sábado, 2 de setembro de 2017

Entre a emancipação e os impotentes

Duas questões sobre o conflito laboral na Autoeuropa.

A primeira, sobre o que está em causa. A segunda, sobre o que a comunicação social acha que está em causa.

Em resumo, como é que um conflito laboral, detonado por uma tentativa patronal de piorar as condições de trabalho sem que Governo tivesse interferido (o Estado financia a Autoeuropa e nada disse), se torna - ao passar pelo crivo da comunicação social - numa guerra partidária que prejudica o país?

Primeiro. O que estava em causa? O conflito na Autoeuropa é eminentemente laboral. Uma entidade patronal quis introduzir, por dois anos, um novo horário de trabalho em que, com a criação de mais um turno de trabalho, o dia de sábado passava a ser um dia normal de trabalho e pago como um dia nornal de trabalho. Ou seja, o trabalhador apenas teria dois dias de folga seguidos de seis em seis semanas de trabalho, quando, a juntar ao dia de folga fixa, domingo, a folga rotativa fosse ao sábado ou à segunda-feira.

Esta alteração seria feita sem privilegiar novas contratações (diz a empresa: "está a contratar cerca de dois mil colaboradores, dos quais 750 são para implementar um sexto dia semanal de produção"), tendo em vista a criação de um modelo de veículo aparentemente de elevada taxa de lucro.


Acresce que, para compensar esse agravamento do ritmo de trabalho (dois dias de folga seguidos é melhor do que dois dias de folga separados), a entidade patronal oferecia 175 euros mensais por trabalhador quando esse novo turno, segundo as regras em vigor, custaria os 400 euros. Porquê? Porque muito desse tempo teria de ser pago como horas extraordinárias e trabalho nocturno. Ou seja, ao oferecer 175 euros, a empresa estaria a poupar 225 euros por trabalhador. Sabendo disso, a empresa ofereceu mais um dia de férias.

Convém lembrar que esta diferença é a que decorre já das alterações à legislação laboral de 2012, que cortaram para metade o preço das horas extraordinárias, do trabalho nocturno, tornaram quase gratuito o trabalho em dia feriado e que acabaram com o descanso obrigatório por trabalho extraordinário. Ou ainda as alterações na redução do período considerado trabalho nocturno, introduzidas com a criação e revisão do Código do Trabalho, que considerou que trabalhar de noite é apenas a partir das 22h...

A alteração do horário de trabalho que se quis introduzir entronca, porém, em várias preocupações dos trabalhadores, resumidas na ideia transmitida pelos dirigentes sindicais com “o dinheiro não é tudo”:

1) durante dois anos, a vida familiar dos trabalhadores iria ser prejudicada;
2) caso houvesse um pico de produção, receiava-se que se tivesse de trabalhar mais do que seis dias seguidos; 
3) um receio igualmente sobre o futuro: os novos contratos individuais de trabalho, para os jovens admitidos, já incluem uma cláusula em que podem trabalhar de 2ªfeira a domingo, havendo o receio dos trabalhadores de que a administração pretenda aproveitar a criação do novo turno para generalizar a “flexibilidade” já conseguida com os mais jovens;
4) há um progressivo mal-estar na fábrica, causado por diversos factores, nomeadamente as alterações recentes na administração da Autoeuropa (passagem de uma direcção composta por alemães para portugueses, sobre a qual há acusações várias), passando até por um progressivo afastamento dos membros da comissão de trabalhadores (CT) face a vários sectores da fábrica. Esse afastamento ficou patente no que aconteceu ao pré-acordo a que a CT chegou com a administração da empresa: foi recusado em dois plenários, por esmagadora maioria dos trabalhadores, em que participaram cerca de 3 mil trabalhadores. A resolução foi aprovada com um voto contra e sete abstenções.

Segundo. E como foi tudo isto percepcionado pelos jornalistas?

