quinta-feira, 6 de junho de 2019

Quem domina o presente

Os jornais estão cheios com o 75º aniversário do desembarque aliado na Normandia.

A BBC denomina-o como o “dia decisivo”. A enviada da Antena 1 à Normandia lembrou o dia que foi “o princípio do fim da segunda guerra mundial”. O Diário de Notícias menciona-o como o dia que “marcou a reviravolta na Segunda Guerra Mundial e o princípio do fim da ocupação nazi”. O El Pais sublinha a coincidência da visita de Donald Trump, Emmanuel Macron e Justin Trudeau que "acompanham a rainha Isabel II (...)  para celebrar “a batalha que mudou o curso da história".  João Carlos Espada no Observador usa o “o épico desembarque na Normandia das tropas aliadas britânicas” para desenvolver toda uma análise sobre os aliados de hoje.

As operações mediáticas são igualmente operações militares. A contrainformação não é apenas aquilo que pode ser considerado fake news. Nestes dias, assistimos - sem notar - a mais uma dessas operações, de remontagem dos cenários da forma que mais se ajeita a quem está - hoje! - a fazer a História. Muito à laia da velha máxima de George Orwell: "Quem domina o passado, domina o futuro. E quem domina o presente, domina o passado". 

Na verdade, a reviravolta na segunda guerra não se deu na Normandia, mas na União Soviética. E é pena como a história dos vencedores - de alguns vencedores - passa na cabeça dos jornalistas como faca quente por manteiga.

Dois terços dos efectivos alemães deslocados para a frente leste foram lá derrotados. Mesmo no campeonato de mortos na guerra, a Europa ocidental fica muito atrás da URSS, precisamente devido ao atraso na abertura dessa segunda frente na Europa.

A correspondente da Antena 1 lembrou que existe um canto dos Estados Unidos doado pelo Estado francês, para albergar os dez mil mortos caídos em defesa da Europa. Mas se os Estados Unidos perderam cerca de 300 mil homens desde a sua entrada no conflito em 1941, e a Inglaterra cerca de 375 mil, a União Soviética viu desaparecer cerca de um décimo da sua população (uns 27 milhões de habitantes). A guerra arrasou cerca de 70 mil cidades e aldeias, seis milhões de casas, 98 mil quintas, 32 mil fábricas, 82 mil escolas, 43 mil bibliotecas, seis mil hospitais, milhares de quilómetros de estradas e caminhos de ferro. Para os povos que constituíram a URSS, a guerra tornou-se num sentimento politizado de orgulho nacional.

Mas veja-se como a História se reescreve.

As desculpas pelo longo texto que se segue, mas não há forma de encurtar a História. Fica apenas para os mais pacientes e com vidas mais calmas.

Após a ocupação da Europa ocidental, as tropas nazis invadem a URSS, a 22/6/1941 e rompem facilmente as linhas soviéticas. A derrota será rápida nos estados bálticos, na Bielorrússia e Ucrânia. Apesar da mobilização soviética (iniciada desde 1939, apesar do Pacto germano-soviético), a invasão constitui uma surpresa pela sua brutalidade, imposta por directiva de Hitler.

Nesse mês, Roosevelt encontra-se com Churchill num cruzador ao largo de Newfoundland. Do encontro apenas saiu um esboço de um mundo novo, sob a chancela da América (é aflorado o famoso sistema dos quatro polícias – Estados Unidos, Inglaterra, União Soviética e China). Os Estados Unidos afastam qualquer papel na reconstrução da Europa. Essa seria uma tarefa britânica. A questão colonial entra na ordem do dia. Os Estados Unidos querem acabar controladamente com os impérios coloniais francês e britânico. Sob o pano de fundo da luta contra a escravidão, querem substituí-los.

Não posso acreditar que seja possível fazer a guerra contra a escravidão fascista sem ao mesmo tempo trabalhar em todo o mundo para a libertação de povos vítimas de uma política colonial retrógrada”, declarou Roosevelt no encontro com Churchill que definiu a Carta Atlântica.

