segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Para exercitar o músculo democrático


Ainda recentemente, o Congresso dos Jornalistas, que reuniu após 19 anos de interregno, foi muito marcado pela denúncia da degradação da autonomia e das condições laborais em que os jornalistas exercem a sua profissão – um problema social generalizado para o qual, infelizmente, a maior parte da comunicação social contribuiu, cada vez que não fez jornalismo de trabalho ou o fez usando enviesamentos ideológicos e estereótipos de classe, contribuindo para convencer os cidadãos de que não haveria alternativas a essa degradação. Por vezes prova-se do próprio veneno. E não é agradável, mas pode ser um momento de aprendizagem. Quando as pessoas voltam a encontrar-se para agirem colectivamente na defesa dos seus direitos, descobrem que acumularam também outros tipos de dificuldades: de mobilização, de informação, de meios (materiais e outros), de definição de princípios e valores comuns, de identificação de pontos de acordo e de discórdia, de estabelecimento de regras de funcionamento e de prioridades estratégicas, etc. Descobrem, ou pelo menos podem descobrir, que a participação democrática, seja ela em associações, movimentos ou sindicatos, é uma forma de os trabalhadores exercitarem, na prática, o tal músculo democrático que sempre definha com a falta de uso.

Sandra Monteiro, Trabalho e organização colectiva, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Fevereiro de 2017.

Uma boa prova do veneno é a hipótese de uberização do jornalismo avançada neste blogue por João Ramos de Almeida: o fim dos trabalhadores.

Regressando ao jornal, deixo-vos o editorial de Serge Halimi sobre Trump e o resumo do número:

“Na componente redactorial portuguesa, destaque para o dossiê «Habitação, racismo: no Portugal dos violentos costumes», onde analisamos as políticas de exclusão, despejos e demolições, com que se redesenham as periferias, e várias formas de racismo institucional e desigualdades étnico-raciais persistentes no país. As evoluções recentes do emprego dos jovens diplomados, a situação das artes do espectáculo, o papel do direito no apoio a refugiados e migrantes e as agruras do trabalho de jornalismo e do jornalismo de trabalho são outros temas do mês.

No internacional, reflectimos sobre a passagem da rua ao exercício do poder nas «cidades rebeldes» espanholas, sobre o significado da candidatura de François Fillon nas eleições presidenciais francesas, sobre a política do medo e a escalada militar nos Estados Unidos, sobre a situação catastrófica das prisões no Brasil, sobre a progressão da anexação israelita e a forma como ela inviabiliza, na prática, a criação do Estado da Palestina, sobre o outro lado do primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau... e muito mais.”

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma revista a ler por todos os que nao querem a informação do regime servida quotidianamente nos seus media e replicada pelos seus sicários.

Por isso este MD desperta ódio entre a Legião.

Anónimo disse...

Os jornalistas que organizaram o congresso agora deram contributos decisivos durante anos para a desmobilização da classe. E continuam a não perceber o que se passa. Não é felizmente o caso de João Ramos de Almeida.