domingo, 3 de maio de 2009

Da teoria à prática

Helena Garrido, na sua coluna no Negócios, aponta bem o dedo à responsabilidade das agências de notação (Standard and Poor’s, Moody’s e Fitch) no desencadear e desenrolar da actual crise. O papel destas agências na crise financeira já foi bem escrutinado neste blogue (por exemplo, aqui e aqui). Contudo, o descrédito destas agências não parece ter beliscado o seu poder nos mercados financeiros. Segundo a The Economist, os empréstimos do Federal Reserve norte-americano ao sector financeiro irão ser condicionados pela avaliação dos activos usados como garantia por uma das três grandes agências de notação . A receita esperada é de 400 milhões de dólares.

Onde Helena Garrido se engana é na hipótese do mercado como “teoricamente mais inteligente”. A alternativa avançada dos CDS (Credit Default Swaps) é um bom exemplo do contrário. Estes são contratos onde o vendedor promete reembolsar o comprador em todo o valor de uma dívida que este detenha e não tenha sido paga. Alicerçado em diferentes percepções do risco, o mercado de CDS apresentou-se como uma formidável fonte de especulação nos últimos anos. Entre 2005 e 2007, este mercado mais do que quadruplicou atingindo os 42 850 mil milhões de dólares. O reverso da medalha verificou-se nos dois últimos anos. Este mercado colapsou. Foi devido aos CDS que, aquando da falência da Lehman Brothers, a maior seguradora do mundo, a AIG, líder na transacção destes produtos, entrou em falência técnica.

No entanto, o que importa aqui sublinhar é o carácter não público da maior parte das transacções de CDS (over the counter). Os preços dados pela Bloomberg ou Reuters não têm qualquer relação com a realidade destes mercados. São ficções que não podem ser tomadas como medidas do risco. Além disso, a apreciação destes contratos depende directamente das avaliações dos activos feitas pelas agências de notação. Os primeiros não sobreviveriam seguramente sem as segundas.

Os CDS não são pois alternativa. Precisamos sim de substituir estas agências privadas por agências públicas internacionais, sem fins lucrativos, cujos modelos de avaliação sejam transparentes.

Para quem quiser saber mais sobre CDS, vale a pena ler este conjunto de postas de um ex-negociador deste tipo de contratos.

1 comentário:

CN disse...

O mercado de CDS nunca colapsou.


Se a AIG vendeu CDS baratos demais também os Bancos Centrais andaram com taxas de juro baratas demais o que é a causa directa das bolhas.