Roosevelt defende a criação de uma curadoria internacional para todas as antigas colónias, em que a URSS, como membro fundador, faria parte do seu conselho e em que os Estados Unidos mediariam a libertação considerada inevitável, antes que, como frisa Henry Kissinger, “a luta se torne racial”. A ideia desagradou aos britânicos. A União Soviética afasta-se de um acordo, ao contar que o tempo jogue a sua favor.

Os cidadãos norte-americanos, reticentes quanto à participação na guerra, vão assistindo a sucessivos actos de guerra. A 4/9/1941, o contratorpedeiro Greer é atingido por torpedos alemães. Em Outubro, Roosevelt pressiona o Japão para abandonar a Manchúria ocupada desde 1937. A 7/12/1941, o Japão ataca Pearl Harbour, dando azo a Roosevelt de quebrar as últimas resistências dos políticos isolacionistas, em maioria no Congresso. Em Maio de 1940, cerca de 64% dos norte-americanos preferiam a paz a derrotar os nazis. Em Dezembro de 1941, mesmo antes de Pearl Harbor, eram apenas 32%. Esse atraso na consciência norte-americana, atrasou igualmente os esforços de militarização.

Quatro dias depois de Pearl Harbour, a Alemanha e Itália - depois de terem cuidadosamente evitado provocar os Estados Unidos - declaram-lhes guerra.

E inicia-se a "guerra" pela abertura da segunda frente na Europa.

Churchill pressiona para que se dê no sul da Europa, por considerar ser o “ventre mole” da carapaça militar do Eixo. Na realidade, essa zona corresponde à espinha dorsal do tráfego do império britânico, entre a Inglaterra e a Índia, que os britânicos são incapazes de defender devido à presença alemã e italiana no Mediterrâneo e no norte de África. A teoria do “ventre mole” irrita fortemente os chefes militares norte-americanos, que defendem uma segunda frente em França, tal como Estaline a pediu desde a invasão nazi. Em Março de 1942, o general George Marshall, responsável pela estratégia militar dos Estados Unidos, ameaça mesmo canalizar o esforço de guerra americano para o Pacífico, largando a Europa.

Durante meses, a população e tropas soviéticas exasperam-se com a lentidão ocidental em abrir uma segunda frente. Os dirigentes soviéticos crêem que a aliança anglo-americana faz a jogada que melhor lhe serve: enquanto Alemanha e URSS se matam entre si, o Ocidente resguarda homens e meios, para conseguir no último momento influenciar o desfecho guerra.

Essa ideia justificaria a lentidão na abertura da segunda frente. Primeiro, na zona do norte de África (a 8/11/1942), depois na Sicília e sul de Itália (verão de 1943), as duas sem grande eficácia para fazer deslocar os exércitos alemães da frente leste, de modo a aliviar os soviéticos.

Enquanto isso, as tropas nazis – depois de paradas às portas de Moscovo – deslocam-se para sul e em Setembro de 1942 concentram-se na simbólica cidade de Estalingrado. Aquela que deveria ser uma vitória fácil, torna-se num atoleiro. Ao fim de meses de cerco e ferozes combates, as 20 divisões alemãs, com mais de 300 mil homens, são estancadas quando pareciam ser um rolo compressor e acabam por ser derrotadas a 2/2/1943, com a rendição dos exércitos de Von Paulus.

A União Soviética ganha um novo alento. Apesar de a retirada das tropas alemãs a leste apenas se dar mais de um ano depois da rendição em Estaligrado, a tensão em Moscovo desvanece-se. Os teatros reabrem, as famílias reúnem-se, a vida urbana é retomada. E militarmente, inicia-se a contra-ofensiva em direcção ao ocidente.

