
A ameaça de saída foi noticiada pela imprensa alemã, segundo fontes do governo. É impossível perceber o que aconteceu na realidade, mas não é muito difícil acreditar que a ameaça tenha realmente existido. E claro, uma das formas de a minar é colocar a notícia em público quanto antes. Não há saídas do euro previamente anunciadas. De qualquer forma, o Governo grego conseguiu com esta manobra, real ou imaginária (sim, estas notícias também dão muito dinheiro à especulação financeira), um novo pacote de ajuda e uma discussão bastante mais profunda dos seus problemas e alternativas, como já discuti neste post.
No relançado debate sobre a Grécia, surgiram dois interessantes textos no New York Times sobre uma possível saída da Grécia do euro. Um do economista Mark Weisbrot, co-director do excelente Center for Economic and Policy Research, e outro do Paul Krugman. Ambos discutem de forma séria, e não apocalíptica, como por cá vem sendo hábito, uma possível saída do euro. Desnecessário dizer que ambos os economistas concordam com a tragédia que são as actuais escolhas. Mark Wreisbrot, não desvalorizando o poder da ameaça de saída numa possível reforma europeia, defende esta escolha, partindo da experiência argentina.Uma desvalorização cambial permitiria maior competitividade externa e a soberania monetária conduziria a menores restrições de financiamento da economia. A inflação aumentaria neste contexto, com os seus prós e contras que ficam para outro texto.
Para este economista, e como devia ser claro para quem quer discutir o assunto, não há saída do euro sem uma reestruturação profunda da dívida externa total (pública e privada). Ora, uma reestruturação da dívida grega de, imaginemos 50%, colocaria o sistema financeiro europeu e mundial numa situação de grande fragilidade, devido à magnitude dos custos. A Argentina já não serve como comparação. Tal "corte de cabelo" seria inédito. Estas implicações merecem, por isso, mais reflexão.
Paul Krugman prefere, no entanto, assinalar outros contras, nomeadamente os problemas logísticos de tal decisão. Tais dificuldades não são muito credíveis. Uma mudança de moeda não necessitaria mais do que um "selo" nas anteriores notas em circulação. Foi o que aconteceu quando a Eslováquia e a Républica Checa se decidiram pela soberania monetária (uma decisão posterior à cisão política). Krugman aponta também os inevitáveis problemas de reputação internacional da Grécia que comparam com o longo historial argentino de incumprimento. Os problemas existem, mas sinceramente parece-me que, neste campo, já se ultrapassou, para a Grécia, o ponto de não retorno. Finalmente, o prémio Nobel assinala a importância desta ameaça nas negociações europeias. Tem razão e para estas ameaças serem credíveis, há que pensar mais e melhor.