O vídeo de hoje dá continuidade ao anterior ao aprofundar a relação do défice público com a economia do país. Trata-se de divulgar, em linguagem acessível a todos, o conceito de “finanças públicas funcionais”, defendido por Abba Lerner, que está banido dos cursos de Economia:
Uma das formas mais eficazes de dissipar a mais grave de todas as confusões semânticas consiste em salientar que a dívida privada difere da dívida pública por ser externa... Uma variante da falsa analogia é a declaração de que a dívida pública representa um encargo injusto para os nossos filhos, que são assim obrigados a pagar as nossas extravagâncias. Muito poucos economistas precisam de ser recordados de que, se os nossos filhos ou netos pagarem parte da dívida nacional, esses pagamentos serão feitos aos nossos filhos ou netos e a mais ninguém. Tomando-os no seu conjunto, eles não ficarão mais pobres fazendo os pagamentos do que mais ricos ao recebê-los. [Abba Lerner, The Burden of the National Debt, 1948]Esta citação de Lerner encontra-se num texto do economista e académico sueco Lars Syll, aqui. Para quem não puder ler o artigo, deixo a tradução deste parágrafo:
Tanto para Keynes como para Lerner, era evidente que o Estado tinha a capacidade de promover o pleno emprego e um nível de preços estável - e que deveria usar os seus poderes para o fazer. Se isso significava que tinha de contrair uma dívida e (mais ou menos temporariamente) desequilibrar o seu orçamento - que assim fosse! A dívida pública não é boa nem má. É um meio para alcançar dois objectivos macroeconómicos abrangentes - o pleno emprego e a estabilidade dos preços. O que é sagrado não é ter um orçamento equilibrado ou reduzir a dívida pública por si, independentemente dos efeitos sobre os objectivos macroeconómicos. Se "finanças sãs", austeridade e orçamentos equilibrados significam aumento do desemprego e preços desestabilizadores, então têm que ser abandonados.
29 comentários:
Não percebo o sentido do que é dito em
"Muito poucos economistas precisam de ser recordados de que, se os nossos filhos ou netos pagarem parte da dívida nacional, esses pagamentos serão feitos aos nossos filhos ou netos e a mais ninguém. Tomando-os no seu conjunto, eles não ficarão mais pobres fazendo os pagamentos do que mais ricos ao recebê-los."
A dívida é diferida no tempo, terão à mesma de ser os vindouros a pagar. Qual é o contra-senso que o autor quer explicar? Não vejo onde isso contrarie os que argumentam que se está a deixar os pagamentos para os filhos e os netos.
Pode explicitar?
Boa malha, professor!
Falando de recessões, talvez não tenhamos que esperar muito tempo:
https://www.businessinsider.com/germany-just-went-into-a-recession-2019-1
E já agora proponho um exercício interessante. Vão ao site do Business Insider https://www.businessinsider.com e façam uma busca com as palavras Germany Recession. Reparem o quão bem sucedida a Alemanha tem sido com com as suas políticas m_rdosas:
Goldman Lowers Growth Forecasts For The World, Predicts Recession In France And Germany
Gus Lubin Oct. 4, 2011
Germany Will Avoid Recession Even As 2012 Growth Slows
AP Jan. 18, 2012
Germany Just Avoided Recession By A Hair
Mike Bird Nov. 14, 2014
Etc., etc., etc., etc....
Também no mesmo site merece leitura:
https://www.businessinsider.com/austerity-has-damaged-europe-vs-us-gdp-growth-2018-11?r=US&IR=T
Mas voltando ao presente. Porquê esta recessão que parece apanhar desprevenidos a maior parte dos observadores?
Em minha humilde opinião podemos estar a ver o resultado da fragilidade de que já tinhamos falado em comentários passados. A saber: Uma economia pesadamente dependente das exportações é muito mais frágil do que pode parecer porque qualquer flutuação na procura a nível internacional tem efeitos muito maiores.
Ora o que tem estado a acontecer é o aumento das taxas de juro americanas e o abrandamento da economia chinesa. Ambos estes factores determinam uma contracção no comércio a nível mundial. Por estranho que isso possa parecer a alguns, os recentes indícios de que o governo chinês estaria a preparar (mais) um pacote de estímulos à sua economia, aumentando ainda mais a já descomunal pilha de crédito no sistema bancário da RPC pode ser a tábua de salvação para os miserabilistas germânicos que vivem de esmifrar a procura criada por outros governos.
