que confirmam a persistência de tais aberrações no seio dos humanos (o João Rodrigues já falou aqui neste blogue, por diversas vezes, numa pornoriqueza abjecta, que convive paredes-meias com a miséria mais insuportável), mas concentremo-nos apenas nas vacinas. O mundo vive uma situação de calamidade sanitária, que apenas poderá ser sustida quando uma parte importante da população mundial vier a ser vacinada. Neste momento - e correndo o risco de uma discreta imprecisão - o número de vacinados andará pelos 3%. À relativamente pouco tempo, o primeiro-ministro britânico, terá sido surpreendido numa conversa em que enunciava os dois pilares que no seu entender suportaram o sucesso da vacinação no seu país: capitalismo e egoísmo. Estas duas palavras, só estas, encerram uma síntese notável de todo o programa político-económico em torno da vacinação. Mas perante isto e face a uma proposta de três economistas - cujas vozes se juntam a muitas, mas mesmo muitas mais, um pouco por todo o mundo, os nossos sempre atentos Jaime Santos e José só têm uma apreciação para fazer: Vêm aí os Russos. E pronto, concluo regressando à afirmação inicial: há seguramente muitas e diversificadas explicações para o facto de o conjunto e indivíduos a que chamamos Humanidade, manter no seu seio práticas que, sendo objectivamente contrárias aos interesses naturais da sua esmagadora maioria, são, por isso mesmo, inequívocamente aberrantes; entre tais causas e como se vê até empiricamente, teremos que incluír a cegueira sectária de quem, tal como D. Quixote, ainda não conseguiu perceber que todos os dias há quem semeie moínhos de vento diante dos seus olhos e lhe repita baixinho ao ouvido: _Vá lá rapazinho, toca a combater o monstro mau, tal como eu te ensinei.

khaostik disse...

Quanto mais tempo o mundo estiver sem vacina mais provável é haver uma mutação que seja precisa outra vacina.