terça-feira, 19 de abril de 2016

A reforma social é crescer e criar emprego, mas não nos deixam...

Fonte: INE e IGFSS, citadas pelo BdP
Miguel Sousa Tavares disse ontem, no seu comentário na TVI, que o governo tem de começar a olhar de frente para a reformas de fundo que não foram feitas durante o mandato da troika e do governo PSD/CDS. E como exemplo, deu o da Segurança Social: "Toda a gente sabe que tem de ser feita".

Mas na minha opinião, a primeira reforma para melhorar a Segurança Social é criar emprego e crescer. A segunda é criar mais emprego e voltar a crescer mais. A terceira é criar ainda mais emprego e voltar a crescer.

Olhe-se para o gráfico (que tem um erro: os valores até 2010 não são comparáveis com os a seguir a 2011 porque houve uma quebra de série no inquérito ao emprego do INE): quando o emprego começa a descer, as contribuições estagnam ou caem mesmo (2012). E mesmo quando, a partir de 2014, o emprego subiu, as contribuições pouco aumentaram ainda, o que pode indiciar os baixos níveis de rendimento dos empregados.

Agora, olhe-se para este gráfico:
Fonte: IGFSS, citadas por Banco de Portugal
O saldo da Segurança Social está sempre ali num ténue equilíbrio, de forma a dar corpo ao sistema de repartição: o que entra de contribuições, sai para pagar prestações sociais. Ora, se o emprego se reduz, as contribuições caem. E para manter aquele ténue equilíbrio, o que se tem de fazer? Cortar despesa social! E corte de despesa social gera menos rendimento disponível, que gera menos consumo, que gera menos recursos para as empresas, que gera corte de emprego... e por aí fora.

Foi o que aconteceu de 2011 a 2013, até que a troika arrepiou caminho para não ficar mal da foto. Porque as despesas sociais com o desemprego dispararam, reduzindo o saldo da Segurança Social apesar de todos os cortes nas pensões.


Eis o corte de despesa!
Melhorámos? Não.

A tal ponto que agora a Comissão Europeia quer que se aplique aquilo que o PSD disse, antes da campanha eleitoral de 2015, que não significava um corte de 600 milhões de euros nas pensões. Que era para negociar com o PS... Mais tarde ou mais cedo, apanha-se um mentiroso.

Pior: Dizem - a Comissão Europeia, o FMI, as confederações patronais, o PSD/CDS - que, no âmbito da legislação laboral, é necessário facilitar os despedimentos, para se poder empregar mais. Mesmo que se entenda lógica (afinal não foi, durante o fascismo em Portugal, quando não havia protecção no desemprego e se arranjava sempre empregos...?), essa medida vai criar uma enorme pressão para a baixa salarial, com consequências a prazo na Segurança Social... E lá vamos nós outra vez!

Isso é quase como defender que se deve torturar para defender a democracia (tese pouco original defendida na comissão da Verdade, em 2013, pelo coronel brasileiro Brilhante Ustra, responsável pela polícia política DOI-CODI do Exército brasileiro, de 1970 a 1974, e acusado de ser responsável durante a ditadura militar por dezenas de mortos em tortura, além de introduzir ratos nas vaginas de prisioneiras).

Por que deixamos esta gente impor o que não faz sentido e que tem apenas uma lógica: criar problemas que sabem que darão cabo de um governo de esquerda que traçou, precisamente, essas linhas vermelhas?

É nisto que estamos: a Comissão Europeia está a funcionar como a Internacional liberal. Até quando?

11 comentários:

Anónimo disse...

Essa coisa das reformas de fundo ou reformas estruturais é uma conversa que já vem de longe. Há mais de 30/40 anos que ciclicamente se fala dessas ditas reformas estruturais ( que depois apenas servem para justificar toda e qualquer malfeitoria que o governo na altura pretender fazer). Veja-se, aliás, o que aconteceu nos últimos anos no Governo do P.Coelho/P.Portas e pode concluir-se, sem esforço, que as tais ditas reformas estruturais, não passaram das piores malfeitorias de que este país tem sido vitima.
É claro que neste aspecto não foram só o P.Coelho e o P.Portas a fazer malfeitorias. O P.S. também não passa sem culpas ( e são muitas...) em toda esta situação uma vez que se deita( sistemáticamente) com a Direita ( o que já vem de há muitos anos...) afinal quem foi que meteu o socialismo na gaveta.
Enquanto o P.S. não fizer uma escolha clara ao lado de quem de estar ( hoje, mesmo assim, ainda anda nas meias tintas...) nunca esta país será um país onde seja possivel viver com alguma dignidade, a não ser que faça parte da minoria endinheirada.