S.T.
Curiosamente os objectivos económicos que Jorge Bateira refere (Pleno Emprego e Controle da Inflação) são também os que constam do duplo mandato da maioria dos bancos centrais dignos desse nome, entre os quais o FED.
Cabe aqui recordar que o ECB/BCE por defeito "de fabrico" ou por falha intencional tem apenas como mandato a estabilidade dos preços. Isso permite que durante anos sucessivos muitos dos países da EU tenham valores de desemprego escandalosos a todos os títulos. E, recorde-se também, que o desemprego corresponde a uma capacidade produtiva que jamais será recuperada porque o tempo não volta atrás e as horas de trabalho não aproveitadas são pura perda.
Os gráficos do artigo do Business Insider que acima referi são eloquentes quanto ao "output gap".
(https://www.businessinsider.com/austerity-has-damaged-europe-vs-us-gdp-growth-2018-11?r=US&IR=T)
S.T.
O que Keynes defendia era um equilíbrio de contas ao longo de todo o ciclo económico. O que a 'permanent war economy' que apareceu depois da Segunda Guerra Mundial defende é o paradoxo da Rainha Vermelha, é preciso correr muito para permanecer no mesmo lugar (a deputada Mariana Mortágua até se lembrou desta imagem em tempos, para ilustrar um ponto diferente, claro), ou seja aumenta-se o PIB sempre (de preferência a mais de 3% ao ano), para que a razão Dívida Pública/PIB permaneça constante.
Sucede que as condições para tal crescimento quase que desapareceram nas economias desenvolvidas ocidentais. Não venha dizer que a China faz e acontece, porque se eu pudesse violar direitos políticos, laborais e ambientais como eles também o fazia, mas felizmente não posso. E depois, ninguém sabe muito bem o estado do sistema financeiro deles...
E é essa a receita que o Jorge Bateira e outros nos querem servir, que por acaso falhou redondamente nos anos 70, but never mind...
O setor público padece de um grande mal. Gasta o que pode e o que não pode. Não há coisa pior que um funcionário público superior com um cartão de crédito (é uma caricatura, é evidente)... Se as 'finanças públicas sãs' são uma desculpa para uma gestão austera dos parcos recursos do Estado, são muito bem vindas...
Claro, de nada vale apertar o cinto do lado público se do lado privado se acumula dívida que depois vai ter que ser coberta pelo Estado. Mas isso é razão para apertar o cerco aos bancos e aos banqueiros, não para abrir os cordões à bolsa do lado do Estado...
Por isso, viva Mário Centeno, o controleiro da despesa pública, que contra o que é costume, é um Ministro das Finanças popular...
Mais do que uma vez, há muitas legislaturas, temos visto Ministros a justificarem as "suas" dificuldades na gestão do País por causa da dívida. Não esclarecem que a essencialmente significante dívida, que deles depende, a pública, foi -para fins eleitoralistas- criada pela "sua" classe política
Haaaa, eu sabia que tinha lido algures estas ideias sobre a recessão da Alemanha.
Lembrei-me agora que foi nesta thread de Ashoka Mody:
https://threadreaderapp.com/thread/1082972034559369216.html
Nada como citar as fontes!
Ashoka Mody adverte que esta recessão irá reforçar a relutância da Alemanha em suportar a EU.
E isto é de uma extrema ironia, porque são eles (os governantes alemães) que criaram as condições para a crise e a divergência, são eles que andaram a empastelar a crise durante anos, são eles que a agravaram e agora que a recessão os atinge têm o pretexto perfeito de em nada contribuir porque coitadinhos não podem. LOL
S.T.
Quanto ao anónimo de 11 de janeiro de 2019 às 10:49, sem prejuízo de melhor resposta que o autor do post queira dar, há uma resposta muito simples:
Que me conste nenhuma geração levou para o outro mundo as obras públicas, a educação e as infraestruturas criadas com dívida pública. Ficou tudo cá para usufruto das gerações que se seguem, e entretanto já exerceram durante anos os seus efeitos úteis, multiplicando o conforto e as oportunidades económicas do país.