A cobertura da luta laboral na Autoeuropa foi feita na comunicação social (em notícias e comentários) sob diferentes ângulos:

1) que os trabalhadores recusaram um pré-acordo já firmado pela CT, como se a CT representasse algo mais genuíno do que a votação dos trabalhadores. Convinha lembrar que a criação da CT foi fortemente incentivada pela primeira administração da Autoeuropa como forma de evitar a convocação de greves (lembrado pelo Pedro Tadeu, que cita um artigo da Análise Social de 2000), que é competência dos sindicatos. Os plenários de trabalhadores podem concovocá-la "desde que a maioria dos trabalhadores não esteja representada por associações sindicais" (artigo 531º do Código do Trabalho). Ou seja, se a CT da Autoeuropa teve alguma força efectiva - e só tem força efectiva quem tem poder de greve -, foi porque os sindicatos se solidarizaram noutras alturas com a CT;

2) que os trabalhadores recusaram o pré-acordo por causa de uma disputa entre sindicatos e a CT, como se a CT representasse interesses mais justos e próximos da empresa e portanto mais realistas. Uma óptica que é um cavalo de batalha de toda a direita económica, desde o FMI, passando ao Macron e acabando em Centeno, num papel de desvalorização dos sindicatos como se fossem lobbies em busca da corrupção; 

3) que essa disputa foi influenciada por uma disputa entre o Bloco de Esquerda (que influencia a CT e que ficou desfalcada com a aposentação de António Chora) e o Partido Comunista Português (que influencia a CGTP e que quis ocupar o lugar de Chora). Uma versão alimentada - durante a jornada de luta dos trabalhadores - por ex-membros da CT, como Fernando Sequeira (entrevista televisiva) e pelo próprio Chora (Jornal de Negócios), de que o conflito na Autoeuropa é, sim uma “tentativa do PCP pressionar o Governo para algumas cedências noutros lados”, - e isso que mal teria? - que “as pessoas estão demasiado instrumentalizadas e demasiado confiantes nas palavras de pessoas que nunca viram na vida delas”

4) que essa disputa é prejudicial para a empresa, que tem custos, que pode levar à deslocalização da empresa ou pelo menos afectar a capacidade exportadora nacional, já que a Autoeuropa representa quase 10% das exportações brutas (note-se que as exportações líquidas de importações não são conhecidas...), alimentado igualmente por declarações de ex-membros da CT, numa versão reiterada pela administração da empresa: 
"é um cenário que pode estar em cima da mesa, mas tanto a administração como a equipa da Autoeuropa irão fazer todo o possível para evitar esse cenário e manter toda a produção do carro em Portugal", disse Miguel Sanches em entrevista ao Jornal de Negócios. 

5) Corolário: a criação de um novo turno foi um pretexto para desencadear esta questão política, surfadas por declarações políticas de Assunção Cristas e Pedro Passos Coelho, e indirectamente até de António Costa e o Ministério da Economia que seguiu o discurso da direita de que a greve poderia gerar uma situação tão preocupante a ponto de dever ser seguida... A pressão dos órgãos de comunicação social foi de tal ordem que o PCP se viu obrigado a apresentar uma declaração. E dirigentes do Bloco de Esquerda viram-se em apuros entre aceitar uma luta operária e criticar o PCP, dando azo a declarações equívocas. Até Catarina Martins proferiu declarações que poderiam ser interpretadas de várias formas:

Ou seja, a questão de fundo, a questão laboral, foi completamente desvalorizada e obliterada da discussão. Se a administração da Autoeuropa controlasse os jornalistas não teria feito, na verdade, melhor serviço do que aquele que foi feito.


Mas por que razão os jornalistas – trabalhadores assalariados – são tão avessos a analisar o fundo laboral da questão? 

Diversos jornalistas nas redacções comentavam o assunto entre si, da seguinte maneira:
“Mas eu também trabalho ao sábado, sem ganhar nada por isso...”
Salvo os jornalistas que trabalham por turnos, nomeadamente em trabalho online ou em agências, os jornalistas têm uma vaga noção do que seja um horário de trabalho e aceitam trabalhar ao fim de semana sem se fazer pagar por isso. Para eles, o que importa é terminar o que tenham para fazer nesse dia, mesmo que esse trabalho acabe às tantas da noite e tenham dias de trabalho para lá das sete horas diárias contratuais.

