quarta-feira, 27 de maio de 2015

Linha


[S]e um dos lados, obviamente o mais forte, não oferece a mais pequena concessão, então o que está em jogo não é um compromisso. O termo tornou-se um véu que oculta o objectivo da total subjugação. (…) Só a clivagem é, aqui e agora, “honrada”, precisamente porque é o veículo da ruptura, simultaneamente pré-requisito para o, e prenúncio do, que é radicalmente novo, unificando a política e a ética na luta pela emancipação popular.

Stathis Kouvelakis

É tempo de governar? É possível governar à esquerda no quadro das regras europeias? Estas duas perguntas presidem, respectivamente, à Universidade de Verão da Manifesto dos próximos dias 29 e 30 de Maio, cujas inscrições estão abertas, e à sessão na qual participarei da dita universidade.

A primeira pergunta merece uma resposta trivial, já que é muitas vezes usada para estabelecer diferenças artificiais entre as esquerdas, que, estou confiante, não resistem ao debate: é sempre tempo de governar, haja força social e eleitoral, clareza estratégica e programa adequado; uma vontade geral nacional-popular, o tal momento de unificação ético-política na escala mais realista.

A segunda pergunta merece uma resposta crítica: quem ainda esteja nesse debate, nesta altura, tem de começar a abrir os olhos. Uma só palavra: Grécia. Duas: Chipre e Grécia. Algumas mais: fuga de capitais e outras formas de pressão mais explicitas sobre um país sem instrumentos de política, colocado perante um risco que nenhum soberano pode tolerar, que é o de poder não honrar os seus compromissos democráticos na moeda que circula internamente e sobre a qual deve ter o controlo político último.

Obviamente, a pergunta não é essa: na realidade, o debate é sobre se é possível mudar as tais regras europeias, instituindo uma espécie de euro bom. Eu não creio que seja, porque a questão do euro não é de defeito, mas sim de feitio geopolítico e de classe, já que eles não estão loucos. Quem quiser enfrentar esse feitio, usando as armas dos fracos, a tal reestruturação da dívida por iniciativa do devedor, terá de pensar rapidamente, se não quiser enfrentar, a prazo mais ou menos curto, a subjugação, em pelo menos duas coisas: controlo de capitais e moeda própria. Governar à esquerda, hoje, nesta periferia, começa por aqui.

Tentarei adicionalmente argumentar que o Estado social, regime socializante coerente assente em quatro pilares – serviços públicos e prestações sociais de alcance universal, política económica de pleno emprego e contratação colectiva –, estará condenado a definhar sem a tal ruptura. Feitio, uma vez mais.

Como podem imaginar, haverá debate. Sempre foi assim na Manifesto e é sobretudo por isso, pelo debate constante, ou seja, pela aprendizagem, que eu participo nesta associação política. Isto apesar de discordar do caminho político que trilhou nestes últimos tempos, não o acompanhando, naturalmente. No campo político-eleitoral, dado o diagnóstico que faço, parece que não tenho, no presente contexto, outra escolha que não seja a de marchar, marchar

2 comentários:

Aleixo disse...

Sem criar dinâmica de ruptura...não se vai lá!
Vidè, Congresso Democrático das Alternativas...

Anónimo disse...

já agora, Vidé falhanço da travessia da ponte, falhanço do aproveitamente da violência policial, falhanço em impor um discursp, falhanço em discutir a nova lei da cobertura eleitoral