Em Julho de 1943, no mesmo mês em que Mussolini é preso (para mais tarde ser libertado pelos alemães para chefiar a república de Salo), dá-se a batalha de Kursk, onde foram aniquiladas mais de 50 divisões nazis, trazidas da frente ocidental, aliás só possível pelo atraso do desembarque aliado.

A abertura da segunda frente em França apenas em Junho de 1944 ocorre neste cenário de forte progressão soviética e num momento - como é assumido pelos próprios dirigentes ocidentais - em que o seu sucesso é mais que previsível, e sem que se dêem significativas perdas humanas.

À medida que se consolida a derrota dos alemães, a guerra militar vai se transformando numa outra guerra pela supremacia na Europa e no mundo. Os aliados ocidentais excluem a União Soviética da capitulação italiana (Setembro de 1943), o que dá azo aos soviéticos para ocupar sem contemplações os balcãs (em 1944 e 1945).

Nessa altura, centenas de milhar de tropas soviéticas entram pela Roménia. Entre Agosto e Outubro de 1944, travam-se combates pela conquista de Varsóvia (Polónia). A Albânia é libertada e são criados governos de participação comunista na Bulgária e Polónia. A 25 de Agosto de 1944, quando as tropas aliadas entram em Paris, a capital francesa já tinha sido libertada pela Resistência, onde pontuam militantes comunistas.

Por isso, a verdadeira reviravolta na guerra dá-se no teatro bélico da União Soviética. Foi ele que marcou o início do fim da segunda guerra.

Dois terços dos efectivos militares alemães tinham sido deslocados para a frente leste e foi nessa frente, que as forças armadas alemãs perderam o seu ânimo e força. E esse sentimento alimentou dezenas de milhões de pessoas pelo mundo inteiro e enfraqueceu o lado aliado, que se reorganizava, a ponto de desequilibrar a correlação de forças no mundo. No Ocidente, havia essa consciência.

A morte de Roosevelt a 12/4/1945 resultou na promoção – nas palavras de Henry Kissinger - de um “inexperiente e mal informado” Harry S. Truman, desprovido da visão planetária de Roosevelt e ligado aos circulos conservadores norte-americanos. À sua frente, apenas viam uma União Soviética que alargara a sua zona de influência à Polónia, países bálticos, Finlândia, Balcãs e parte da Alemanha, balcãs e com uma significativa presença em França e Itália e uma maior influência a oriente (Turquia e Irão). Em França e Itália, no pós-guerra, os partidos comunistas serão os partidos mais votados em eleições. Os comunistas irão estar presentes nos governos de diversos países europeus depois disso. Esse era um risco que os países aliados não poderiam deixar correr. Como aceitar no seio do seu poder, elementos que pugnavam contra esse sistema capitalista?

Em vez da entrega da defesa da Europa à Inglaterra, os Estados Unidos vão entrar na Europa através do Plano Marshall e, depois, através da criação da NATO, com objectivos claros de contenção do comunismo na Europa.

A guerra fria foi o dispositivo para conter essa progressão comunista. E aos poucos, por muitas e variadas razões, ganharam. Como se nota nas notícias que ainda hoje saem nos jornais e meios de comunicação social e que mostram - mais uma vez - a face dos vencedores de hoje.


22 comentários:

Jose Manuel Silva disse...


Reescrever a história no sentido que mais lhe convém, é a vocação da direita. Mas é factual que intervenção americana, quando chegou as tropas nazis já estavam parcialmente derrotadas pelo "General Inverno", com a heroica ajuda dos habitantes de Estalinegrado...

Joao Salvador Marques disse...

Convinha desenvolver a verdadeira conspiração efectuada na convenção democrática de 1944 para afastar o vice-presidente Wallace, que tinha sido condição "sine qua non" de Roosevelt para se candidatar em 1940, da lista candidata, substituindo-o por Truman!

Daniel Ferreira disse...

Cada um reescreve a historia que lhe convém e como lhe convém, depende só do público alvo.

Veja-se, por exemplo, este mesmo blog: nem uma palavra escrita sobre o massacre de Tianamen!
Também concordam que foi "a acção necessária"?!

