«A emigração irrompeu nos anos mais recentes, atingindo níveis semelhantes ao grande êxodo registado em Portugal nos anos sessenta. Fontes oficiais e investigadores apontam para que pelo menos 100 mil pessoas estejam a abandonar anualmente o país, o que equivale à saída de uma pessoa em cada cinco minutos e aproxima Portugal das taxas de emigração da Irlanda. "Num país com 10 milhões de pessoas, isto representa uma enorme vaga de emigração", diz Peixoto, sociólogo do Observatório Português da Emigração. A diferença, desta vez, é que ao contrário dos trabalhadores que deixaram o país nos anos sessenta, com baixas qualificações e na sua maioria rurais, os emigrantes de hoje possuem frequentemente graus universitários e elevadas competências profissionais. "Estamos a perder alguns dos nossos melhores e mais brilhantes", diz Peixoto. "As pessoas que estão a sair do país neste momento são jovens, urbanas e escolarizadas".»
Peter Wise (Financial Times), Portugal sees exodus of skilled workers seeking better prospects
Os anúncios sucedem-se, do norte e centro para o sul europeu: «Bélgica procura portugueses para oito mil empregos», «Alemanha procura jovens portugueses que queiram estudar e trabalhar no país», «Noruega procura engenheiros», «Três hospitais de Inglaterra estão em Lisboa à procura de 200 enfermeiros». Portugal é hoje a uma reserva disponível de mão-de-obra qualificada e desaproveitada, que fica à disposição de economias de outros países. De economias que nem sequer precisaram de investir na formação e qualificação daqueles a quem se está a negar um futuro, no seu próprio país.
O gráfico ali em cima, que acompanha a notícia do Financial Times, é uma imagem assaz eloquente do rotundo falhanço da «estratégia de empobrecimento e competitividade», desenhada pelo governo e pela Troika, que assenta em ajustamentos centrados no «factor trabalho», como dizia Cavaco Silva. Nos termos dessa estratégia, a descida dos salários tornaria a economia portuguesa mais competitiva, promovendo o aumento das exportações e fazendo crescer, por essa via, o investimento e a criação de emprego. Se estivesse certa, essa mesma estratégia teria feito com que a linha do desemprego tivesse começado a descer há muito tempo, acompanhando assim a tendência de descida dos custos salariais.
Mas as coisas não se passam, de facto, como o governo supõe. O plano da maioria PSD/PP não só parte de pressupostos errados (os salários não são o problema central do nosso défice de competitividade) como despreza, obstinadamente, a procura interna (que é esmagada pela própria descida dos salários, directos e indirectos, e pelo desemprego). Uma vez falhada a receita, o resultado óbvio consiste no aumento consecutivo do número de pessoas que, perante uma economia tornada deliberadamente medíocre, são compelidos a emigrar, em benefício de países e economias que assim fazem bons «negócios» de ocasião.
Nos tempos das caravelas e da dominação colonial, a riqueza das nações residia essencialmente nas matérias-primas (recursos minerais, vegetais, etc.) que os colonizadores tratavam de explorar e delapidar. Hoje, nos tempos da economia do conhecimento, da inovação e da qualidade, uma parte crucial da riqueza das nações são os seus recursos humanos, sobretudo os mais qualificados. Ora, é justamente essa riqueza que está à mercê dos «novos colonizadores», quase se podendo dizer, por comparação (e passe a piada fácil), que o interesse por especiarias apenas se converteu no interesse por especialistas.
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1 comentário:
Resultado de uma política.
A política dos ladrões da democracia:
De Cavaco com Valentim Loureiro...a Sócrates com Armando Vara.
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