No fundo, têm uma noção de trabalho mais adequada a um prestador de serviços, que trabalha em casa, que não depende de uma entidade patronal nem de chefes, a quem foi pedido um trabalho. Ser jornalista, para eles, é uma missão que não tem fim. Confundem o prazer que têm pela profissão e com a companhia dos colegas, com a dádiva de tempo de vida sem pagamento correspondente.

Não percebem que dias infindos nas redacções apenas significa trabalho desvalorizado e, pior, mal organizado.

Pior: mesmo que gostassem ou precisassem de sair mais cedo, teriam diariamente de pôr em causa as suas chefias ou os seus patrões. Ou até os seus colegas que levantam a cabeça do monitor e perguntam: “Já vais?”

Têm, pois, dificuldade em perceber que são tão assalariados como os operários e que o trabalho representa uma venda da força de trabalho, em proveito de algo que não é seu, mas que eles julgam que sim. E um dia essa realidade material de prestadores de serviços transformar-se-á numa realidade formal. 

Por isso, quando as coisas apertam, ficam caladamente escandalizados com despedimentos sucessivos em todos os grupos de comunicação social (sem que mexam uma palha, como se fosse uma fatalidade), com o fecho anunciado de revistas por parte do grupo Impresa (sem que se veja protesto que seja), com os atrasos no pagamento de salários (sem uma penhora aos bens dos administradores). Ou mais grave quando se assiste a uma progressiva tomada do bolo publicitário por multinacionais (Facebook, Google, canais por cabo na TV) que inviabiliza os grupos nacionais. Nada é feito. 

Ou seja, os jornalistas têm dificuldade em sentir o lastro a História, fruto muitas vezes de batalhas duras com governos/Estados que eram favoráveis e cúmplices aos pontos de vista e interesses das entidades patronais ao longo dos tempos. Dão de barato aquilo que custou décadas de lutas.

Os jornalistas, ao contrário de muitos trabalhadores, têm um medo enorme de confrontos, temendo que as suas posições ponham em causa o seu emprego individual, sem perceber que essa capacidade de unidade é a sua força. E por isso quando um colectivo de trabalhadores faz valer as suas posições, facilmente alinham com a tese de que esse confronto vai prejudicar a empresa e a economia...

Acresce uma outra ordem de razões: a do anticomunismo primário - embora se apresente sob formas elaboradas - como neste caso de confronto da Autoeuropa - que reina nas redacções actualmente e que está a colocar em causa o pluralismo de opiniões. Essa quebra de pluralismo e a insustentabilidade dos grupos nacionais de comunicação social apenas pode ser salvaguardado por uma posição do Estado. Mas isso é outra discussão.

24 comentários:

João Oliveira disse...