Jose disse...

Sem desvalorizar o esforço de guerra soviético, onde os comissários políticos tinham assinaláveis meios de estimular o heroísmo, é muito justo que tenham pago um preço por terem acordado um pacto que promoveu a partilha da Polónia com os nazis, factor essencial ao despoletar da 2ª GG.

E para além da brutalidade nazi, as suas perdas devem-se em boa medida a terem confiado num pacto com os nazis, não se terem preparado par a guerra e, bem pelo contrário, tendo liquidado muitos dos profissionais qualificados das suas forças armadas - na inevitável sanha saneadora dos comunas - começaram a guerra com mais homens que espingardas, com comissários políticos a substituir quem soubesse de operações militares.
Queixem-se disso antes de mais!

AI CARAMBA! disse...

A maior parte da História é contada omitindo os pobres heróis. Ou os heróis pobres. É mais fácil relembrar um marco com um desembarque cinematográfico, realmente. Felizmente ainda vai havendo quem conte outros "lados" da História. Obrigada por isso.

Pedro disse...

Bom texto. Sem dúvida que a URSS foi a força principal na derrota nazi.

Mas isso não quer dizer que a URSS conseguisse derrotar sozinha a Alemanha.

O texto esquece que antes da tardia abertura da frente terrestre na Normandia os aliados há já vários anos tinham aberto outra frente, a campanha aéria.

Esta frente aéria no ocidente contribuiu decisivamente para enfraquecer o desempenho das forças alemãs no leste através dos seguintes factores:

- Assim como dois terços das forças terrestres alemãs estavam empenhadas no leste, dois terços das forças aérias alemãs ficaram retidas a tentar defender o território alemão dos bombardeamentos aliados no ocidente. Se o peso total da força aérea nazi tivesse sido usado a apoiar as suas forças terrestres no leste, o exército vermelho teria tido muito mais dificuldades das que já teve para enfrentar a Alemanha.

- Cerca de um milhão de soldados alemães ficaram retidos no ocidente integrados na defesa antiaéria. Mais importante do que isso era que essas forças incluíam milhares de canhões antiaérios que eram também armas antitanque extremamente eficientes, como o 88 mm. Estas armas teriam criado dificuldades acrescidas ás ofensivas blindadas soviéticas se estivessem disponíveis para ser usadas na frente leste.

- A partir do primeiro ano de campanha de bombardeamentos aério, os aliados começaram a ser capazes de enfraquecer decisivamente a produção de armamento e o sistema de transportes alemães, enfraquecendo decisivamente a eficiência do exército alemão no leste, a que começou a faltar armas, munições, combustivel e material.

A esta campanha aéria temos de juntar, é claro, o lend lease, que forneceu material vital á URSS e a batalha do Atântico. Se os esforços que a Alemanha esbanjou a construir uma frota de centenas de submarinos tivessem sido canalizados para produzir mais uns milhares de panters e tigers destinados á frente leste, não se sabe qual teria sido o resultado.

Por outro lado, se o desembarque da Normandia em si mesmo é grandemente exagerado na sua importância, já o facto da Alemanha ter despendido enormes esforços na construção da "muralha do Atlântico" para prevenir a abertura dessa segunda frente são mais importantes. Uma linha fortificada foi construída da França á Noruega, com milhares de peças de artilharia e algumas divisões blindadas de reserva. Tudo isso usado na frente leste seria mais uma dificuldade para a Rússia.

Podemos concluir que a derrota da Alemanha foi mesmo um trabalho de equipa dos aliados com a URSS e embora o esforço principal em termos de vidas humanas tenha sido da URSS, não é certo que o tivesse conseguido sem o apoio dos aliados.

José M. Sousa disse...

https://nationalinterest.org/blog/the-buzz/the-battle-brody-the-biggest-tank-battle-ever-its-been-19836

Vejam só os números de duas batalhas de tanques (as duas maiores da história?), ambas na frente leste!

