sexta-feira, 19 de julho de 2019

Ideologia maligna

Isto de ver videos antigos leva-nos muito longe.

Passaram 50 anos sobre esta imagem. O presidente da República, almirante Américo Tomás, lia a sua mensagem de Ano Novo para 1968.

Assim, a preto e branco, com esta voz sem alma e sem viço, monocórdica e soletrada, tudo nos traz o cheiro da naftalina. Mas imaginemos a realidade da imagem. Um homem a cores com um país à volta. E um pensamento oficial. Veja-se a partir do minuto 2.

Muita coisa mudou. Mudou a raiva à "desorientação do espírito" e à "degradação dos costumes" (minuto 7), ou a confusão que era para estas cabeças a viagem pelo espaço (8'50''). Mas depois politicamente, permanece muito. O João Rodrigues já lhe pegou, para mostrar como 60 anos depois desta imagem, os comunistas estão excomungados de aparecer no aparelho de massas que é a televisão. E não consigo deixar de pensar que no comportamento e na organização institucional da sociedade se mantém muito - ainda - deste anticomunismo irracionalizado, emocional.

Mesmo esta guerra recente ao populismo parece colar tão bem nesta irracionalidade. Sou só eu ou sente-se nela a aversão social e aquele desprezo de quem vê a populaça - bem ou mal - a contestar os alicerces da organização social dominante, a levantar a voz contra os seus representantes, a reagir à impotência, de quem a vê a subir as escadas (do elevador social) com o seu cheiro a pobreza, arrepiando-se afinal com o descontrolo?

9 comentários:

Unknown disse...

50 anos, caramba nao 60! Vejamos, é que eu nasci em 1968 e só tenho 50 anos...:)

Jaime Santos disse...

Digo-lhe exatamente o que disse ao João Rodrigues. Até parece que o meu caro fala de um sistema que nunca existiu.

Os comunistas não são socialistas libertários que pretendem transformar o capitalismo num modelo de cooperativismo industrial por via de reformas políticas e económicas, João Ramos de Almeida. São pessoas que, ou eu estou muito distraído, continuam a defender, de forma mais ou menos clara, a imposição por via revolucionária de modelos de estatização da economia e da vida social que destroem não só a propriedade privada mas também o pluralismo político. Estalinismo requentado, mais coisa, menos coisa...

Rangem os dentes contra o liberalismo político porque ele, felizmente, é capaz de limitar a ação do poder constituído, garantido os direitos dos indivíduos e a sua autonomia (incluindo o direito acima elencado à propriedade privada). Justamente a autonomia individual contestada por todos os populistas em nome da soberania (que é sempre exercida por um qualquer Irmão Grande, em nome do povo).

Veja lá as imagens que o Nuno Serra publicou e adivinhe quem era o principal alvo da sátira de Orwell... Por isso, a não ser que pintem a cara de preto e de uma vez por todas aprendam alguma coisa sobre a natureza das revoluções e o sangue dos inocentes que delas escorreu (a não ser que considerem que isso é uma coisa secundária ou quiçá necessária como o Marat do Terror) não nos queiram por favor vir dar lições. Porque a elas responderemos como é preciso...

Jose disse...

Caro João
Fale-me acerca, não do "anticomunismo irracionalizado, emocional", mas do comunismo, racional e não emocional que seja. Ninguém me diz nada sobre ele!
Aos comunistas só os ouço dizer horrores do capitalismo, mas do comunismo não me falam nunca!

Pedro disse...

É verdade.

Esses tempos sinistros até fazem lembrar este blogue que atiça trolls policias das caixas de comentários para tentar abafar quem duvide do mínimo pormenor da "linha do partido".

Anónimo disse...

Hum.

Este post de João Ramos de Almeida tem mais valias insuspeitas.

Fez saltar Jaime Santos que nos brinda com uma diatribe à Américo Thomaz. Confirmando tudo o que JRA denuncia aqui

Ah e não é que os comunas cá do sítio conseguiram correr com o passismo cavaquista?
E António Costa até se viu como primeiro-ministro graças aos mauzões da fita?
Que lágrimas amargas correram dos olhos de JS por tal facto?