“O conflito na Autoeuropa é eminentemente laboral”
“E como foi tudo isto percepcionado pelos jornalistas?”
“A questão de fundo, a questão laboral, foi completamente desvalorizada e obliterada da discussão. Se a administração da Autoeuropa controlasse os jornalistas não teria feito, na verdade, melhor serviço do que aquele que foi feito”.
Lucidez do autor mas, … nada surpreendente.
O trabalho real (que não é o “trabalho” dos “custos”, das estatísticas do emprego, das implicações ficais,etc.), é em regra (fora honrosas excepções, como é o caso do autor deste post, João Ramos de Almeida) é um “ângulo morto” do jornalismo.
E também muito pelo facto de as (más) condições de trabalho dos jornalistas (também) estarem nesse “ângulo morto”.
Há uma íntima ligação entre “o trabalho de jornalismo e o jornalismo do trabalho”, como escrevi no Le Monde Diplomatique – Edição Portuguesa de Fevereiro de 2017.
Mas voltando à Auto Europa, arriscando passar por pretensioso e pensando não abusar do espaço deste blogue (que considero precioso), deixo aqui um excerto do que escrevi noutro local (FB) no próprio dia da greve…
Auto Europa: jus ao nome?…
(…) Uma coisa é certa: a rejeição dos trabalhadores do trabalho aos sábados (…) é uma posição digna e justa.
Digna e justa, porque uma posição de contra-corrente face à de cedência em cedência que se tem vindo a verificar na degradação das condições de trabalho ultimamente na Europa e, concretamente, em Portugal.
Sim, o que, pelo menos nos últimos 20 anos se tem vindo a verificar em Portugal, muito sob a batuta da “Europa” (…) é, sob o argumento da recorrente “reforma do mercado de trabalho”, da eterna “rigidez da legislação do trabalho”, do “combate ao desemprego”, etc, a apologia da “flexibilização do mercado de trabalho”.
A apologia e a prática, aliás nada “flexível” (imposta unilateralmente, através de inerente legislação – desde o Código de Trabalho de 2003, passando pelo de 2009 e suas já mais de uma dezena de alterações, a linha tem sido sempre essa, a de diminuir ou eliminar, digo, “flexibilizar” os direitos dos trabalhadores): precarização das relações e condições de trabalho (não apenas os vínculos e as funções mas dos horários de trabalhos) e sobreintensificação do trabalho em ritmo e duração, têm sido os dois grandes domínios em que isso se tem verificado (…)
O emprego é uma questão essencial. Mas a fixação no paradigma do aumento da quantidade de emprego suscita o risco de não nos deixar ver a diminuição da qualidade do emprego.
O "pleno emprego", como antípoda do desemprego, pode-nos escamotear o quanto resvalamos para o "emprego pleno", isto é, sobreintensificado ou incerto (em ritmo e duração), para já não falar de conceitos em prática em algumas empresas como "fluxo tenso", "zero tempos-mortos", "jus in time", "sempre ligado", enfim, sugando PLENAMENTE, até ao tutano, até à exaustão, as capacidades físicas, mentais, familiares, sociais das pessoas.
Daí que, objectivamente a posição dos trabalhadores, ao rejeitarem o trabalho ao sábado tendo em conta a sua saúde e a sua família, é digna e justa. E, até, corajosa, face a toda a pressão empresarial, mediática e política assente no referido peso da Auto Europa no emprego e no PIB (1%) e às ameaças veladas de deslocalização da empresa.
Uma posição, digna, justa e corajosa e, também, repetindo-me, de contra-corrente ao caminho que está a ser seguido na Europa ao, resvalando-se para uma “visão” do trabalho estritamente “de mercado” se esquecer que o trabalho não só não é uma mercadoria (OIT - Declaração de Filadélfia - 10/5/1944) como se consubstancia, de facto, nas pessoas que trabalham. Nas pessoas de carne e osso (e emoções) e com família, enfim, com direito à vida na sua plenitude.
É pena é que esta posição dos trabalhadores emerja do facto de (também) a Auto Europa estar a manifestar seguir, no domínio das relações e condições do trabalho, esse perverso caminho que a Europa tem seguido.
É para, também nisso, fazer jus ao seu nome comercial – Auto- Europa?

Anónimo disse...

O caríssimo João Ramos de Almeida foi muito polido na sua análise às posturas dos nossos queridos "presstitutes". Compreende-se perfeitamente. Já eu não sou obrigado a tais amabilidades: o que eles são - louvem-se as honrosas e cada vez mais raras exceções - é uns lacaios do capital, uns tristes mercenários que pensam comer à mesa dos senhores quando na verdade o que fazem é rapar o fundo da gamela que alucinadamente tomam por salva de prata. O jornalismo português é uma cloaca a céu aberto. A única posição a tomar face a tal jornalismo é, penso eu humildemente, aquela que desde há muito tempo eu tomei: se os artiguelhos louvam a coisa como sendo toucinho do céu, certo é que ela é um monte de bosta; se os "comentadeiros" de serviço estão contra é forçoso que eu a favor esteja.