Aónio Eliphis disse...

É óbvio que foi a União Soviética a ganhar a guerra. E escreve um anti-comunista, mas os números acima de ideologia

https://www.veraveritas.eu/2014/11/foi-russia-quem-ganhou-segunda-grande.html

estevesayres disse...

Sobre o Dia D na Normandia, todos tentam denegrira a imagem do Stalin de uma ou de outra forma, mas o que é certo, é que foi ele que liquidou o Hitler do Partido Nazista!
"Depoimentos da época relatam a carnificina do Dia D na Normandia, a que hoje se pretende dar a volta como sendo uma heróica epopeia: "Quando os primeiros homens saltaram, amontoaram-se e caíram na água. De seguida as ordens perderam-se. Parecia que aos homens a única maneira de chegar a terra era mergulhar de cabeça e tentar nadar mantendo-se fora dos tiros que metralhavam os barcos. Mas, à medida que atingiam a água, o seu equipamento pesado arrastava-os para baixo e fazia-os debaterem-se para se manterem à tona. Alguns foram atingidos na água e feridos. Alguns afogaram-se ali mesmo... Mas alguns conseguiram correr através do fogo para a areia da praia, e descobrindo que não podiam manter-se ali, voltaram para a água escondendo-se com ela, só com o nariz de fora. Aqueles que sobreviveram continuaram a arrastar-se, protegendo-se aqui e ali atrás de pedras e obstáculos submersos (corpos de mortos) e, desta forma, conseguiram finalmente desembarcar na praia". Os Estados Unidos tiveram durante toda a 2ª Grande Guerra cerca de 400.000 mortos (0,32% da sua população) e nenhum civil, porque o conflito não atingiu o seu território"!
Para os mais distraídos:
"O memorial no cemitério dos arredores de Berlim em Treptower Park presta homenagem aos cerca de meio milhão de soldados soviéticos mortos apenas na batalha pela conquista de Berlim. No cimo de uma pequena colina ergue-se imponente sobre uma capela a estátua do soldado russo com uma criança alemã ao colo protegendo-a da barbárie nazi. Por esse singelo ideal, na totalidade da guerra, a União Soviética sofreu entre 23 a 28 milhões de mortos (entre 11 a 14,2 da sua população)...mas, pelas heróicas contas dos do lado de cá da guerra fria pelo petróleo o Dia D é que teria sido decisivo"!
“Seguramente, os Aliados esperaram pacientemente que Hitler destruísse o regime comunista da URSS e o desembarque na Normandia ocorreu quase ano e meio depois da batalha de Estalinegrado. Churchill no principio da guerra tinha empregue uma expressão que ficou famosa, referindo-se ao regime Soviético saído da Revolução de Outubro: "Há que afogar a criança enquanto ainda está no berço"!
E já agora:
"A vitória sobre os alemães na batalha decisiva de Estalinegrado foi o verdadeiro Dia D - por cada homem tombado nas praias da Normandia morreram cinco em Estalinegrado, dois em Leningrado e muitos outros nos mais diversos sítios. Nos seis meses que durou a maior batalha da história, a Wehrmacht perdeu 1,5 milhões de soldados, e não voltou a recompor-se desta catástrofe gigantesca. A partir daí, iniciou-se o recuo que só viria a terminar com a entrada do Exército Vermelho em Berlim. Por isso, o mundo inteiro compreendeu que, sem Estalinegrado e sem os 20 milhões de soviéticos mortos na guerra, a Europa não se teria libertado da barbárie nazi"!
Retirado “ Luta Unidade e Vitória”
E muito mais haveria que contar, mas já não tenho espaço


Jose disse...

estevesayres orgulhoso das carnificinas de soldados soviéticos!

Quando os chefes tratam as tropas como carne para canhão e saque; e os move a sanha de conquista e domínio, acontecem carnificinas.
E entre a barbárie nazi e a barbárie soviética, venha o diabo e escolha!

