sábado, 24 de janeiro de 2009

Toda a opinião é composta de mudança

A opinião conta muito na condução dos assuntos humanos. Aliás, acho que muitas vezes devemos agir como se a opinião fosse a única coisa que contasse. A opinião está a mudar a um ritmo muito acelerado. No Financial Times, Martin Wolf argumenta que a «gestão privada dos riscos socializados é perigosa». Defende por isso a nacionalização temporária do sistema bancário britânico. Esta linha está a ganhar cada vez mais adeptos. Martin Lipton, economista da Universidade de Sussex, reagindo à proposta da nacionalização integral de dois dos maiores bancos britânicos, faz uma pergunta muito pertinente, à luz do que se sabe sobre o comportamento dos agentes financeiros: por que é que a nacionalização há-de ser apenas temporária? Nem mais. Temos de regressar, um pouco por todo o lado, a uma maior presença pública no sistema financeiro. Desta forma, torna-se muito mais fácil regular o sistema financeiro e pô-lo ao serviço das necessidades da actividade económica real.

Entretanto, em editorial, defende-se que a União Europeia deve tomar a dianteira na construção de um sistema mais robusto de regulação do sistema financeiro. Só assim se poderá travar a «corrida para o fundo» («race to the bottom») nesta área, num quadro em que existe liberdade de circulação de capitais: «Se um país aperta as suas regulações, os investidores podem simplesmente mudar para uma jurisdição menos vigiada (…) se os Estados não chegam a acordo num conjunto de standards mínimos, os mercados internacionais levam a uma corrida para o fundo». Este foi um dos grandes erros da social-democracia nos anos oitenta e noventa. Desmantelaram-se os controlos nacionais de capitais sem se ter previamente criado um quadro de regulação e controlo supranacional digno desse nome.

A isto há que juntar todos os efeitos perversos da actuação das agências de rating. Isto já aqui foi denunciado por Nuno Teles e por Jorge Bateira. Paul De Grauwe, conselheiro económico do cherne e uma das figuras mais destacadas das chamadas finanças comportamentais (análise das dinâmicas dos mercados financeiros reconhecendo que estes são povoados por seres humanos), escreveu um artigo, publicado ontem no FT, onde faz uma crítica devastadora à incompetência e irresponsabilidade destas empresas privadas. Contribuíram decisivamente para a actual crise e dificultam hoje a acção pública que é necessária para poder sair dela. Têm de ser encerradas.

5 comentários:

João Melo disse...

não há semana que não se cite aqui o martin wolf..

Ana Paula Fitas disse...

Obrigado pelo texto... e pelas sugestões de leitura implícitas nas referências citadas.

Luís disse...

Mr,

encerrá-las não bastaria. é preciso descortinar os interesses que evidentemente estão por detrás delas. Qual é verdadeiramente a teia de interesses que sustenta "o processo de dívida em curso"? Hein? Errar é humano e errar continua humano, mesmo nas agências de rating; a não ser que não seja erro (estatístico) e seja outra coisa qualquer! Pois mas mais uma vez a questão tá mal colocada.

O rating ou o estatístico são hoje formas de mediação que favorecem objectivamente os interesses dominantes do mercado, e na vertente fianceira significa daqueles que detêm posições excedentárias de "recursos monetários"! A resposta a isto é o estudo concreto das situações económicas dos países, das suas condições tecnológicas e de disponibilidade de recursos. A política tem que se fazer a partir disso e não o contrário. Por uma vez materialistas.

Para mais, falar de regulamentação financeira transnacional, se isso alguma vez fez sentido, faz ainda menos hoje. A resposta à crise pulverizou essa realidade; há medida que os Estados se vão apossando dos respectivos bancos nacionais (Reino Unido mostra), já não há nenhuma área autónoma a regulamentar. Tesouro, banca e gestão dos meios de pagamento voltam-se a fundir. Voltamos no fundo a uma política mercantilista em que o Tesouro do Estado se identifica com a posição excedentária/deficitária do país. Isto só pode ser prenúncio de qualquer coisa...

Luís disse...

E depois não constitui mais que pura desresponsabilização das autoridade económicas e financeiras culparem as agências de rating pela crise!! Então os Bc's, os institutos de finanças, os intitutos de gestão, os ministérios da finanças não têm economistas para ver o que se passa?! Só não vê quem não quer. Se o Krugman disse que havia uma bolha no imobiliário, se o Krugman é lido, pq raio é que toda a gente continuou a comprar títulos securizados do imobi´liário americano? No fundo a análise económica não pareceu servir nem para uma coisa nem para outra. Pq no fundo, a análise económica, hoje, é pobre! Agora vou desfilar nomes: onde tá, hoje, por exemplo, um François Perroux? Um Celso Furtado? Népias.

E depois, a situação da periferia europeia. Mais uma vez demissão. Os ratings baixaram, é certo que consititui uma medida usurária e oprortunista, mas o que dizem os Estados? Desresponsabilizam-se! Porque o dinheiro não é deles, basta atirar dinheiro para a fogueira que a coisa se há-de resolver! O resto é a retórica do "consolidação do défice"! O Min. da Finanças é um ignorante que para aí anda, fez meia dúzia de testes econométricos na faculdade e acha que a economia se resume a isso e o resto o mercado resolve! A política terrorista da finança e do crédito, que a crise veio precisamente agravar, pensa que tem o risco perfeitamente dividido; ainda não perceberam que é precisamente a vida e a própria reprodução da sociedade equanto economia que já se tornaram um assunto arriscado. A desintegração económica pode seguir a breve trecho que o Min. vai continuar a ir para o Algarve na A não sei quantas dar palestras vazias sobre as estrelas..

E dpois a questão da "financeirização" que não é mais nada que a questão da moeda. A "financeirização" pode ser um "processo", mas a moeda é uma história. Clamar por um regresso a Bretton Woods, se alguém sabe realmente o que está dizer, é um slogan equanto não se estudar a evolução da moeda e dos sistemas monetários (que são coisas diferentes - pq um representa as modificações na forma capitalista enquanto sistema de reprodução e a outra é um processo institucional). Por isso hoje moeda é principalmente crédito: aqui teríamos de matar dois coelhos de uma só cajadada!

L. Rodrigues disse...

Uma sugestão aos Ladrões de bicicleta:
Experimentem mudar a cor de fundo do blogue para salmão pálido.
É a cor da opinião das "pessoas sérias".

Se se fala aqui de nacionalizações, são uns radicais e uns marxistas e uns folclóricos, se é o financial times, já dá que pensar...