Pedro Passos Coelho tenta ser Cavaco Silva nos seus tempos áureos quando se dizia ser um técnico no lugar do político, austero como Salazar, íntegro a ponto de ter de nascer duas vezes quem quisesse ser mais honesto que ele, mas que deixou tudo larvar à sua sombra. Leia-se o seu livro de memórias.
Ora, é precisamente isso o que me lembra a frase citada de Passos Coelho: um Governo que a coberto de opções ideológicas - que justificaram a redução acentuada da tributação sobre grandes grupos económicos e grandes contribuintes de IRC - permitiu um estranho casamento entre um advogado de negócios e a pasta dos Assuntos Fiscais, o que aconselharia ao próximo governo a realização de uma auditoria às decisões do secretário de Estado, para verificar quem foram os seus efectivos beneficiários.
E já agora falemos de telefonemas. Só dois casos.
Recorde-se o famigerado telefonema do então ministro Miguel Relvas à editora de política do jornal PÚBLICO ameaçando divulgar a vida privada da jornalista Maria José Oliveira que tinha apenas mandado umas perguntas ao governante. Assunto que chegou a ser tratado pela própria ERC, depois de a jornalista se ter queixado ao conselho de redacção do jornal e a acta da reunião em que o assunto foi abordado se ter tornado pública, ao arrepio da Direcção Editorial do jornal.
Talvez Passos Coelho não fale ao telefone, mas é capaz de estar em minoria no Governo.
4 comentários:
Caro João Ramos de Almeida,
Quando Passos Coelho foi escolhido pelo PSD para candidato a Primeiro-Ministro, bastava olhar para o seu currículo (Jota proeminente, deputado apagado, contratado pelo seu tutor político para empresas que sobreviveram à custa de fundos europeus, ONGs, ...) para formar uma opinião sobre o seu "valor". Qualquer pessoa, como eu, que tivesse vivido o tempo do FSE, das formações e dos formadores de formadores, sabia muito bem o que representava Passos Coelho (e outros semelhantes no PS, para não particularizar). E, no entanto, um partido pilar da democracia escolheu-o para candidato. E uma maioria de votantes elegeu-o Primeiro-Ministro. Acha mesmo que essas pessoas estão agora surpreendidas com o caso Tecnoforma? Com o caso Relvas? Com o caso SS? Só quem foi cego ou não quis ver. E no entanto, repito, sabendo isso PPC foi escolhido pelo PSD e eleito para PM.
O que me leva a colocar a questão. Nestas condições, o que ganha a oposição em concentrar as atenções a 7 meses das eleições nestas questões? Pedir a demissão de PPC, quando os que o elegeram já sabiam que questões deste género iriam inevitavelmente surgir, que o currículo de PPC sugeria que isso era inevitável?
A oposição não pode deixar passar estas questões em branco e deve relembrá-las sempre que possível. Mas engana-se se fizer delas o centro do debate político. Porque ninguém se surpreende e ninguém quer saber: se não não tinha sido escolhido pelo PSD nem eleito pela maioria dos Portugueses com o currículo vergonhoso que tem. O problema não está nestes "casos". O problema está na forma como os partidos políticos escolhem candidatos sem qualquer currículo e os eleitores votam neles. Agora é tarde para indignações!
Caro anónimo,
Estou inteiramente de acordo consigo. Acho que o debate principal deverá ser sobre o falhanço das políticas seguidas desde o período de ajustamento e que foram abraçadas por este Governo como suas. Até para se perceber bem melhor quais são as nossas opções de futuro.
O que me parece importante é que, a par do debate nobre da política, se deve assinalar que uma dada política, assente na desigualdade de tratamento social, tende a ganhar facetas que raiam a ilegalidade ou em que a legalidade vem legitimar o que era ilegalidade e mesmo crime (vidé RERTs). Ou que têm quase um tratamento "de favor" em relação a certo tipo de interesses, fingindo-se o Governo "morto" para ir atrás de casos como os das listas internacionais de contribuintes relapsos.
E os grandes debates devem ser temperados pelos comportamentos individuais. Como julga alguém que está preocupado em aparecer muitas vezes nos jornais e que fala com os jornalistas para venderem a sua imagem? É um problema de vaidade ou há uma componente de defesa do seu comportamento político e de "venda" de uma imagem política?
Caro JRA,
"O que me parece importante é que ..." este parágrafo assenta numa análise política da acção governativa e assim distingue-se da questão Passos Coelho e SS. E é isso que eu sugiro que deve ser alvo da campanha eleitoral.
Já o seu 3º parágrafo ilustra o meu comentário anterior. O comportamento individual de PPC era perfeitamente claro no momento em que foi escolhido pelo PSD e eleito para PM. Como disse, bastava olhar para o seu currículo e estava lá tudo! E se isso não foi suficiente para evitar que fosse escolhido e eleito, que influência tem agora a questão da SS? É só um corolário lógico do currículo que já exibia e que todos (salvo seja) aceitaram! E que, suspeito, voltariam a aceitar!!
No fundo, para que serve um partido político se nem esse escrutínio base faz para a escolha de um candidato a PM?
Eu não sou a favor de se ignorar o currículo dos candidatos, bem pelo contrário. Acho que nestas eleições, por exemplo, as TVs deviam organizar entrevistas individuais com todos os candidatos com o único objectivo de os questionar sobre os seus currículos. Mas depois desse escrutínio feito, e uma vez eleito um dos candidatos, não vale a pena centrar e deixar arrastar no tempo a crítica a questões que facilmente se podiam antever da análise dos currículo. E muito menos, a meu ver, pedir a demissão de um PM a 7 meses de eleições por questões que, por muito importantes que possam ser, eram previsíveis (não estamos a falar, por exemplo, de corrupção, desvio de fundos, ... no âmbito das suas funções) e nada têm de comparável às políticas seguidas e os seus efeitos.
Isso, por contraditório que possa parecer, só favorece PPC como se vê pela pouca importância que foi dada ao seu currículo! Convença-se: ninguém quer saber!
Caríssimos
Na perspectiva liberal, ambos estão certos, cada um pela sua via…claro!
Toda a gente, minimamente esclarecida, incluindo o Presidente da República, tinha e tem conhecimento da sorte do Sr. Presidente do Concelho de Ministros, é verdade…mas então não há uma Constituição para respeitar, cumprir e fazer cumprir…bem?!
É, os eleitores…querem assim por que o Partido assim o quer…que gaita…isto está mesmo mal!
E os oponentes em campanhas eleitorais vão sufragando o mal…
Penso que as raízes do escalracho político e social já estão bem inculcadas na massa cinzenta de um povo que deu mundos ao mundo. É pena!
Este país, o meu país, está a ser cenário dos mais infames crimes de lesa pátria e o pior, pior, é que toda a gente sabe, as rádios, os jornais, as Tv.s regurgitam de informação criminosa de dirigentes corruptos, de empresários que roubam, banqueiros que delapidam o erário de todos nós, presidiários astutos que se candidatam a lugares públicos, incluindo autarquias, ex.s qualquer coisa apanhados com a boca na Botija, vá lá um etc. e tal… até parece que vivem disso mesmo.
Há exemplos históricos em Portugal de que por menos, os governos tinham de ir pró Beléléu.
Não se acanhem, prá frente é que é Portugal!
Adelino Silva
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