João Ramos de Almeida disse...

Caro Pedro,

É evidente que se tratou de um esforço conjunto. E tem toda a razão com as achegas dadas. Tais como as estevesayres e até as achegas do José - nem sempre muito úteis - são de agradecer, se expurgadas dos comentários mais emotivos... :-)

Apenas quis relativizar os esforços presentes de marketing político, em meu entender tentando capitalizar algo que não aconteceu na Normandia (o dia decisivo para o fim da guerra) para um desígnio político actual, precisamente num contexto de fortes tensões entre "aliados". E que passa em repeat nos Media como se fosse - de facto - História. Tudo o mais é útil saber e divulgar.

Muito obrigado.

Paulo Marques disse...

Já sobre o que fazia e mandava fazer o seu querido líder, Jose nunca nada disse. Eram pretos, não contam.

Jaime Santos disse...

Os EUA mostraram, João Ramos de Almeida, que o seu sistema era superior em todos os aspetos. A URSS colapsou vergada pelo peso das despesas em defesa e pela total ineficácia de um sistema planificado incapaz de produzir bens de consumo ou sequer de fornecer à sua população bens de primeira necessidade. E isto já era claro para alguns nos anos 70, muito antes de Gorbachev...

E você queixa-se de quê? Que a contribuição fundamental para a derrota do Nazismo dada pela URSS (bem abastecida pelo 'lend and lease', como se esqueceu de referir, ver https://en.wikipedia.org/wiki/Lend-Lease) é esquecida ou menorizada pelos vencedores? Para a próxima lembre-se antes de apoiar um sistema viável, em lugar de chorar por um que só conseguiu copiar o capitalismo naquilo que ele tem de pior, o Monopólio...

vitor disse...

O tanto que se disse em Portugal também sobre o dia D nem chega a ser uma tentativa de reescrever a história. É ignorância pura e dura. Imagine-se o que era alguém dizer-lhes que tanta mortandade só visou que os russos não chegassem a Berlim primeiro e fossem donos e senhores de todos os despojos da guerra. E pagaram bem por eles.

Anónimo disse...

O dia D sendo, sem dúvida, memorável do ponto de vista logístico e operacional foi uma batalha menor do ponto de vista militar. Basta recorrer à Wikipédia para se concluir que, cito, "As vítimas alemãs no Dia D estimaram-se entre 4 000 e 9 000 homens. No lado Aliado, as vítimas ascenderam a 10 000, com 4 414 mortos confirmados."

O sucesso final do dia D resultou de um outro dia, o dia 23 de Junho de 1944, com o início da Operação Bagration, na frente leste, operação prevista pelo comando inter-aliado e respeitada escrupulosamente pelo comando soviético. Nessa operação, volto a citar a Wikipédia o "Grupo de Exércitos Central (alemão) foi quase completamente destruído. Perdas materiais: 2000 tanques e 57000 veículos. Além de cerca de 400 mil mortos.Perdas do lado soviético: 2957 tanques e 2447 peças de artilharia, 822 aeronaves. Perdas humanas: 180.040 mortos e desaparecidos e 590 848 feridos."


A diferença e grandeza dos números das duas operações relamente esmaga. Termino referindo que a operação Bagration não é estudada na Academia Militar Portuguesa. Vá-se lá saber porquê...

Pedro disse...

Jaime Santos.

É impossível ter esta conversa em termos racionais por causa do clubismo de ambas as partes.

Mas NÂO há qualquer prova que o comunismo seja inferior ao capitalismo.

Para o colapso dos estados comunistas servir de prova, esses estados deveriam estar pelo menos ao mesmo nível de desenvolvimento dos outros países capitalistas ANTES de se terem tornado comunistas.

Ou seja, teriam de estar ao nível de desenvolvimento de uns EUA ou GB quando se tornaram comunistas.

