quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A debilidade do pensar


«"Sobe e desce", do Diário Económico:

                 Constitucional bloqueia a reforma do Estado: O Tribunal Constitucional,
                 liderado por Joaquim Sousa Ribeiro, chumbou a possibilidade de
                 despedimentos na Função Pública para quem entrou para o Estado antes
                 de 2008. Mais do que um problema para o Governo, o Tribunal criou um
                 problema para o País, uma vez que bloqueou a reforma do Estado.

Deve ler-se assim:
1. Constitucional bloqueia [não é a lei, nem a Constituição, é o Tribunal, e o uso do verbo "bloquear" também não é neutro, é valorativo]
2. a reforma do Estado [rótulo governamental para despedimentos na função pública reproduzido acriticamente pelos jornalistas pelo seu valor facial, ou seja, manipulatório]:
3. O Tribunal Constitucional, liderado por Joaquim Sousa Ribeiro, [convém apontar o nome à turba, para a coisa ser bem pessoalizada]
4. chumbou a possibilidade de despedimentos na Função Pública para quem entrou para o Estado antes de 2008.
5. Mais do que um problema para o Governo, o Tribunal criou um problema para o País, uma vez que bloqueou a reforma do Estado. [ideologia pura e repetição de propaganda governamental]

In a nutshell, (eles gostam de inglês), está cá tudo. Como de costume, uma das forças do poder em Portugal é impor as ideias, a linguagem, "mensagens" e manipulações, usando a debilidade do pensar da comunicação social.»

José Pacheco Pereira, O navio fantasma (35)

Nas horas e dias que se seguiram à morte de António Borges foram transmitidos (como é natural que assim seja) alguns excertos de entrevistas dadas pelo economista a diferentes canais televisivos. Lembrei-me então da percepção com que tantas vezes ficava ao assistir a essas entrevistas: a forma acrítica, e até, por vezes, intelectualmente subserviente, com que muitas das suas declarações, sobretudo as mais incendiárias, eram tomadas pelo pivot encarregue de conduzir a entrevista. Isto é, sem que se seguisse a essas declarações um contra-argumento ou - que mais não fosse - um pedido de fundamentação ou exemplificação consistente do que se tinha acabado de ouvir. E António Borges não era nem é, obviamente, caso único.

Na verdade, o problema do pluralismo no debate político-económico (ou melhor, da falta dele, sobretudo na esfera televisiva, com honrosas excepções) não é apenas uma questão das «vozes» que chegam ao espaço público e das «vozes» que são silenciadas (e, com elas, as interpretações alternativas sobre a crise e as suas soluções, igualmente alternativas). O problema do pluralismo é também, e de forma ainda mais insidiosa, o problema do efeito de simples «caixa de ressonância», da passividade com que se aceita (e incorpora) a narrativa económica ainda dominante. Por mais que a própria realidade se encarregue de desmentir, como um rio que simplesmente se limita a seguir o seu curso, essa mesma narrativa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não percebo nada deste post. Não se distingue o que é do pacheco pereira e o que é do nuno serra. Não percebo se a crítica ao sobe e desce é feita pelo pacheco pereira ou pelo nuno serra e não percebo também a quem pertence a questão Borges

está bem pouco clara a edição.

Bmonteiro disse...

Words, words, words...
Valham-nos os intelectuais, ainda.
Já com Natália Correia a uma provocação.
P: porque são habitualmente os intelectuais tão críticos do poder?
R. são, e ai dos países quando os intelectuais deixarem de o ser.
Felizmente há luar.