PS - Não entrando eu na intrigalhada "made in Centrão", forçoso é que de isto tudo se retire uma mais do que esperada constatação: quando as meninas e os meninos do BE metem as mãos na vida real - aquela que está muito além das "causas fraturantes" e dos acéfalos e mui voluntariosos mergulhos cegos numa realidade que só na cabeça deles existe - sai... bem, já vocês sabem o quê.

Jose disse...

Ouvi o Chora dizer que num acordo precedente já esta eventualidade estava contemplada.

Jose disse...

No final é o dinheiro que vai decidir.

E haverá por esse mundo umas tantas CTs, sindicatos, empresas e governos a prepararem uma resposta às inquietações do João.

PS: nada como o dinheiro para definir um critério objectivo de comparação entre opções.

Anónimo disse...

"Ouvi o Chora dizer que num acordo precedente já esta eventualidade estava contemplada"

Ouve coisas o tal Jose.

Que não dignificam quem assim ouve coisas, Nem muito menos o tal Chora

Anónimo disse...

Mas esse tal Jose vai mais longe e assume sem complexos o seu amor filial, maternal, ideológico pelo "dinheiro".

Adivinha-se o salivar, desta vez não manso, mas ávido e vampiresco

Pudera. A troco do vil metal vende o país aos alemães e tutti quanti. O pai, que não compreendera o motivo pelo qual o filho trocara a Ordem Nova pela Ordem Velha, revolve-se na tumba.

Eis o alfa e o ómega de tais "coisas"

Jose disse...

É preciso libertar os padeiros, polícias, supermercados e tantos outros dos horrores de não terem dias certos e consecutivos de descanso.
O Cuco vai organizar umas jornadas de luta e umas subscrições...

Anónimo disse...

acerca da greve na Autoeuropa, porque já aborrece tanta desinformação!
A principal razão para os colaboradores da Autoeuropa através da comissão de trabalhadores em plenário no passado dia 21 de Julho marcarem um dia de greve ao fim de 25 anos de laboração da empresa no nosso país, deve-se ao facto da maioria dos colaboradores rejeitarem o modelo de horário laboral que a administração quer impor aos colaboradores. Este modelo de horário vai contra todo e qualquer estudo sobre saúde no trabalho! Por certo o gestor que elaborou este horário apenas visou o lucro, porque não se compreende como gestores de topo numa multinacional da dimensão da VW descuram a saúde da sua maior riqueza “a sua força de trabalho”.
Ora vejamos um exemplo disso, um colaborador que esteja a trabalhar no turno noturno ao sábado de manhã por volta das 7h terá terminado a jornada de trabalho semanal e irá gozar a folga fixa de domingo, por certo irá alterar o ciclo de sono para poder usufruir da companhia dos seus familiares durante o período diurno da folga. No dia seguinte irá novamente alterar o ciclo de sono para ir trabalhar ás 00:00h de segunda-feira. Durante a semana o ciclo de sono será alterado de igual modo no dia da folga rotativa conforme é proposto neste modelo de horário, levando os colaboradores a alterarem o ciclo de sono inúmeras vezes numa única semana de trabalho. ESTE MODELO DE HORÁRIO LABORAL É UM ATENTADO À SAÚDE DOS COLABORADORES! NENHUM PRÉMIO DE 175 EUROS OU MAIS CHEGARÁ PARA PAGAR A FALTA DE SAÚDE DOS COLABORADORES QUE PRATICAREM ESSE HORÁRIO!
Outra razão para os trabalhadores terem recusado este horário é a diminuição do tempo de lazer com a família em virtude do trabalho ao sábado, visto que é durante o fim de semana que tradicionalmente as famílias passam mais tempo juntas. Para alem disso as creches não funcionam ao sábado como é sabido.

Anónimo disse...