Mas o que vimos é que o comunismo só se instalou em economias muito atrasadas, que depois foram competir com as mais avançadas do mundo capitalista.

Será que o colapso da Rússia prova a inferioridade do comunismo ou a inferioridade da Rússia ?

Imaginemos que não tinha existido revolução comunista em 1917..

Será que a Rússia czarista faria melhor figura numa competição com as potências ocidentais ?

O que vemos desde os final das guerras napoleónicas é a Rússia ter perdido o comboio da industrialização, com a consequência de ter perdido todas as guerras com grandes potências. Perdeu a guerra da Crimeia, a guerra russo-japonesa, a I GM. E não foi por acaso, foi por sub-desenvolvimento. - até á vitória comunista na II GM… Precisamente depois da industrialização levada a cabo pelos comunistas.


O que vemos 30 anos depois da queda do comunismo é que a Rússia capitalista é muito mais fraca do que foi a URSS no seu apogeu.

Mesmo a maior parte da força que Putin detém, deve-a principalmente ao aparelho militar montado pela URSS.

Aónio Eliphis disse...

Tecnicamente o dia D foi uma mera escaramuça, quando compaeado com a operação Bagration ou mesmo com a operação Citadela e respetiva batalha de Kursk.

Jose disse...

Suponho que o ruído do Marques, aparentemente incomodado que descreiam na humanidade da liderança soviética, vem com a cena dos 'pretos coitadinhos' referindo-se aos humanistas africanos que de armas na mão lutaram por uma pátria que o colonialismo construiu para eles e que denodadamente reduziram a cinzas logo que lhes deram essa oportunidade.

Nada como mudar de assunto para conduzir a luta pela idiotia generalizada.

Jose disse...

«... esses estados deveriam estar pelo menos ao mesmo nível de desenvolvimento dos outros países capitalistas ANTES de se terem tornado comunistas»

'Clubismo' é mito pouco para não reconhecer a Alemanha Leste/Oeste. Será mais o que falta do que o que se tem.

Pedro disse...

Caro Jose.

Sim, pessoas sem conhecimento da situação costumam fazer essa comparação da Alemanha este/oeste,

Acontece que não se pode fazer essa comparação para efeitos de comparar a viabilidade de regimes, simplesmente porque a Alemanha não foi dividida em termos iguais.

- A Alemanha de leste tinha apenas cerca de um terço do território e da população da Alemanha ocidental.

- A Alemanha de leste ficou com a parte menos industrializada e com menos recursos naturais da Alemanha.

- A Alemanha de leste perdeu o acesso ao porto de Hamburgo com o qual a economia da região estava estruturada.

- A Alemanha ocidental beneficiou de ajudas colossais dos seus aliados ocidentais.

- A Alemanha de leste não só não beneficiou das ajudas ocidentais como ainda viu parte da sua indústria e recursos serem transferidos para a Rússia a título de reparações de guerra.

- Muitos territórios integrantes da economia da região oriental da Alemanha foram anexados pela polónia e Rússia, enfraquecendo o potencial económico da Alemanha oriental.

- A Alemanha ocidental ficou ligada ao bloco económico mais rico e avançado e a de leste ao mais pobre e atrasado.

- O que era de longe o principal centro urbano, económico e industrial da Alemanha de leste e que estruturava toda a economia da região, a cidade de Berlim, ficou em metade nas mãos dos ocidentais, ainda mais enfraquecendo e desarticulando a economia do leste alemão.

Por tudo isto se torna impossível usar seriamente as duas alemanhas como provas de aferição da viabilidade dos dois regimes.

Jose disse...

Pedro, faço votos que o único problema seja pouca idade e pouco conhecimento.

Pedro disse...

Consegue rebater algum dos factos que referi ?

Por exemplo, o maior centro económico do leste alemão, Berlim, não ficou dividido em dois ?

Você nem fazia a mímica ideia das condições em que alemanha foi dividida pois não ?

Armar-se aos cágados para esconder a própria ignorância é triste.