A entrevista à secretária de estado Maria Luísa Albuquerque – “trabalha 15 horas por dia, um pouco menos aos sábados e domingos”, “tem-nos habituado a intervenções claras, concisas e assertivas”, etc. – feita ontem pelo Negócios reflecte a sabedoria económica convencional depois da “ida aos mercados”: “este sucesso não é uma enorme responsabilidade?”. As outras perguntas não são muito mais desafiadoras. É a própria secretária de estado que tem de colocar alguma água na fervura jornalística. A ideia central é clara: “sem manter a austeridade este sucesso desaparece.” Sem austeridade não há recessão e sem recessão não há aumento de desemprego e sem desemprego de massas não há quebras de salários e do consumo e sem quebras de consumo, e já agora do investimento, que continua a colapsar, não há reequilíbrio na balança corrente neste euro. Um combinado sucesso periférico, aliás, como este gráfico ilustra.
Entretanto, sobre a crise que realmente se aprofunda numa Zona Euro que aprofunda o desenvolvimento desigual (os choques assimétricos, como os economistas convencionais gostam de dizer), leiam este artigo no Vox. Cheguei a ele via Jorge Costa, agora no Insurgente. Apesar de dar marginalmente para o peditório da flexibilidade de preços, na linha da literatura sobre zonas monetárias óptimas, curiosamente o argumento central do artigo não corrobora em nada as previsíveis observações iniciais de Costa: os EUA, ao contrário da Zona Euro, já saíram da crise, graças ao uso muito mais aguerrido da política orçamental e monetária, as duas têm de andar de mão dada. Uma ideia keynesiana, perigosamente socialista, para entrar no universo insurgente, embora não seja keynesiano quem quer, mas sim quem pode, quem tem soberania monetária. Bom, a verdade é que os EUA são os Estados Unidos da América, o que significa que existe redistribuição entre Estados, e Estados Unidos da Europa é coisa que esta aberração monetária nunca será.
1 comentário:
Neste caso o para o presidente dos EUA, Barack Obama, existem obstáculos, os EUA têm um dos seus maiores déficits da história, a existência do impasse com a maioria republicana no congresso, o governo democrata pode não ter dinheiro para pagar as suas contas e assim provocar constrangimentos na política orçamental e monetária.
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