Isto é, os efeitos multiplicadores na economia de um país superam largamente os juros pagos.
Isso torna-se óbvio quando se consultam as taxas de juro da dívida pública descontado o efeito da inflação em séries longas.
Bem, com uma notável excepção: A guerra destrói infraestruturas, investimentos em educação, vidas e tudo o mais que aparecer á frente.
S.T.
E Porque Não?
Porque razão o Estado não *cria o Dinheiro q precisa* , em parte ou mesmo na totalidade, a partir do Nada* .
Tal e Qual como fazem os Bancos, q *CRIAM a Partir do NADA,(crédito) o DINHEIRO* que emprestam às familias, às empresas e ao *ESTADO* , e pelo qual *cobram juros* !
Não seria mais fàcil e lucrativo o(s) ESTADO(s) retirar(em) esse monopolio/privilégio das mãos da BANCA PRIVADA e colocala nas suas proprias mãos ao serviço do Povo e da Economia Real!??
Assim se criava Riqueza sem necessariamente se criar Divida, porque se criava a moeda equivalente à Riquesa criada!
O actual 'Sistema' implica que quando na economia se trabalha mais e se aumenta produção/riqueza , para não haver deflacção , se tenha que *aumentar a massa monetaria* , que no actual sistema monetario em que vivemos implica mais crédito, ou seja, mais DIVIDA!
Sendo assim, globalmente, quanto mais a ECONOMIA REAL produzir mais ENDIVIDADA fica, e mais a ECONOMIA PARASITA(1) a (BANCA) *LUCRA*
(1) Parasita é todo o 'ser vivo, virus, bacteria, insecto ou planta' que não produz nada e vive parasitar os outros! Ex.:Pulgas, Carraças e.... certos Josés e Grilhetas de Bruxelas ""Santos"
Jaime Santos anda quarenta anos atrasado. É lamentável que ainda confunda uma conjuntura de baixíssima inflação a raiar a deflação e de uma política monetária e fiscal estúpidamente restritivas com a estagflação dos anos setenta do século passado.
Enfim, quem não sabe melhor diz bacoradas...
S.T.
Revendo um meu comentário acima reparo que escrevi um disparate ao dizer "... que o desemprego corresponde a uma capacidade produtiva que jamais será recuperada porque o tempo não volta atrás e as horas de trabalho não aproveitadas são pura perda."
Eu queria dizer que a produção correspondente às horas não trabalhadas não é recuperável. A capacidade produtiva é recuperável caso haja condições para tal e embora requeira um certo tempo. Corresponde àquilo que se chama fechar o "output gap".
Chamo também a atenção do Sr Jaime Santos para os dois bonecos que ilustram as bacoradas da austeridade europeia que tanto defende em comparação com os muito capitalistas USA:
https://amp.businessinsider.com/images/5bfec826f556fc36491a02d5-960-471.png
(Do mesmo artigo do Business Insider)
S.T.
E já agora veja-se um video em que o professor Steve Keen explica por que é que um orçamento governamental excedentário à moda alemã é uma cretinice económica:
https://renegadeinc.com/prof-steve-keen-government-surplus/
S.T.
"O que Keynes defendia era um equilíbrio de contas ao longo de todo o ciclo económico."
Nem por isso, vá ler outra vez. Isso foi um lapso momentâneo enquanto escrevia sobre a outra parte, mas não teve oportunidade de rever. Não falta quem tenha continuado.
As exportações são um custo à qualidade de vida, estamos a trabalhar para que outros disfrutem. Podem fazer sentido por várias razões, mas não deixam de ser um custo pesado.
Ainda em relação à pergunta do Anónimo das 10.49, parece-me que faltou dizer o seguinte na resposta de S.T.
O que o autor citado pretende dizer é que, sendo a dívida contraída junto de cidadãos nacionais (parte da dívida, como ele diz; porque poderá haver dívida contraída no exterior, a cidadãos ou entidades externas ao país), essa dívida será reembolsada ao longo do tempo pelos futuros contribuintes(filhos e netos) aos filhos e netos daqueles que hoje detêm esses créditos. Portanto, no conjunto, a sociedade não ficará pior. Sobretudo, como diz S.T., se essa dívida servir para desenvolver o país. Quando muito, poderia haver uma transferência de riqueza dos contribuintes para os aforradores que, em muitos casos, convergem na mesma pessoa.