De passo a passo até ao abraçar do neoliberalismo mais sórdido, einh caro Jaime Santos? Até para lá da ala mais à direita do PS. À espera de um macron português?

Anónimo disse...

Outra não tão surpresa é o que comenta um tal "pedro", que há quem, e parece que com toda a razão, o identifica com joão pimentel ferreira.

Não gosta "pedro" deste blog. Não gosta dos posts dos seus autores.Não gosta dos próprios autores. Insulta (com este e outros nicks) pessoas tão plurais e diferentes, como João Rodrigues ou Ricardo Paes Mamede, Nuno Serra ou Alexandre Abreu, Diogo Martins ou o próprio Ramos de Almeida. Jorge Bateira em geral não lhe permite tais veleidades.

Eis mais uma vez a confirmação da condição de "pedro"

João Ramos de Almeida disse...

Caro Jaime,

É verdade que os comunistas continuam a pugnar por uma saída revolucionária para os problemas do capitalismo. Mas isso não quer dizer que tenha de ser feito - via golpe - por uma minoria contra a vontade da maioria. Muito pelo contrário. Pode apenas dizer que será difícil construir uma sociedade melhor sobre as estruturas e a organização de uma sociedade capitalista. Pode tentar-se, pode tentar-se melhorá-la e é isso que todos os que não concordam com o capitalismo tentam. Mas chegará a um ponto em que não se deixará avançar mais, porque, a partir desse ponto, se daria um salto de qualidade que passaria a ser "outra coisa". E a partir daí, a própria organização política da sociedade capitalista tomará o "assunto" entre as suas mãos e - há diversos exemplos disso - passará por cima do seu liberalismo (no bom sentido do termo), assumindo-se o controlo do "problema". Nesse ponto, nem haverá eleições ou referendos que lhes valham... (lembra-se dos referendos aos tratados comunitários? E nem se estava a pôr em causa as bases de um tipo de sociedade... )

Mas não estou a trazer nenhuma novidade ao Jaime. Apenas podemos olhar para esta realidade com diferentes olhos.

Sim, houve experiências - como as houve sob as ideias de um capitalismo - que não correram da melhor maneira. E estou ciente de que estas palavras podem ser demasiado leves para retratar tudo o que foi vivido por homens e mulheres. Mas esse facto não invalida a vontade que se tenha de mudar o que "está mal". E "estar mal" tem a ver apenas com a justiça na distribuição do rendimento, com a igualdade entre pessoas, com o futuro para todos. Se há alguma fragilidade nas posições de quem defende uma sociedade mais justa a longo prazo, está precisamente em encarar de frente o que se passou e aprender com isso e teorizar melhor para a frente. Mas nada disso invalida que se pense como mudar o que "está mal".

E caro José, como vê estou a falar - não do comunismo - mas de tentativas de instauração e manutenção da construção de uma sociedade socialista. E nisso veja lá que houve centenas de milhões de pessoas pelo mundo inteiro que se empolgaram com essa ideia, com essa utopia tornada concreta e que, por isso, na altura, transformaram o capitalismo como era conhecido há 80 anos. Não foi uma ideia maluca, levada a cabo por um homem que acabou endoidecido... Alguma coisa viram nesse projecto!

Caro Pedro,
Quando há ditadura, é porque há ditadura; quando se comenta ideias, é porque se está a atiçar trolls. Em que ficamos? D nossa parte, apenas tentamos elevar o nível dos trolls... e da discussão.

Jose disse...

Pois é, ninguém me fala do comunismo e todos falam como se o quisessem instaurar!
Estranho!

Anónimo disse...

O jose que se sente e que consulte um daqueles blogs onde vai buscar a informação

Por exemplo onde foi beber e perfumar-se na imensa treta idiota de Salazar a reembolsar os EUA pelo plano Marshall


Quem vai nestas fitas idiotas acha estranho precisamente o quê?

Que o bolor se confunda com a puerilidade ?


Estranho!