Depois do imenso sofrimento de uma guerra, as sociedades esperam não voltar ao sistema que lhe deu origem. Também foi essa mudança radical que muitos esperaram que viesse a acontecer quando se conseguisse controlar a pandemia. Infelizmente, essa mudança não está no horizonte, ainda para mais com uma guerra na Europa sem fim à vista.
Após a Segunda Grande Guerra, os britânicos votaram por maioria absoluta num programa do Partido Trabalhista que criou o Serviço Nacional de Saúde universal e gratuito, a escola pública, habitação, propriedade publica de todos os tipos de transporte, nacionalização dos monopólios naturais (energia, água, correios, portos, etc.). A vida dos cidadãos melhorou imenso, sobretudo a vida dos "de baixo".
Tudo isso foi possível num país bombardeado e endividado.
A vitória militar tornou evidente a vitória da cooperação, do esforço colectivo, do planeamento, sobre o individualismo, a competição e a imensa desigualdade que dominavam antes da guerra. Foi este espírito de 1945 que reergueu o Reino Unido no pós-Guerra, de que dá testemunho este documentário de Ken Loach (sem legendas em português, infelizmente).
O filme termina com um depoimento/mensagem que deveríamos considerar seriamente na conjuntura dos nossos dias:
Dar início a um diálogo entre as gerações que viveram o tempo da reconstrução do país, os anos seguintes ao 25 de Abril, e os jovens que não fazem ideia da poderosa transformação social que foi, e tem de continuar a ser, um Estado social. Um Estado que restaura o sentido de uma vida em comum e solidária, o sentido de um "Nós" com dignidade para todos, com saúde, educação, habitação, pleno emprego, segurança social, sistema fiscal progressivo, e direito do trabalho que protege a parte mais fraca. Que tipo de sociedade pretendemos?
«Estou absolutamente convencida de que a geração mais velha, em vez de ser um fardo para a sociedade, tem o dever absoluto de tomar a iniciativa e juntar-se aos jovens, falar com eles e explicar-lhes. Eu digo aos pensionistas que desliguem a televisão, retirem os auriculares dos ouvidos e comecem a contar como era a visão em 1945. O que é que pretendíamos? Como a vimos progredir? O que significava a expressão “do berço à cova”? O que significava a propriedade colectiva, a partilha e a comunidade? O que significa? Comecem a reconstruir esse entendimento do tipo de vida que pretendemos. Penso que temos uma boa oportunidade de fazer isto.» (1:29:50)
Caro Jorge Bateira,
ResponderEliminarLendo o seu post seria de esperar que um partido político como o Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP) fosse o catalisador do diálogo inter-geracional que defende. No entanto, que me recorde, a atuação do PURP tem tido como principal linha de ação a defesa das pensões.
Assim sendo, o efeito é precisamente o contrário ao que defende no post.