quinta-feira, 15 de maio de 2008
Fazer de conta
Agora percebo a declaração de Teixeira dos Santos. Os ministros das finanças da UE afirmaram em uníssono que os salários dos gestores de topo são «escandalosos». Um «flagelo social». Sobretudo num contexto em que a generalidade dos trabalhadores assalariados conhece uma estagnação ou degradação das suas condições de vida e de trabalho. Segundo os ministros, este último padrão é para manter. A ortodoxia económica inscrita nos actuais arranjos da UE foi feita para isso mesmo. Como nos lembra o Público: «o salário de um gestor é actualmente de um para 60 ou 80, quando há vinte anos era de um para vinte». E pensar que em pouco mais de vinte anos o peso dos salários no rendimento da zona euro passou de 68% para 56%. É o que acontece quando a social-democracia esquece as virtudes da economia mista e adere à ideologia do «mercado livre». Segundo o Financial Times, os ministros «recomendaram» que sejam os accionistas a moderar os ímpetos dos gestores. Nada mais ilusório. Isto prova que a declaração só aparece para justificar a perpetuação da austeridade assimétrica. Entretanto, o presidente alemão, ex-dirigente do FMI, pôs o dedo na ferida da crise financeira ao culpar a orientação de «curto prazo» e as «alquimias» das instituições financeiras pela «destruição maciça de activos» e pelas ameaças à coesão social. A situação político-ideológica na Alemanha parece estar cada vez mais interessante.
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1 comentário:
Teixeira dos Santos seguindo os conselhos do Presidente da Republica demonstrou a sua indignação em Bruxelas em relação aos elevados honorários auferidos pelos gestores das empresas privadas portuguesas. Se o ministro das finanças está preocupado com os casos de injustiça verificados no nosso país não é optando por este tipo de estratégia que resolverá os problemas dos mais pobres e dos trabalhadores em geral que têm ordenados miseráveis. O que o ministro pretende é atirar poeira para os olhos dos portugueses com discursos demagógicos e aproveitar a ocasião para fazer um pouco de campanha eleitoral. A frágil situação em que se encontram a maioria dos portugueses não é devido aos altos ordenados dos gestores privados mas sim graças às politicas economicistas adoptadas pelos diversos governos que temos suportado e muito sobretudo pelo governo de José Sócrates e Teixeira dos Santos. Se o ministro das finanças está muito preocupado com a situação dos portugueses o que tem a fazer é aconselhar o seu governo a não adoptar politicas económicas injustas para a generalidade dos trabalhadores. Por exemplo, não é com as alterações ao novo código de trabalho que mais servem as empresas e os patrões que o governo contribui para o melhor bem estar dos portugueses, não é com a introdução da flexi-segurança que ficam salvaguardados os trabalhadores portugueses, não é com a tentativa sub-reptícia de acabar com a contratação colectiva que se garante a defesa de quem trabalha, não é com o facilitismo politico e económico dados aos grandes grupos económicos que o governo assegura melhor justiça e melhor distribuição da riqueza, não é alienando a quase totalidade dos bens públicos rentáveis a interesses privados, como têm feito os sucessivos governos, que se garante um substancial crescimento económico. O ministro Teixeira dos Santos deveria compreender que a situação dos gestores privados a quem se refere com elevados ordenados roçando o escândalo em relação a outros países mais ricos e mais desenvolvidos se deve à impunidade de que gozam em termos políticos e económicos. Fazem o que querem, exigem e são contemplados mesmo sem resultados, ostentam a sua riqueza enquanto exploram diariamente os seus empregados regateando ao cêntimo qualquer aumento salarial, procuram evitar pagar mais pelo trabalho extraordinário mas querem sempre mais carga horária laboral gerida a seu bel-prazer, evitam a todo o custo contratualizar, só eles querem impor regras e ainda exploram os consumidores com elevados preços dos seus produtos e muitas das vezes com fraca qualidade. O governo de Teixeira dos Santos tem ajudado muito à festança. Ainda a propósito das palavras do ministro das finanças proferidas em Bruxelas este sujeitou-se a ouvir as reacções prepotentes de alguns gestores privados portugueses como Fernando Ulrich do BPI e de Belmiro de Azevedo. O primeiro quase que chamou de pateta ao ministro e o patrão da Sonae, tal como sempre foi do seu timbre, ameaçou de imediato com a saída dos gestores portugueses para o estrangeiro, como se no estrangeiro houvesse muitos gestores portugueses competentes, nem cá como se tem provado pelos resultados apresentados quanto mais lá fora. O que Ulrich e Belmiro quiseram dizer ao ministro das finanças foi, “esteja é caladinho e procure manter as calças dos portugueses em baixo para nós estarmos à vontade.”
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