terça-feira, 1 de agosto de 2017

Ainda o mito do congelamento das rendas (2)

Por coincidência, tendo em conta o meu texto, o congelamento das rendas foi ontem convocado por Fernanda Câncio, à mistura com um conjunto variado de outros fatores muito mais relevantes, para explicar a preocupante situação da habitação no município de Lisboa.

Para tornar ainda mais claro o argumento que ontem aqui apresentei, em 2015: a) apenas 32% dos contratos de arrendamento em vigor foram celebrados antes de 1990 e, portanto, poderão ser associados a «rendas congeladas» (já que a partir de então o mercado foi liberalizado); b) nesse contingente, apenas 21% dos contratos (face ao total) correspondem a rendas baixas; c) e entre estes contratos, apenas 9% (face ao total) referem-se a alojamentos da propriedade de particulares ou empresas privadas. Quer isto dizer que o impacto que o «congelamento de rendas» poderá ter no mercado da habitação é inferior a 10%, sendo que - mesmo assim - não tem um efeito dissuasor na celebração de novos contratos (uma vez que estes já são celebrados sem esse condicionamento). Mas se considerarmos o caso especial de Lisboa, este efeito será significativamente menor dado que, como é sabido, há uma maior proporção de alojamentos da propriedade do Estado, da autarquia e de empresas públicas face ao resto do país.


O continuado enfoque nas marginais rendas congeladas em pouco ou nada contribui para a discussão sobre o arrendamento de longa duração. Contribui, isso sim, para intensificar a liberalização do mercado de arrendamento, com crescente perda de direitos dos inquilinos, ao invés de pressionar e responsabilizar o Estado e as autarquias pela garantia de um direito essencial.

12 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez um excelente comentário.

Parabéns

Jose disse...

Quer dizer:
- roubar o Estado é tranquilo; como vai sacar o dinheiro aos outros para beneficiar alguns, o caso é de efeito nulo.
- já o caso dos particulares é estatístico, só alguns poucos são gravemente roubados, pelo que não tem efeitos estatísticos relevantes. Tudo bem.
!!!
O coitadinho usufrui da renda congelada; aluga um quarto e tem um negócio rentável. Tadinho! E o Estado controla estas cenas? E os tribunais? uma pasmaceira.

Comunada e incompetentes, a mistura original de Abril.

Anónimo disse...

Apenas 21% com rendas baixas. Apenas!
Em 1/5 dos contratos o senhorio faz o que nenhuma outra instituição faz, alimenta o inquilino do seu bolso.
Com que então mito.

Rui disse...

Na minha opinião o grande problema do mercado de arrendamento, é a dificuldade em despejar inquilinos que não pagam as rendas e a dificuldade que os senhorios têm em ser ressarcidos de danos causados nos apartamentos. Caso se crie legislação que efetivamente garanta segurança aos senhorios nesse dois pontos muitas mais habitações ficariam disponíveis para arrendamento habitacional a médio prazo.


Anónimo disse...

Há por ai alguém um pouco histérico a despejar pontos de exclamação e a bufar sobre a comunada.

E contra Abril

Ah, que saudades

T.P. disse...

Palavra que continuo sem perceber o sentido destes posts.

Qual é mesmo o mito do congelamento das rendas que se quer desmontar aqui?

Anónimo disse...

Antes de mais nada , uma questão prévia sobre a competência e a incompetência...

Quando o 25 de Abril rebentou e derrubou aquela trampa que todos conhecemos, a competência viu-se de que lado estava. Mas sobretudo viu-se de que lado estava a razão

Quando Passos e Portas e Cavaco e Cristas governaram viu-se que o fizeram de forma competente para consolo da riqueza dos credores e dos seus interesses de classe.
Para o país foi o que se viu. Para o povo português também. Mas aí já não se tratava bem duma questão de "incompetência"

Anónimo disse...

O sujeito que fala aí em estatísticas relevantes e outras tretas um pouco desconexas foi o mesmo que sobre uma outra estatística, entrou em modo de histeria e de gozo javardo.

"Quase metade dos portugueses inquiridos para um estudo do Eurostat, cerca de 47%, diz não ter dinheiro para passar uma semana de férias fora de casa".

As estatísticas têm destas coisas. Perturbam alguns. Habituado ao roubo institucional, não gostam que lhes esfreguem nas fauces números que questionam a sua propaganda

Anónimo disse...

Eu percebo que as rendas façam despertar a veia rentista e a sede de lucro de alguns.

Sabemos que, por exemplo,as PPP são muito apreciadas por tais coisas e o roubar o Estado nestas condições parece ser tranquilo; o sacar o dinheiro a muitos para beneficiar alguns é algo que não incomoda a quem se apropria dos dinheiros públicos

Mas independentemente dos reflexos pavlovianos despertados ( há quem fale num tão revelador como crassamente ignorante "princípio de Pavlov" ) o que se trata aqui é duma coisa essencial:

O direito à habitação. E a responsabilização do Estado e das autarquias pelo seu cumprimento

Jose disse...

Há alarves que resolvem as responsabilidades 'do Estado e das autarquias' pondo os senhorias a praticar a caridadezinha. Imbecis.

Anónimo disse...

Alarves?

Que triste manifestação do destrambelhamento social, ético e ideológico por parte deste sujeito

Aqui plasmadas a comprovada mediocridade deste patronato tramontano e inculto, a que se junta uma boçalidade por vezes surpreendente (ou talvez não).

Anónimo disse...

Mas também confirmado aquilo que alguém escreveu aí em cima.

As rendas fazem de facto "despertar a veia rentista e a sede de lucro de alguns.As PPP são muito apreciadas por tais coisas e o roubar o Estado nestas condições parece ser tranquilo; o sacar o dinheiro a muitos para beneficiar alguns é algo que não incomoda a quem se apropria dos dinheiros públicos".

Mas independentemente dos reflexos pavlovianos despertados e do "princípio de Pavlov" (???) invocado, independentemente dos "imbecis" e outras baforadas demenciais, independentemente da sede de negociatas e da baba pelas rendas, do que se trata aqui é duma coisa essencial e muito séria, com respaldo na CRP:

O direito à habitação. E a responsabilização do Estado e das autarquias pelo seu cumprimento.