Através de Paul Krugman, descobri o trabalho mais recente do ortodoxo historiador económico Nicholas Crafts. Só o conhecia por ter quantitativamente defendido que se tirasse o r à revolução industrial, por assim dizer, e por defender o indefensável legado de Thatcher. Bom, Crafts parte da visão, que creio hoje ser convencional na história económica, sobre o papel do padrão-ouro na propagação da Grande Depressão e sobre as virtudes de dele ter saído mais cedo para, entre outras, poder usar a soberania monetária para sair das dificuldades: de resto, veja-se no gráfico de Crafts a diferença de performance económica entre a zona euro, um arranjo rígido, o grupo de países que acompanhou a Grã-Bretanha na libertação, em 1931, da relíquia bárbara, como lhe chamou Keynes, e o grupo de países que, como a França persistiram até mais tarde na ortodoxia económica associada ao padrão-ouro.
Crafts indica-nos que agora é ainda pior, dado que, com excepção da Grã-Bretanha demasiados países europeus estão mais endividados do que na década de trinta, e, sobretudo, estão agora presos a um banco central, o europeu, ortodoxo e independente, que inviabiliza uma estratégia assente na erosão do valor real da dívida por via de uma inflação e de um crescimento económico superiores: a austeridade e o viés deflacionário estão inscritos na Zona para desgraça dos devedores. Um banco central “subserviente” ao poder político foi um dos pilares de uma indispensável estratégia de repressão financeira, condição para reduzir o fardo da dívida, por via de taxas de juro reais negativas e taxas de crescimento reais bem positivas. Foi assim a partir dos anos trinta e sobretudo a partir dos anos quarenta, dado que aí, devido à guerra, a dívida pública britânica, por exemplo, ultrapassava os 200% do PIB, como já assinalei em polémica com Pulido Valente, sendo depois reduzida graças também à possibilidade de tal repressão associada à soberania monetária. A história económica ajuda-nos, entre outras coisas, a analisar melhor os erros que estão a ser cometidos, na mais benigna das hipóteses, e a tentar aumentar as ferramentas na caixa política.
De resto, temos a obrigação de saber que pouco ou nada se consegue fazer, sobretudo para quem tem também problemas de inserção dependente, sem quebrar com grilhetas monetárias, sejam de ouro ou de euros. O passado está cheio de incumprimentos soberanos. Hoje, a recuperação de uma certa soberania monetária começa a jusante disso. Depois, logo depois, terá de vir a repressão financeira, com controlos de capitais e tudo o mais. É que para haver alguma liberdade monetária para os países tem de haver alguma repressão do capital financeiro.
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1 comentário:
J.K. Galbraith (money, whence it came where it went) em 1976 explicou melhor, que esta é uma História recorrente:
"The central banks — and by common agreement the Bank of England in particular — policed and protected the convertibility of currency into gold, and the armory of instruments for doing this was now complete. It seemed a very solid structure. […]And in all countries there was a reinforcing morality. Those who supported sound money and the gold standard were good men. Those who did not were not. If they knew what they were about, they were only marginally better than thieves. If they did not, they were cranks. In neither case could they be admitted into the company of reputable citizens. This was not alone the morality of conservatives; it was also the virtue of intelligent and sophisticated men of the left. Socialists and, later, Communists, while they wished to be revolutionists, did not wish to be knaves.
In the last century few things more consistently troubled the conservative mind than the fear of paper money. No doubt this was primarily a matter of pecuniary interest — the fear of the creditor that he would be paid off in money of inferior purchasing power, the preference of the merchant for a widely acceptable coin, the ability of the man of means to look at his pile and know that it would persist, that he did not need a strategy for its preservation. But in the minds of some conservatives in this time there must also have been a lingering sense of the singular service that paper money had, in the recent past, rendered to revolution. Not only was the American Revolution so financed. So also was the socially far more therapeutic eruption in France. If the French citizens had been required to act within the canons of conventional finance, they could not, any more than the Americans, have acted at all.
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