«Os refugiados que agora chegam não são pessoas famintas, que não têm pão nem água. São pessoas que ainda ontem sentiam agrado pelas suas casas, pelo seu lugar na sociedade. E que são, muitas delas, extremamente qualificadas e bem-sucedidas. Mas agora são refugiados e estão a vir para cá. E quem é que encontram aqui? O precariado. O precariado vive da ansiedade. Do medo. Temos pesadelos. Eu tenho um bom estatuto social e quero preservá-lo. Quero que as coisas continuem assim. "Precariado" vem de uma palavra francesa, "précarité". E "précarité", numa tradução livre, significa "caminhar em areias movediças".
Eis que chegam agora estas pessoas da Síria e da Líbia. Transportam dos seus longínquos países estas ameaças. Para aqui, para os nossos quintais. Aproximam-se subitamente de nós e nós não podemos ignorar a sua presença. Simbolizam, encarnam, todos os nossos medos. Ontem eram pessoas autónomas nos seus países. Pessoas felizes. Como nós hoje, aqui. Mas repare-se no que lhes aconteceu: não têm casa nem meios de subsistência.
Creio que o choque ainda só está a começar. Não existe nenhuma solução imediata, nenhuma solução instantânea. Por isso temos que nos preparar para os tempos muito difíceis que ainda estão para vir. A vaga migratória do ano passado não foi a última. Há muitas, muito mais pessoas à espera para emigrar. E por isso temos que reconhecer que é isto o que se passa. Vamos juntar-nos todos e encontrar uma solução.»
Com ilustrações e animação de Luís Ruibal e arranjos sonoros de Alejandro Lovera, o vídeo com excertos de uma entrevista de Zygmunt Bauman, o «sociólogo da liquidez», à Al Jazeera.
4 comentários:
são, muitas delas, extremamente qualificadas
Naturalmente que há muitos refugiados que são pessoas qualificadas. Mas a grande maioria não o é. O que é normal: o nível mádio de qualificações da população nos países de onde eles são oriundos é bastante baixo. O facto é que a grande maioria dos refugiados tem dificuldade em se integrar no mercado de trabalho.
Pois temos que reconhecer muita coisa...
A começar porque é que a EUA e os lacaios da Nato destruíram o Iraque, Líbia e vários outros países.
Porque é que os EUA têm como grande aliado o regime déspota que financia o terrorismo, a Arábia Saudita, um regime que tem interesse em ver a Síria arrasada.
Temos também de reconhecer a hipocrisia da esquerda (com algumas excepções), caladinhos estiveram enquanto Obama continuava o legado da Bush, mas agora, só agora, acordaram com Trump!
Se Hillary tivesse ganho será que veríamos marchas de protesto!? Duvido...
Aqueles que falam na inevitabilidade em haver mais refugiados são muitas vezes os mesmo que não questionam o porquê das guerras.
Esta inevitabilidade em tanto se parece com a outra “Não há alternativa” que uns defendem...
Querem que não haja refugiados e querem que eles voltem para as suas terras, então que as potências com interesses geoestratégicos não brinquem com as vidas das pessoas, permitam que os Sírios e outros possam reconstruir as suas vidas nas suas terras, é o mínimo dos mínimos que podem fazer!
Não e´ altura de falar dos culpados (ou será?) deste êxodo/genocídio praticado contra os países e povos norte-africanos, e no entanto ele continua impiedoso pondo em destaque a validade da moral dita ocidental.
E´ que quem esta a sofrer as agruras de tal êxodo são países e povos que nada fizeram (ou fizeram?) para que tal sucedesse. Paga o justo pelo pecador. Chegando ao ponto de o principal autor deste “crime lesa humanidade” rejeitar a «sua» entrada em seu país.
A Europa parece-se mais com um gigantesco Campo de Concentração com práticas mendicantes onde florescem as mais repugnantes fórmulas de esclavagismo. De Adelino Silva
Permita-me a correção: escreve-se précarité e não precárité.
Obrigado.
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