quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Como apagar este fogo?

Ontem ficámos a saber que, desgraçadamente, a Frente Nacional já aparece em França à frente numa sondagem para as europeias, atraindo, por exemplo, o voto de um em cada dois operários. A esquerda social-democrata implode, mas a Frente de Esquerda quase não progride. Nem de propósito, no mesmo dia, enviaram-me um artigo de Costas Lapavitsas sobre a extrema-direita grega, onde este economista marxista, um dos que tem contribuído para dotar a esquerda de um programa à altura das ameaçadoras circunstâncias, afirma o seguinte:

“É uma ilusão pensar que o fascismo será derrotado pela acção policial ou pelo simples elogio da democracia. A extrema-direita só recuará se as condições de vida da maioria não forem sacrificadas para servir os interesses do capital (…); quando a ameaça à soberania nacional for superada e a dignidade nacional respeitada. Em suma, quando a ascenção neoliberal na Europa e fora dela for quebrada, já que o fascismo alimentou-se dos desastres gerados pelo neoliberalismo.”

Pela minha parte, aproveito para repetir o que já aqui escrevi há uns meses:

A esquerda europeia maioritária, por exemplo em França, está reduzida, graças ao euro e ao declínio económico e político por este gerado, a cada vez mais impotentes discursos sobre o governo económico europeu. A única coisa que me dá esperança é saber que um pouco por todo o lado, e em Portugal também, a ideologia do globalismo e suas potentes declinações europeias, o culto da impotência do Estado e do seu decisivo favorecimento pelo “colete-de-forças dourado” de um sistema cambial rígido, pode estar em quebra à esquerda.

Neste país, a esquerda tem condições únicas para monopolizar com realismo a bandeira da recuperação de margem de manobra soberana no campo económico, monetário e não só, dando-lhe um cunho progressista, em defesa do emprego, das liberdades e legitimidade democráticas e da expansão igualitária das capacidades individuais, graças a um Estado social que não pode ser preservado com estes constrangimentos externos. Contra as amalgamas em que muitos globalistas se especializaram, esta é aliás a diferença crucial na economia política e moral face a uma direita nacionalista que, reconhecendo também, como Karl Polanyi afirmou na sua comparação entre socialismo e fascismo, a “realidade da sociedade” e do poder de Estado, está disposta a sacrificar as liberdades e a sua igualização perante este reconhecimento.

5 comentários:

pvnam disse...

NAZISMO NÃO OBRIGADO!...
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Todos diferentes, todos iguais!...
Leia-se, TODAS as identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta!...
{nota: inclusive os de 'baixo rendimento demográfico' (reprodutivo)!... inclusive os economicamente pouco rentáveis!...}
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Nazismo não é o ser 'alto e louro', bla bla bla,... mas sim a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!...
Os 'globalization-lovers' nazis que andam por aí… buscam pretextos... para negar o Direito à sobrevivência das Identidades Autóctones.
Pelo contrário, os separatistas-50-50 não têm um discurso de negação de Direito à sobrevivência de outros... mais, os separatistas-50-50 não são anti-imigração -> os separatistas-50-50 apenas reivindicam o Direito à Sobrevivência da sua Identidade!... Leia-se: os 'globalization-lovers' que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa!
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NAZISMO NÃO OBRIGADO!... Leia-se, é preciso dizer NÃO àqueles que pretendem determinar/negar democraticamente o Direito à Sobrevivência de outros.
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P.S.
O legítimo Direito ao separatismo… pode, e deve, ser alcançado através de manifestações não-violentas (à Gandhi) por toda a Europa:
- «Pelo DIREITO À INDEPENDÊNCIA/SOBREVIVÊNCIA contra o NAZISMO-DEMOCRÁTICO».
Nota: Existem mais de 1200 milhões de chineses, existem mais de 1200 milhões de indianos, etc, etc, etc… e… existem Nazis-Democráticos!... Os Nazis-Democráticos insistem em acossar/perseguir qualquer meia-dezena de milhões de autóctones que defenda a sobrevivência da sua Nação/Pátria… leia-se: os Nazis-Democráticos pretendem determinar/negar democraticamente o DIREITO À SOBREVIVÊNCIA de outros…

Lowlander disse...

Caminhamos alegremente nas maos desta garotada neo-liberal rumo a mais uma guerra de proporcoes continentais na Europa.

brancaleone disse...