Ainda a propósito da dívida e das gerações futuras, este texto de Paul de Grauwe é instrutivo:
http://escoriallaan.blogspot.com/2018/12/who-should-pay-for-cost-of-climate.html?link_id=13&can_id=8079c6bfcc569f5d6aa57cb69f5a88d9&source=email-dont-believe-them-quantitative-easing-is-here-to-stay&email_referrer=email_467904___subject_600412&email_subject=quantitative-easing-is-here-to-stay
Quem cria dinheiro a partir do nada é o BCE,não os bancos. O BCE é uma entidade interdependente, pertence ao povo, sendo os seus dirigentes nomeados pelos governos. Também a carta de objetivos do BCE é da responsabilidade de governos, a quem o BCE paga dividendos. É uma lógica de divisão e limitacao de poderes
Por acaso não é verdade que só o BCE crie dinheiro a partir do nada.
Aliás o BCE só faz esse "truque" em circunstâncias específicas.
A "criação de dinheiro" em economias modernas faz-se, básicamente e simplificando, por duas vias:
---Através do direito de seigneuriage dos bancos centrais, que se pode revestir de várias formas para lá da mais óbvia que consiste em pôr a impressora das notas a funcionar.
---Através da criação de crédito, neste caso "criado" pelos bancos comerciais dentro dos limites estipulados pelos bancos centrais. Mas não é só o BCE que "cria dinheiro a partir do nada". Há muitos videos bem feitinhos (uns mais do que os outros) no YouTube sobre esse assunto. A maioria refere-se ao sistema de reserva fraccionária, tal como funciona o FED nos USA.
Se houver interesse podemos discutir a criação de moeda que é realmente um assunto fascinante. E podemos falar de porque não é viável a criação de moeda exclusivamente por direito de seigneiriage pelos bancos centrais como proposto num comentário mais acima.
Para já deixá-los-ia com três nomes de três fantásticas mulheres que são autoridades na questão e cujos artigos e trabalhos podem procurar na net.
S.T.
São elas, Frances Copolla, Ann Pettifor e Brigitte Granville
Estou a gostar de ler este artigo de Ann Pettifor:
https://www.opendemocracy.net/ourkingdom/ann-pettifor/power-to-create-money-out-of-thin-air
Ainda não cheguei ao fim e já vi exemplos de economistas, alguns altamente credenciados, que se espalham ao comprido nas questões de criação de moeda e de crédito.
Prova que o assunto não é para fracos.
Divirtam-se! (Os que lhe puderem meter o dente!) Só para falantes de inglês, sorry!
S.T.
Caro S.T.
No seu comentario de 16/01/2019 às 20:48 mostrou-se disponivel para falar de criação sobre *criação de moeda* .A sua opinião, que eu muito prezo, serà muito bem vinda pois, não sendo Economista tenho mais dificuldade em compreender os mecanismos da Economia. Tenho a univ. da P. da Vida!
Eu sou bastante critico do actual sistema de multiplicação quase infinita de Moeda através do Crédito, tendo como limitação, (travão muito fraco) apenas a 'Reserva Fracionaria' , podendo mesmo esta, quando os Bancos Não agem de *Boa Fé* ,ser manipulada!
o Crédito tem a vantagem de ser uma *Moeda selectiva e com um tempo de vida pré-determinado mas também, se não controlado, pode ser uma *bomba deflaccionaria e recessiva* ,Grande criadora de crises economicas como a que vivemos hoje, razão pela qual eu preferia que o "dinheiro" que os Bancos emprestam fosse mesmo *moeda fiduciaria (real)* ,moeda essa que tivessem que ir buscar na totalidade (negociavel) ao BANCO CENTRAL, e não moeda criada a partir do nada como hoje!
Até porque, moralmente, o (Super) "Petroleo" (Criação de Moeda) é do POVO, porque é o mesmo POVO quem tem que Aguentar com os "Desastres Ambientais dos Derrames de Petroleo" (crises Financeiras & Falências de Bancos)!
__Ou em alternativa nacionalizar ou expropriar todo *Sistema Bancario, (que jà podia criar Moeda através de Crédito) e Activos Fisicos dos mesmos (Empresas)* ,não tocando no "Direito de Propriedade" sobre as Empresas dos Sectores Produtivo e Comercio.
