quarta-feira, 27 de abril de 2016

Irracionalidade?


Nós bem que avisámos, em 2011, quando PS e PSD tiveram a péssima ideia de criar o conselho das finanças públicas, assim com letras pequenas: para lá da ineficiente sobreposição com a sempre útil Unidade Técnica de Acompanhamento Orçamental junto da AR, criando empregos para economistas com mais do que duvidosa utilidade social, tal instituição serviria de púlpito para Teodora Cardoso repetir o consenso de Bruxelas.

Esta veio agora dizer duas coisas em sua defesa: “Sobre a ideologia há uma ideologia que tenho – o respeito pela racionalidade económica”, favorecendo “políticas da oferta” para lá das “políticas de procura”. Assim se demonstra que a sua ideologia é mesmo a irracionalidade económica (na realidade a racionalidade é outra, e de classe, mas finjamos que tal não importa). Vamos por partes.

Em primeiro lugar, a sua ideologia é como se fosse a irracionalidade económica porque, com a sua defesa do aprofundamento da contraproducente austeridade, Teodora Cardoso faz tudo para esquecer algo que o antigo Presidente da República lembrou na sua única intervenção decente em dez anos: o défice é uma variável endógena, fundamentalmente dependente do andamento assim sempre medíocre da economia.

Em segundo lugar, Cardoso ignora o INE, quando este indica que os empresários continuam a não investir o suficiente em primeiríssimo lugar, é o que respondem nos inquéritos, por causa das expectativas pouco entusiasmantes de venda, ou seja, da tal procura que não arranca de forma significativa num contexto assim de estagnação na melhor das hipóteses. E relembro que o investimento, em percentagem do PIB, caiu quase para metade desde que temos o Euro.

Em terceiro lugar, as “políticas da oferta” de Cardoso, as tais reformas estruturais, na linha da desvalorização interna, destinam-se a reduzir o salário directo e indirecto, por via dos cortes no Estado social e da transferência de direitos de trabalhadores para patrões cada vez mais medíocres, aumentando a desigualdade, diminuindo a procura e aumentando as insolvências. A banca que não se queixe da degradação dos seus activos.

Em quarto lugar, o país não tem instrumentos de política – monetária, cambial, orçamental, de crédito, industrial – por culpa desta integração também tão saudada por Cardoso e pelo seu Banco (o tal que não é de Portugal). Os poderes públicos, condenados aos exercícios de ficção económica dos PEC, têm assim muita dificuldade em estimular a procura, interna e externa, dirigindo-a para os sectores produtivos nacionais que interessam e gerindo decentemente, e não através da destruição das capacidades produtivas, o único constrangimento que conta, o externo, o de balança de pagamentos. Não é aliás por acaso que estamos globalmente estagnados há duas décadas, sendo que a nossa procura interna foi entretanto das que menos cresceu, o que não nos impediu de acumular uma dívida externa brutal. Esta integração económica e monetária tem sido muito racional.

10 comentários:

Anónimo disse...

A teodora cardoso a acabar de dizer na rtp o fantástico que foi a entrada no euro por podermos chegar ao dinheiro a baixos juros. Como sabemos o que serviu foi para a economia de casino, alteração administrativa de uso de solos com milhares de % de valorização para especulação imobiliária com fartura, o DDT a ganhar em dois carrinhos com o construtor e com os compradores dos imóveis, e dps a guardar a massa na Suiça e nas Caimão, mais os presentes de 14 milhões entre outros submarinos irrevogáveis. E dizer que a divida contraída com todo este disparate até se consegue resolver com as “reformas estruturais” (ataque aos mesmos e no mesmo do costume) e a coisa resolve-se por si. Que pantominice para artolas.
O que se lê neste post, isso sim, um excelente texto de João Rodrigues.

Anónimo disse...

Completamente de acordo. Um excelente texto de João Rodrigues

Dias disse...

Muito bom postal, João Rodrigues!
Desmontou a pretensa ideologia dessa senhora, a tal “racionalidade económica”. Como se ela fosse um ser superior, iluminado, prenhe de racionalidade, e acima da política…
(Qualquer dia até fechavam a Assembleia e deixavam o monstrinho UTAO e a Cardoso a decidir…)

Anónimo disse...