CONTINUAÇÃO- terceira razão que levou os colaboradores a rejeitarem este modelo de horário é evidentemente a presunção da administração em ter dado como adquirido para com a casa mãe na Alemanha (Wolfsburg) o trabalho ao sábado como um dia normal de trabalho sem a retribuição a 100% desse dia, como tem sido feito até agora e a obrigatoriedade de trabalhar os sábados quando assinou o compromisso para produção do T-Roc na fabrica de Palmela é falso que a comissão de trabalhadores não tenha fornecido alternativas para a resolução deste conflito entre os colaboradores e a administração, no passado mês de Abril foi proposto um modelo de horário idêntico ao praticado na Alemanha, Espanha e até mesmo aqui em Portugal pela empresa Continental que é uma fornecedora da Autoeuropa. Como seria de esperar os elementos da comissão de trabalhadores (que está demissionária) não pretendendo inventar novamente a roda propuseram esse modelo de horário de 15 turnos de 8h semanais + 2 turnos de 12h (os 2 últimos turnos seriam durante o fim de semana, 12h ao sábado e 12h ao domingo), a ser feito estes 2 últimos turnos por uma nova equipa de colaboradores em regime voluntário ou rotativo se fosse caso disso (por exemplo poderia ser rotativo 3 meses cada equipa), que no entender dos colaboradores resolveria o problema existente e que foi rejeitado pela administração.

Anónimo disse...

CONTINUAÇÃO-Outra falácia que tem sido veiculada na comunicação social que tem indignado os colaboradores da AE é de que este modelo de horário laboral é para um período de 2 anos. Caros senhores ninguém investe 700 milhões de euros para laborar apenas durante 2 anos como é obvio, se as condições económicas a nível mundial se mantiverem as projeções são para manter indefinidamente este modelo de horário porque neste momento já existem outros modelos para serem atribuídos à Autoeuropa nos próximos anos.
Outra patranha veiculada nos últimos tempos na comunicação social é de que os colaboradores da Ae recusaram um aumento de 16% ao rejeitarem este modelo de trabalho. Quero informar-vos de que a empresa pretende atribuir um prémio de 175 euros para aceitarmos este horário, logo como um prémio não é um aumento como é fácil de perceber então não se pode falar em aumento. A lei prevê que seja pago um subsidio de turno de 15% a quem trabalha em 2 turnos rotativos e um subsidio de 25% a quem trabalha em 3 turnos porque existem estudos comprovados de que é prejudicial à saúde a troca constante dos ciclos de sono e das tarefas diárias a que normalmente o ser humano está habituado. Por isso não existe nenhuma razão para ser considerado um aumento de vencimento a alteração do subsidio de turno para 25%, felizmente a lei por enquanto ainda comtempla o esforço despendido com esse valor do subsidio.
A empresa produziu cerca de 85 mil unidades em 2016 e no próximo ano (2018) prevê uma produção acima das 240 mil unidades,são cerca de 3 vezes ou até mais a produção do ano passado, aumentando substancialmente com isso o lucro associado, visto isto também será razoável os colaboradores terem aspiração de ter melhores condições tanto laborais como financeiras com o crescimento exponencial da empresa. Mas o que se observa é precisamente o contrário, a administração pretende acabar com a possibilidade de descanso ao sábado em conjunto com a família e retirar o pagamento de 100% no trabalho extraordinário ao sábado.
Outra falsidade que foi veiculada pela comunicação social é a de que o ordenado médio dos colaboradores da Ae é de 1300 euros + subsidio de turno. Actualmente os colaboradores que entram para a Ae têm um ordenado de admissão de 660 euros + subsidio de turno 15% o que equivale a dizer que recebem cerca de 760 euros brutos, levando para casa em média 630 euros limpos dependendo sempre do escalão do IRS de cada um. Depois da entrada dos cerca de 1000 colaboradores novos durante este ano a média de salários na Ae é de cerca de 1100 euros já com o subsidio de turno de 15% incluído.
Estas são as principais razões pelas quais os colaboradores rejeitam este horário, não se trata de nenhum assalto ao castelo como alguns politicozinhos querem fazer crer, trata-se do interesse coletivo da grande maioria dos colaboradores que terão de praticar este modelo de horário ultra violento para a saúde, para a vida social, familiar e financeira. Na verdade sempre houve um clima de rivalidade entre os elementos da comissão de trabalhadores ligados ao bloco de esquerda e os ligados ao PCP o que tem sido ao longo dos anos bastante prejudicial aos interesses dos trabalhadores, pondo em causa os interesses dos trabalhadores e dando muitas vezes primazia aos interesses partidários (na maioria das vezes nem falam uns com os outros), mas esta rejeição de modelo de horário laboral nada tem a ver com partidarização das negociações.
O facto de no ano passado os colaboradores terem rejeitado por 2 vezes o pré-acordo elaborado pela administração em conjunto com comissão de trabalhadores demonstra duas coisas, que esta administração não tem o mesmo perfil das que lideraram a empresa ao longo dos últimos 25 anos e que quem coordenava a comissão de trabalhadores na altura também não teve nem tem capacidade para representar os interesses dos trabalhadores diante da administração e que deveria ter colocado o lugar à disposição logo após a segunda rejeição do pré-acordo de 2016.'

