terça-feira, 12 de julho de 2022

Que tipo de sociedade pretendemos?


Depois do imenso sofrimento de uma guerra, as sociedades esperam não voltar ao sistema que lhe deu origem. Também foi essa mudança radical que muitos esperaram que viesse a acontecer quando se conseguisse controlar a pandemia. Infelizmente, essa mudança não está no horizonte, ainda para mais com uma guerra na Europa sem fim à vista.

Após a Segunda Grande Guerra, os britânicos votaram por maioria absoluta num programa do Partido Trabalhista que criou o Serviço Nacional de Saúde universal e gratuito, a escola pública, habitação, propriedade publica de todos os tipos de transporte, nacionalização dos monopólios naturais (energia, água, correios, portos, etc.). A vida dos cidadãos melhorou imenso, sobretudo a vida dos "de baixo".

Tudo isso foi possível num país bombardeado e endividado.

A vitória militar tornou evidente a vitória da cooperação, do esforço colectivo, do planeamento, sobre o individualismo, a competição e a imensa desigualdade que dominavam antes da guerra. Foi este espírito de 1945 que reergueu o Reino Unido no pós-Guerra, de que dá testemunho este documentário de Ken Loach (sem legendas em português, infelizmente).

O filme termina com um depoimento/mensagem que deveríamos considerar seriamente na conjuntura dos nossos dias:

Dar início a um diálogo entre as gerações que viveram o tempo da reconstrução do país, os anos seguintes ao 25 de Abril, e os jovens que não fazem ideia da poderosa transformação social que foi, e tem de continuar a ser, um Estado social. Um Estado que restaura o sentido de uma vida em comum e solidária, o sentido de um "Nós" com dignidade para todos, com saúde, educação, habitação, pleno emprego, segurança social, sistema fiscal progressivo, e direito do trabalho que protege a parte mais fraca. Que tipo de sociedade pretendemos?
«Estou absolutamente convencida de que a geração mais velha, em vez de ser um fardo para a sociedade, tem o dever absoluto de tomar a iniciativa e juntar-se aos jovens, falar com eles e explicar-lhes. Eu digo aos pensionistas que desliguem a televisão, retirem os auriculares dos ouvidos e comecem a contar como era a visão em 1945. O que é que pretendíamos? Como a vimos progredir? O que significava a expressão “do berço à cova”? O que significava a propriedade colectiva, a partilha e a comunidade? O que significa? Comecem a reconstruir esse entendimento do tipo de vida que pretendemos. Penso que temos uma boa oportunidade de fazer isto.» (1:29:50)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Jorge Bateira,

Lendo o seu post seria de esperar que um partido político como o Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP) fosse o catalisador do diálogo inter-geracional que defende. No entanto, que me recorde, a atuação do PURP tem tido como principal linha de ação a defesa das pensões.
Assim sendo, o efeito é precisamente o contrário ao que defende no post.