Anónimo disse...

O autor do post apresenta aqui uma grande ideia:

"Para resolver o problema da ss devemos aumentar o emprego."

Eu ainda tenho uma sugestão melhor :

"Para solucionar o problema de sermos pobres é enriquecer "

Eu e o autor somos mesmo inteligentes , como é que ninguém se tinha lembrado disto antes ?

cumps

Rui Silva

Anónimo disse...

Parece que nao. Parece que o Coelho e o Portas andaram para ai a vender a ideia que o país crescia com o empobrecimento e o desemprego.

E a trupe neoliberal, com os olhos postos na troika batia com a mão no peito e berrava feita histérica:
Ya herr fuhrer

Jose disse...

Três medidas muito criativas e 0portunas.
Pena que para a primeira haja falta de confiança.
Pena que para a segunda haja falta de capital e segurança.
Pena que para a terceira haja falta de políticas reformistas.

Anónimo disse...

Das duas uma. Ou o sr Rui Silva anda mt distraído e nao viu, nao quis ver, tinha horror a quem via e emigrou obedecendo aos conselhos de Passos Coelho ou anda aqui a vender gato por lebre. Perdão, troika de Coelho neoliberal a gabar o empobrecimento, pela verdade dos factos.

Isso não é inteligência. É tentativa de manipulação barata e um pouco acéfala

Anónimo disse...

Reforma Social
"Toda a gente sabe que tem de ser feita". Quer queiram ou não - digo eu
Mas parece que outros interesses se sobrepõem!
Entramos em um clima de estabilidade política, com as instituições a funcionarem regularmente, e´ boa ocasião para mexer e que não fique tudo na mesma. Temos a certeza de que alguma coisa vai mudar…Não seja para pior…
Não faz sentido adiar para a amanha o que se pode e deve fazer hoje. De Adelino Silva

Unknown disse...

Eu percebo a tendência dos políticos para apregoarem a "criação" de empregos, quando todos sabemos que os empregos são criados pelas empresas ou "tachos" pelo sector publico(e bem caro nos sai). Já não compreendo que os tudologos usem essa linguagem, nitidamente de faz de conta!

Anónimo disse...

Um bom post do João e um bom comentário do anónimo das 15 h

Anónimo disse...

Eu percebo a tendência dos "empresários", dos políticos ao seu serviço e dos seus bons rapazes para tentarem vender a ideia que são as empresas que patati-patata.
( não vamos agora falar nos "tachos" que os boys dos ditos empresários e dos políticos ao seu serviço arranjam no sector público, fazendo-se passar pelo que não são)

"Sem empresas não há trabalhadores" - expressão dogmática que inverte as premissas das relações sociais. Não existe trabalho porque existem empresas, existem empresas porque existe trabalho.

"sem exploração e sem patrão, não há emprego para os trabalhadores". Todavia, quer a história, quer o empirismo nos demonstram sem necessidade de aprofundamentos em demasia, que existem empresas porque existe trabalho e existem patrões porque existe trabalho. É, aliás, o facto de existir desde os primórdios da Humanidade, a realização de Trabalho que possibilita a apropriação dos seus frutos por outrém. A realização de trabalho depende exclusivamente da disponibilidade de mão-de-obra e de meios de produção. A existência de um explorador, de um patrão, não entra sequer na equação.

Uma vez mais, o capitalista tenta incutir dogmas e frases feitas no raciocínio diário do trabalhador, para que o explorado cristalize em torno de sofismas e falácias que o condicionam na sua emancipação.

O trabalhador, habituado às relações sociais e produtivas do capitalismo em que sempre viveu, cria a ideia de que sem Patrão, não pode trabalhar. Na verdade, se ele não trabalhar não pode haver patrões".

Do Capitalismo para Totós- IV

Anónimo disse...

A "política reformista" aí pregada em cima tem alguma coisa a ver com a defesa feita pelo mesmo reformista da fuga dos capitais para os offshores,com o intuito de proteger o "risco do investimento" ?

Anónimo disse...

Quando alguém aí em cima fala na "falta do capital" refere-se ao "Capital Monopolista"?

O tal que admira e defende aí num pequeno "comentário a um post de João Rodrigues, pela interposta trilogia Luís Amado/Jaime Gama/Soares dos Santos?