Esta ultima alternativa resolveria em parte a Hiper-concentação de Riqueza em cada Pais e no Mundo.
Todavia, Roma e Pavia não se Fizeram no mesmo Dia!
Caro S.T.
No seu comentario de 16/01/2019 às 20:48 mostrou-se disponivel para falar sobre *criação de moeda* .A sua opinião, que eu muito prezo, serà muito bem vinda pois, não sendo Economista tenho mais dificuldade em compreender os mecanismos da Economia. Tenho a univ. da P. da Vida!
Eu sou bastante critico do actual sistema de multiplicação quase infinita de Moeda através do Crédito, tendo como limitação, (travão muito fraco) apenas a 'Reserva Fracionaria' , podendo mesmo esta, quando os Bancos Não agem de *Boa Fé* ,ser manipulada!
o Crédito tem a vantagem de ser uma *Moeda selectiva e com um tempo de vida pré-determinado mas também, se não controlado, pode ser uma *bomba deflaccionaria e recessiva* ,Grande criadora de crises economicas como a que vivemos hoje, razão pela qual eu preferia que o "dinheiro" que os Bancos emprestam fosse mesmo *moeda fiduciaria (real)* ,moeda essa que tivessem que ir buscar na totalidade (negociavel) ao BANCO CENTRAL, e não moeda criada a partir do nada, como hoje!
Até porque, moralmente, o (Super) "Petroleo" (Criação de Moeda) é do POVO, porque é o mesmo POVO quem tem que Aguentar com os "Desastres Ambientais dos Derrames de Petroleo" (crises Financeiras & Falências de Bancos)!
__Ou em alternativa nacionalizar ou mesmo expropriar todo *Sistema Bancario, (que jà podia criar Moeda através de Crédito) e Activos Fisicos dos mesmos (Empresas)* ,não tocando no "Direito de Propriedade" sobre as Empresas dos Sectores Produtivo e Comercio.
Esta ultima alternativa resolveria em parte a Hiper-concentação de Riqueza em cada Pais e no Mundo.
Todavia, Roma e Pavia não se Fizeram no mesmo Dia!
@Emigrante 2013
Encontra no artigo da Ann Pettifor a justificação para que o fornecimento de moeda não seja exclusivamente através do direito de seigneuriage dos bancos centrais.
Estes são os parágrafos mais relevantes para esta questão:
"However, whilst public authorities may best set the regulatory framework, I do not believe that civil servants are best placed to make the myriad daily decisions on the risk-assessment and allocation of credit to small and large borrowers. Private commercial bankers and their loan clerks, on the other hand, operating within a well regulated and legally enforceable framework which must include capital control, have a legitimate role to play in assessing the risk of millions of small and large projects seeking finance; and in allocating credit. For this, they would be entitled to earn a small but reasonable fee, as was so in the past."
"Limiting the quantity of credit creation to a fixed sum to be decided by civil servants would impose deflationary forces on the economy – just as the gold standard did. It would limit the ability of society to finance the multitude of varied, complex, affordable and sustainable activities needed to achieve the transformation of the global economy away from fossil fuels.
But limiting the quantity of credit is also a hopeless endeavour in a world of innovative and subversive finance: peer-to-peer lending, crowd-funding and alternative currencies.
Far better for the achievement of economic, political and ecological stability would be regulation of the commercial banking system; and of the quality, issuance and ‘price’ of the public good that is credit. "
Digamos assim resumidamente que a complexidade das relações financeiras e das necessidades de financiamento das nossas economias modernas implicaria a constituição de uma monstruosa burocracia estatal para gerir a criação de moeda. Para quê reinventar a roda? Os bancos existem e podem ser regulados para cumprirem as funções para que foram criados.
Por outro lado engana-se em atribuir ao crédito efeitos deflacionários. Antes pelo contrário, a expansão monetária associada à concessão de créditos tem um efeito inflacionário.
Se reparar Ann Pettifor explica até que a chamada reserva fraccionária não coloca travão nem limitação de espécie alguma ao crédito. Ou melhor, na realidade o FED já não funciona segundo o princípio das reservas fraccionárias.