Alice disse...

Excelente post.

Quando li as notícias sobre a greve, também fiquei a pensar. Aparentemente, descansar ao Sábado já não é causa sobre a qual valha a pena reflectir nos jornais, prefere-se o deslumbramento das secções de "negócios" e as secções de "trabalho" desapareceram, bem como qualquer reflexão séria a respeito do mesmo.
Na volta, (re)descobriram que o trabalho é "coisa de pobre" e não fica bem nos jornais dedicados a esse "gigantesco" mercado feito de gente rica que não precisa de trabalhar para viver - um mercado "gigantesco" que, ironicamente, os vai deixando falidos, ou perto disso.

É incrível que os trabalhadores sejam sistematicamente ignorados ou ridicularizados por pretenderem uma vida condigna. São tornados invisíveis pelos merdia, ou apresentados como se fossem os inimigos do sistema (deste sistema, pois claro!) porque precisamente resistem e não querem deixar-se escravizar , conforme parece ser necessário a esta "modernidade" produtiva.

Qualquer dia, o horário nocturno é entre as 4h e as 5h da manhã, trabalha-se 7 dias por semana e ainda se leva umas prendinhas para agradecer não ser chicoteado.
É mais "giro" e parece mais "inteligente" descobrir umas intrigas e lutas partidárias por detrás de resistência a estas tendências, aliás, parece tanto mais inteligente quanto menos inteligência se tiver.

A implementação das 8h de trabalho diário é coisa do século passado. A produtividade não aumentou? E para onde foram os respectivos ganhos? Agora levamos trabalho para casa, estamos ao dispor a qualquer hora/dia com telemóvel e e-mail e temos orgulho em tais atrocidades? E ainda somos chantageados com a ameaça de que as máquinas vão fazer o nosso trabalho, ou que há mais 500 para fazer o nosso trabalho por metade, ficando nós, com medo, a pensar do que diabo vamos viver? Mas isto será vida para alguém?

São retrocessos civilizacionais atrás de retrocessos civilizacionais. Vivemos uma era de retrocesso, e em tantos níveis, que já começa a meter nojo.

Anónimo disse...

resumo da direita: viva o dinheiro (só se for direccionado para quem já o tem aos montes) e as pessoas que se fodam.

Anónimo disse...

O que nos resta é isto.
Lutar por um nova sociedade. Porque o que nos espera é a barbárie se permitirmos que os retrocessos civilizacionais nos conduzam ao ponto zero da dignidade humana.

Veja-se como jose responde ao denunciado por aqui e como assume o lado que é dele.

Um patronato reles e miserável à procura sempre de mais e mais

Anónimo disse...

Um tipo aí em cima ouviu o Chora dizer que num acordo precedente já estava contemplada esta esta eventualidade estava.

Ou incrimina o Chora ou incrimina-se a ele. Ou mentiu Chora ou mente ele.

Anónimo disse...

Essa estória de dias de descanso é só mesmo para Herr Jose

Precisa de tempo para ir encontrar satisfação na sua pileca. E para ir a banhos

Anónimo disse...