...já para não falar que nem sequer existe racionalidae económica ou as tretas do mercado perfeito ou da "mão invisível"
os mercados são pasto de todo o âmbito do comportamento humano e este está muito longe de ser puramente racional

Anónimo disse...

Ao nomearem neoliberais para altos cargos do Estado portugues, o PS e PSD tiveram em linha de conta tao-somente reduzir os poderes desse mesmo Estado, dito do modo direitista, retirar-lhe as gorduras.
Ora com o poder do Estado reduzido, a nossa capacidade de mudar o rumo de nossas vidas através do voto, também se contrai.
Estes senhores neoliberais nao satisfeitos com as malfeitorias mandam consumir, como se o consumismo seja a Salvaçao. Mas como uns tem mais poder de compra que outros, vai dar no mesmo. Eles querem que aceitemos com bonomia o “Não há Alternativa”
Acho que pelo andar da carruagem se conhece a cor do bone´ do revisor… de Adelino Silva

Anónimo disse...

Irracional é ter esta sra a mandar bitates a torto e a direito sem que o povo português, que lhe paga o ordenado chorudo, tenha sido ouvido ou achado sobre a criação da aberração que é o organismo a que a sra Teodora preside.

Jose disse...

A irracionalidade é a própria definição da economia de esquerda, com largo uso há 42 anos.
Ainda me lembro do ministro que vinha dizer qual o máximo admissível para o salário mínimo para dois dias depois decretar um valor largamente superior!

Anónimo disse...

As saudades pelo antes do 25 de Abril que o das 00 e 01 aqui papagueia.

O 25 de Abril foi uma surpresa esmagadora para os Ambrósios desta terra. Uma belíssima prenda de aniversário que motivou rangeres de dentes e outras atitudes mais pusilâmines e que teve como consequência esta pobreza franciscana,ressabiada, ideologicamente motivada dos "comentários" do das 00 e 01.

A "irracionalidade" que ele decreta numa espécie de decreto oco e vazio em defesa semi-oculta (mas piegas da dona Teodora) diz tudo. Não aduz qualquer argumento, para além da estoria pateta e senil dum ministro que parece que vinha mas depois dois dias depois já decretava.

Mas há mais como a tentativa de reescrever a História dos últimos 42 anos fazendo de conta que a esquerda é que governou o país neste período de tempo. "Esquecido"até de, entre tantos, Cavaco, o político há mais tempo em funções e que só um extremista próximo da extrema mais extrema ousaria classificar como de "esquerda"

Uma tristeza e uma indigência que demonstra que a saga dos ambrósios continua

Jose disse...

Ambrósios,
A irracionalidade da esquerda é uma condição essencial à condição de o ser.
Como condicionar tão generosos e sensíveis espíritos às exigências de variáveis estatísticas num universo em que o ´homem novo´ insiste em manter-se ausente?
A vossa irracionalidade é a vossa força, porque questionar tão valioso atributo?

Anónimo disse...

Coitado!

Agora salta para o púlpito e conclama pelos seus Ambrósios.

Enquanto pelo meio foge com o rabinho por entre as pernas (lembra o 25 de Abril de 1974 não é, ó das 20 e 18?) e nada diz sobre a "irracionalidade" que prega qual tonto a repetir uma palavra vazia e oca.
Parece que aquela é "uma condição essencial à condição de o ser." Por favor não se riam. Isto é apenas uma oração em forma de treta rezado por um singelo beato ternurento para com os seus ambrósios, ele próprio um ambrosio assumido.

Mas a cobardia vai mais longe e continua pela agora silenciada "estoria pateta e senil dum ministro que parece que vinha mas depois dois dias depois já decretava". Mais a boca fechada sobre a tentativa de reescrever a História e tentar apresentar os passos e cavacos que nos governaram como produtos de esquerda.Só mesmo um extremista muito extremista não ?

Uma tristeza e uma indigência que demonstra que a saga dos ambrósios continua.