O que propõe é a tese das reservas bancárias a 100%, em que os bancos apenas emprestariam até ao limite dos seus activos. Também isso é tratado no artigo da Ann Pettifor, para o qual mais uma vez remeto pela sageza que reconheço à senhora.
S.T.
Você está enganado e bem enganado.
Se quiser saber, escreva no Google : "como os bancos criam dinheiro a partir do nada" : "reserva fraccionaria" ou "como os bancos criam dinheiro através do crédito" , etc., etc.
Se ainda assim não conseguir (ou quiser entender) , pode também aumentar a sua Cultura pesquisando no Google : "viés cognitivo" ou "viés ideológico"
Presumo que as minhas respostas ao Emigrante 2013 não tenha agradado.
Estou enganado? Não me diga?
Paciência. Tenho todo o gosto em falhar testes de ortodoxia. Como devem entender as minhas buscas no Google costumam ser um bocadinho mais sofisticadas e a minha escolha de fontes e autores um bocadinho mais estrita.
Além disso não vejo grande interesse em nacionalizar coisas em vias de obsolescência, e é muito provável que novas tecnologias, com as chamadas fin-tech tornem obsoletas a maior parte das funções actualmente desempenhadas pelos bancos. Muito mais útil será portanto seguir com atenção estas novas fin-tech e os quadros regulamentares que as devem enquadrar.
Quanto ao meu suposto "viés ideológico", como nunca me reivindiquei de nenhuma ortodoxia convém que me digam em relação a quê, quanto mais não seja para minha orientação. Kapish?
S.T.
S.T.
O seu link contradiz-lo. Os bancos ao fazer empréstimos criam um depósito e uma obrigação sua de conseguir responder ao levantamento. Isto pode ser feito através de uma transação no mercado interbancário ou com o banco central a uma taxa fixa, mas só este último introduz dinheiro novo no sistema.
Apesar de tudo, crédito não é dinheiro, porque quando falham é sempre o banco central que cria o dinheiro que restabelece a normalidade.
Caro Anónimo de 16/01/2019 às 09:50 .
Ao ler o seu comentário cometi o erro de pensar que o senhor estava a repetir o mesmo , o que me levou a responder de uma forma menos diplomática, acto do qual peço desculpa.
Viés , ou melhor, Viéses cognitivos , dos quais o o viés ideológico faz parte, Toda gente Tem, aliás isso é uma Importante Disciplina de Psicologia!
Um contributo para o debate
1 - Artigo de Richard Werner:
«How do banks create money, and why can other firms not do the same? An explanation for the coexistence of lending and deposit-taking»
Um exemplo citado relativo ao Barclays:
««In other words, banks could simply invent the money that is then used to increase their capital. This is what Barclays Bank did in 2008,in order to avoid the use of tax money to shore up the bank's capital: Barclays ‘raised’ £5.8 bn in new equity from Gulf sovereign wealth investors— by, it has transpired, lending them the money! As is explained in Werner (2014a), Barclays implemented a standard loan operation, thus inventing the £5.8 bn deposit ‘lent’ to the investor. This deposit was then used to ‘purchase’ the newly issued Barclays shares. Thus in this case the bank liability originating from the bank loan to the Gulf investor transmuted from (1) an accounts payable liability to (2) a customer deposit liability, to finally end up as (3) equity — another category on the liability side of the bank's balance sheet. Effectively, Barclays invented its own capital.»
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1057521914001434
2- Banco de Inglaterrra:
“Money today is a form of debt, but a special kind of debt that is accepted as the medium of exchange in the economy.[…] Commercial banks create money, in the form of bank deposits, by making new loans […] the repayment of bank loans destroys money»
https://www.bankofengland.co.uk/quarterly-bulletin/2014/q1/money-in-the-modern-economy-an-introduction
Ver vídeo no site do Banco de Inglaterra: https://www.youtube.com/watch?v=ziTE32hiWdk
@ Paulo Marques
Comecemos pelo seu último parágrafo.
"Apesar de tudo, crédito não é dinheiro, porque quando falham é sempre o banco central que cria o dinheiro que restabelece a normalidade."
Crédito, concedido por um banco, é dinheiro numa conta bancária titulada por quem pede o empréstimo. Para todos os efeitos pode dispôr desse dinheiro. Em troca fica com uma dívida para com o banco. E essa dívida constitui um activo do banco.