A primeira coisa a colonizar é - como sempre e como lições multisseculares bem ensinam - a cabeça das pessoas. Há que pôr em ação a vastíssima maquinaria dos media e convencer o indígena de que trabalhar doze horas por dia e passar as outras doze suscetível de ser contactado por telemóvel ou pelo computador é o mais alto sinal de uma vida plenamente bem sucedida. A vida de "call girl" ou de "call boy" tecnologicamente acessível - vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trezentos e sessenta e cinco dias por ano - é o novo estatuto dos ungidos do Senhor, os quais fazem bem e saem a preço irrisório. Filhos? Família? Descanso? Isso são coisas de um retrógrado passado, próprias de quem não tem a altíssima graça de já se ter transformado numa besta de carga descartável a que há que sugar o sangue, o tutano e a vida antes de ser chutada para o lixo. E, se por acaso, tiverem a estranha ideia de quererem ter uma vida, pois que a vivam por tão cómoda quanto ilusória procuração nas vastas e interessantíssimas vidas das pessoas do Cristiano Ronaldo e dos seus filhinhos de aviário ou nas da notabilíssima trampa de "famosos" que enxameiam as páginas e as pantalhas dos nossos excelentíssimos media. E se quiserem ter a veleidade de mostrar algum sentimento, que chorem baba e ranho com a imortal novela da "Princesa do povo", pois é certo e sabido que normal gente produtiva não chora, não grita, não perde a paciência e é - graças ao magnífico contributo químico de doses industriais de "Xanax" - sempre "positiva" e "aberta" (eu diria mesmo "escancarada") à inovação e à mudança.

Jose disse...

E disse mais o Chora: que estavam lá os moinantes dos sindicatos e disseram nada!

Anónimo disse...

http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/pedro-tadeu/interior/os-idiotas-uteis-da-autoeuropa-8748230.html

Vale a pena ler

Anónimo disse...

Jose e Chora de mãos dadas?

Um patrão perito, com um perito representante?

Mas isso é o denunciado involuntariamente por António Damasceno Correia e que o Pedro Tadeu denuncia no artigo do DN em tão boa hora aqui colocado?

"Representantes dos Sindicatos"? Mas agora é que o perito patronal foi apanhado mesmo a mentir, feito moinante a fazer pela sua vidinha, lolol

Jose disse...

Ai que estou tão apanhado!
Não são os representantes dos sindicatos, são os gajos dos sindicatos que estão na comissão dos trabalhadores.
Não são representantes são 'correias de transmissão'!

Anónimo disse...

Jose confessa que é o "perito patronal"

Já é um avanço

Mas um pouco atrapalhado confessa que foi "apanhado".

O seu colega António Damasceno Correia desmontou-lhe os argumentos e fê-lo cair da pileca?

Anónimo disse...

A expressão "correias de transmissão" é a prova do desnorte do tal fulano

É a expressão atordoada de quem se vê sem argumentos após ter tentado o número da vizinha bisbilhoteira à escuta do Chora.

O perito patronal afinal revela-se apenas um gajo a repetir a cassete habitual dos patrões caceteiros que ouvem falar nos sindicatos.

Saltou-lhe logo as "correias" desta forma tão deliciosa e espontânea

Anónimo disse...

“O facto de ser a comissão de trabalhadores o órgão que seria privilegiado na relação com a empresa tinha também a enorme vantagem de ela nunca poder promover ou decidir o recurso à greve”

DAMASCENO CORREIA, EX-DIRECTOR DE RECURSOS HUMANOS DA AUTOEUROA, CITADO POR PEDRO TADEU NO DN
5 DE SETEMBRO DE 2017

Anónimo disse...

O nosso queridíssimo Herr José afirma a pés juntos que o dinheiro é o último juiz. Eu diria que poderá bem ser verdade em não poucos casos, com a condição de jamais esquecermos que - demasiadas vezes - é ele, até, o primeiro dos argumentos. Só assim se explicará a abundância neste pobre país de tantos filhos e filhas de uma nota de quinhentos que, uma vez crescidinhos, se tornam eles mesmos empresários e empresárias do ramo do lucrativo proxenetismo de colarinho branco.