Muitos não saberão já que um “malho” é um instrumento de trabalho e que “malhar” é (era) uma actividade produtiva. Fica a fotografia como ilustração.
Entretanto “malhar” transformou-se na actividade predilecta de um (ex?) ministro. O Miguel Serras Pereira que acha tão pouca graça este tipo de malhação como eu, pediu-nos a bicicleta emprestada para um comentário.
Aqui vai:
“1. Tendo em conta o teor do anarquismo espanhol no século XX - para quem tenha dúvidas, recomenda-se, a título de aperitivo, a leitura de O Curto Verão da Anarquia de Hans Magnus Enzensberger (tradução brasileira na Companhia das Letras), complementada pela de Homenagem à Catalunha de George Orwell e pela de Combats pour la liberté de Pavel Thalmann e Clara Thalmann (La Digitale, 1997) -;
2. tendo em conta que Augusto Santos Silva acaba de tentar fazer crer à população que malhou em Manuela Ferreira Leite chamando-lhe "anarquista espanhola", não muito depois de ter confessado o seu gosto por "malhar na direita", sobretudo disfarçada de esquerda, tentando impor o silêncio às vozes discordantes no interior do PS;
3. forçoso é concluir que:
a) Augusto Santos Silva, ao contrário do que julga, e como seria de esperar, não malhou em Manuela Ferreira Leite, mas no anarquismo espanhol;
b) Augusto Santos Silva, quando tem de malhar na direita, só pode decidir-se a fazê-lo pretendendo malhar na esquerda;
c) O gosto de malhar em tudo o que possa mexer à sua "esquerda" - ainda que chamando-lhe "direita" - conjugada com a vontade de malhar nos anarquistas mulheres ou homens de Espanha poderá, servindo-se ou não do Grande Malhador como traço de união, aproximar franquistas e estalinistas, mas é a negação inequívoca de qualquer projecto de cidadania governante e de ruptura democrática com um regime caracterizado pela usurpação do público pelos aparelhos de Estado e pela dominação hierárquica que é a forma - ainda que não declarada como tal - de organização política da economia."
Miguel Serras Pereira
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3 comentários:
Acho perspicaz e na mouche a análise de MS Pereira!
De facto, a linguagem trauliteira de A. Santos Silva incomoda toda a gente…Mas o que ele realmente quer, é “malhar” na esquerda.
Roça o ridículo na falta de rigor, no uso que faz das palavras. Há dias, ouvindo-o num frente a frente com uma figura do PSD, lá desfilaram mais etiquetas em relação à direcção daquele partido. Nesse dia, os adversários eram “maoistas”. MF Leite era maoista!
Aqui, hoje, sem hesitações, nosotros acompanharemos a pegada de Debord: “ o espectáculo deve, pois, falsificar a realidade…para servir os seus próprios fins”.
Fantástico, feliz, harmonioso (obviamente sem anarquistas espanhóis), é a face do admirável mundo dos senhores Silvas; a outra vai entretanto acontecendo: “usurpação do público pelos aparelhos de Estado e pela dominação hierárquica, a sua forma de organização da economia”.
Manuela Ferreira Leite nunca poderia ser anarquista. A senhora tem dono ...
digamos que el "malhador" ha hecho una gran alabanza a la señora , aunque immerecida , sin duda.
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