Não é verdade que "quando os bancos falham o banco central cria o dinheiro que restabelece a normalidade". No caso que referi noutro comentário a um video em que Ben Bernanke diz que tinham lá no FED um computador e que bastava creditar a conta do banco esse "creditar" corresponde a um empréstimo, não a uma dádiva.
Frances Copolla explica as limitações à criação monetária através do crédito neste artigo da Forbes:
https://www.forbes.com/sites/francescoppola/2017/10/31/how-bank-lending-really-creates-money-and-why-the-magic-money-tree-is-not-cost-free/#39dfcead3073
Tem o interesse adicional de explicar questões como as causas da hiperinflação e muitos outros pequenos detalhes da arquitectura financeira moderna. Muito bom artigo. É uma correcção a um outro artigo do Guardian.
"Money is created when banks lend. The rules of double entry accounting dictate that when banks create a new loan asset, they must also create an equal and opposite liability, in the form of a new demand deposit. This demand deposit, like all other customer deposits, is included in central banks’ measures of broad money. In this sense, therefore, when banks lend they create money. But this money has in no sense been “spirited from thin air”. It is fully backed by a new asset – a loan."
"Commercial banks’ ability to create money is constrained by capital. When a bank creates a new loan, with an associated new deposit, the bank’s balance sheet size increases, and the proportion of the balance sheet that is made up of equity (shareholders’ funds, as opposed to customer deposits, which are debt, not equity) decreases. If the bank lends so much that its equity slice approaches zero – as happened in some banks prior to the financial crisis – even a very small fall in asset prices is enough to render it insolvent. Regulatory capital requirements are intended to ensure that banks never reach such a fragile position. We can argue about whether those requirements are fit for purpose, but to imply – as Williams does – that banks can lend without restraint is simply wrong. There is no "magic money tree" in commercial banking."
De utilidade também para se perceber as diferenças de funcionamento de bancos comerciais e bancos centrais é este pdf do SNB, com um discurso do seu presidente antecedendo o referendo que foi feito na Suiça sobre o chamado "sovereign money", que implicava retirar aos bancos comerciais a capacidade de gerarem moeda através da criação de crédito:
https://snb.ch/en/mmr/speeches/id/ref_20180116_tjn/source/ref_20180116_tjn.en.pdf
Convém esclarecer também que os bancos podem recorrer ao mercado interbancário para refinanciarem operações de crédito, mas isso corresponde a um negócio de compra e venda de créditos. Os créditos do banco central aos bancos comerciais "criam moeda" e aumentam o balanço do banco central, mas são revertidos quando o crédito é pago. E funcionam no domínio do "central bank money" com regras diferentes da banca comercial.
O caso do Barclays referido no comentário de José M. Sousa parece-me uma situação excepcional, uma "espertalhozice" que só terá sido tolerada pelo BoE em função da necessidade de impedir o colapso do banco. Se bem estou a compreender o Barclays financiou com um crédito a compra de acções correspondente a um aumento de capital do próprio banco.
É realmente um "cunning plan". LOL
Dada a complexidade do assunto não hesitem em colocar dúvidas ou correcções. Afinal até prémios nobel se espalharam ao comprido nestas matérias...
S.T.
De maior interesse para o tema original do post é este video da Sra Ann Pettifor:
https://www.youtube.com/watch?v=F4eGTY6RWeg
S.T.
Como é óbvio o pdf do BoE é excelente e as explicações de Richard Werner também.
Há aliás um óptimo video dele no YouTube que vale a pena ver:
https://www.youtube.com/watch?v=qpq2eqz6mR0
Grande parte dos problemas económicos que enfrentamos derivam da escandalosa incultura económica da nossa classe política e também das limitações de um eleitorado e uma opinião pública anestesiada que não os desmascara.
S.T.
Artigo sobre as FinTech e particularmente sobre a licença para a EU que a Google obteve em Dezembro passado.
https://www.paymentscardsandmobile.com/google-granted-e-money-licence-for-eu/
Ainda não é claro se as FinTech conseguirão substituir os bancos nas funções que actualmente desempenham. Uma hipótese que me ocorreu é as FinTech funcionarem como uma interface entre os bancos e o público. Agora imaginem os dados que a Google já tem sobre cada um adicionados com o conhecimento de todos os nossos passos financeiros.
S.T.
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