A esquerda portuguesa, tal como acontece na Italia, na França, na Espanha, na Grecia etc... continua a repetir como um mantra: Mais Europa!
Não chegaram 5 anos de crise para perceber que o €uro é O PROBLEMA e que os tratados europeus são uma construção Hayekiana construida sobre o dogma da independencia do Banco Central e a anulação de qualquer controle democratico sobre a politica monetaria.
O PS repete que a negociação da divida publica é a prioridade e a unica solução para ultrapassar a crise. E depois: a mutualização da divida! Uma união fiscal que a Alemanha obviamente não quer, até porque significaria ter que transferir quase 10% do proprio PIB por ano aos seus parceiros, segundo os calculos do economista Sapir:
http://russeurope.hypotheses.org/453#_ftn5
Agora eu pergunto: desde quando a divida publica foi a origem da crise? Até o BCE não pode mais esconder que o problema foi o ecesso de endividamento privado nos paises em crise:
http://www.ecb.europa.eu/press/key/date/2013/html/sp130523_1.en.html
E o ecesso do endividamento privado teve uma unica causa: a moeda unica!
Os Alemaes nunca teriam andado a emprestar dinheiro tão alegramente em outros paises com o risco de desvalorização cambial!

E para alem disso, como é que se resolveriam os desequilibrios comerciais que a moeda unica criou entre os paises da zona euro? Como anular os diferencias de inflação que destruiram a competitividade dos ditos PIIGS?
A resposta é uma só, e as esquerdas sabem: Austeridade e desvalorização salarial para reequilibrar balanças correntes negativas.
Quando não é possivel desvalorizar a moeda (que os paises já não tem) é a unica solução e não é uma solução de esquerda!
Significa um ajustamento muito lento e doloroso, que acaba por destruir o tecido de pequenas e medias empresas que trabalham no mercado interno, que conseguiriam sobreviver graças a uma desvalorização da moeda.
Mas evidentemente a esquerda está preocupada em garantir, a quem ainda tem dinheiro, uma moeda forte para poder adquirir produtos importados a preços convenientes.
O peso do ajustamento da balança comercial será pago pelo "povo": os trabalhadores do público e do privado, cujo empobrecimento tem como consequencia a destruição da classe media (profissionais, pequenas empresas,comerciantes..)

O resultado do FN em França é significativo. Um partido começõu a explicar aos eleitores a armadilha do euro e os eleitores perceberam.
E o facto que o programa economico da Le Pen esta baseado nos estudos de um economista marxista (o professor Jaques Sapir que mencionei acima)deve fazer reflectir.

Sou italiano e na Itália a situação é a mesma. O debate sobre o euro começõu a pouco tempo nos midias graças a um economista, o prof. Alberto Bagnai, cujo livro "o por do sol do euro" teve um successo enorme.
Mas tal como aqui aconteceu com o prof. Joao Ferreira do Amaral, marginalizado pelo PS, o prof. Bagnai (economista de esquerda) e outros colegas deles, são atacados a esquerda (neoliberais disfarçados ou politicos ignorantes) como populistas e antieuropeistas!!!

Não parece haver solução a este impasse.
Eu pessoalmente espero que a Le Pen consiga dar o golpe mortal a esta construção politico-monetaria diabolica.
O prof. Sapir apela-se a uma união de esquerda e direita contra o euro nesta entrevista:
http://www.lantidiplomatico.it/dettnews.php?idx=6&pg=5595
No partido grego Syriza o antigo lider saiu e fundou outro, o "Plano B", contra o euro.
Alguem do PS vai esperar que o país acabe como a Grecia (e já não falta muito) antes de abrir os olhos?

Alvaro disse...

A União Europeia e principalmente o Euro envenenou todo o debate político na Europa.
Se continuarmos pelo caminho que estamos a seguir isto acabará tudo à pancada como uma Jugoslávia à escala continental.
O inimigo principal, neste momento, é a União Europeia, o IV Reich do Século XXI. Digo UE e não Euro pois, neste momento, a UE é indissociável do Euro.
Infelizmente a maior parte dos partidos está controlada pela UE e não se atreve a coloca-la em causa. Só alguns partidos da direita e da esquerda, partidos considerados fora do chamado "arco da governação", têm a coragem de colocar o Euro (e a UE) em causa. Uma vitória da Marine Le Pen em França, seria uma boas notícia para todos nós, quer fossemos de direita ou de esquerda.


José Luís Moreira dos Santos disse...

Não está, NUNCA ESTARÁ, o respeito que me merece o seu empenho e modo de intervenção em favor de uma Esquerda forte, anunciadora de outras práticas e políticas, mas choca-me verificar que no seu esforço há uma voluntária resignação: considerar de Esquerda, no caso português, as forças políticas do PS para a lado esquerdo do panorama político. Bem sei que não está só nessa visão, mas quero-lhe afiançar o seguinte: NUNCA OUVE UMA MAIORIA DE ESQUERDA EM PORTUGAL! Tente perceber porquê.
José Luís Moreira dos Santos