segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Candidato ou PR?

Os novos tempos não precisam de meias pessoas. 

A situação do país está demasiado  condicionada e fechada, quase condenada à estagnação e à desigualdade, à violência e explosão emocional gerada por essa desigualdade que precisa de gente menos preocupada com a sujidade dos punhos de renda e que olhe o futuro de frente, não através do retrovisor. 

Marcelo Rebelo de Sousa fala facilmente, mas alguém sabe o que pensa sobre os grandes assuntos? Esconde metade do que pensa na metade da vida que é visível. Não é claro, não é sincero, não é frontal. Em cada evocação de um princípio básico esconde uma agenda própria.  

É por isso que, quando confrontado com questões difíceis e essenciais, se esquiva, se refugia em Belém, usando geralmente, à vez, dois argumentos (como foi possível ver na entrevista dada à TVI): 

Primeiro: "o candidato só pode dizer aquilo que o pode dizer o Presidente da República que é. Eu sou PR e depois sou o candidato a uma reeleição. E o PR já disse o que tinha a dizer". Segundo, o PR não comenta. "Já fui comentador durante muitos anos, várias décadas. E gostei muito. Mas agora fui eleito para decidir. E para ser comentado". 

Se Hitler chegasse a Portugal, consagrasse os sagrados princípios nacional-socialistas portugueses (PNSP), mas evocasse na rua a estigmatização racial e a defesa progressiva da solução final, Marcelo Rebelo de Sousa não faria nada, porque estaria já a pensar como é que uma nova maré de deserdados que opte pela extrema-direita violenta poderia recentrar o espectro da política à direita e revelar a civilidade de uma direita tradicional pouco interessada em resolver os conflitos sociais do país, mas mais em mantê-los, ao apostar nas velhas "soluções" de redução dos custos salariais que acarretam consigo a subjugação sindical. Como em França, o povo português passaria a escolher entre a direita e a extrema-direita. E tudo ficaria igual. 

Se fosse questionado sobre esse facto, adoptaria a táctica usada na entrevista à TVI:

- Vê algum problema constitucional nas posições que o [PNSP] tem assumido? 

- Quem tem que ver é o ...

O entrevistador começa a enumerar as diversas posições e declarações políticas dessa organização. Mas Marcelo Rebelo de Sousa não se demove e continua onde parara: 

- ... é o Tribunal Constitucional. O Tribunal Constitucional é que tem de ver, tem de julgar. Sabe, o processo hoje é muito claro: Ministério Público pede, o Tribunal Constitucional decide. 

- Mas o senhor é constitucionalista...

[a Constituição da República Portuguesa, que o PR jurou cumprir e fazer cumprir, determina no seu artigo 46º que "não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista"]

- Sou constitucionalista, mas sou PR. Portanto, não me posso esquecer que sou PR. E o PR usa os seus conhecimenros constitucionais para o exercício da sua função. Não para comentar. (...) Eu não posso descriminar por razões de simpatia ou antipatia um partido e os deputados desse partido (...). Nem os eleitores. Quando digo que sou o presidente de todos os portugueses não sou de todos menos 10%, não sou de todos menos 15%. 

Hitler agradeceria e continuava a militar em Portugal. E Marcelo sorriria quando o visse a rondar o poder, sem se aperceber que a História o estava julgar, não pelo que tinha evitado dizer, mas pelo que não fez.   

5 comentários:

Monteiro disse...

Marcelo é um ideólogo da burguesia (decadente) e por isso argumenta sem se imiscuir muito nas contradições da sociedade, procurando transmitir afetos aos mais desfavorecidos julgando que com esses gestos humaniza o Estado só que neste jogo o Príncipe é ele próprio mais o Estado que representa.

Anónimo disse...

O projeto ch*ga é o bolsonarismo à portuguesa.
Veio para explorar o descontentamento provocado pelas austeridades, tanto a hard do PSD, como a soft do PS.
Portanto, veio explorar a miséria que a direita provocou.
Nada de novo: Le Pen, Trump, Bolsonaro fizeram todos a mesma coisa.
O que irrita é o teatrinho, que faz de conta que não simpatizam com aquilo, mas estão continuamente a promover a coisa, dando-lhe uma importância que nunca teve.
O deputado que elegeu não é mais que o resultado da desintegração do CDS, mas todos agem como se fosse o próximo primeiro-ministro de Portugal
Faz-Vos lembrar alguma coisa?

Manuel Galvão disse...

O Sr. Sousa (como diria hoje AJJ) está a preparar-se para, no próximo mandato como PR, assumir a liderança da recauchutagem a Direita portuguesa.
E ainda há socialistas que torcem o nariz à candidatura de Ana Gomes, e preferem botar no Sr. Sousa... talvez tenham razão, se forem os saudosistas do Bloco Central...

Anónimo disse...

Acho que boa parte dos apoiantes do partido da extrema-direita racista, vem do PSD, e tem a cobertura do Passos Coelho.

Pedro Aires de Sousa disse...

Por quem o conhece, https://www.facebook.com/714824985289647/videos/728956647209814