quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Revisitar António Sérgio


Em 1939, na revista Seara Nova, António Sérgio (1883-1969) defende o seguinte: “transformar a moral pela economia e a economia pela moral, actuando nas duas ao mesmo tempo, e pela acção recíproca de uma em outra: eis o objetivo”. Quase vinte anos depois, Sérgio retomaria esta ideia de economia moral, sempre a propósito do seu projeto cooperativista de socialização da economia: “é um aperfeiçoamento económico da sociedade que se funda no aperfeiçoamento moral dos indivíduos e um movimento de educação moral que toma por instrumentos as necessidades económicas dos homens”.

Amanhã, pela minha parte e do José Castro Caldas, debateremos no colóquio esta versão portuguesa das utopias que se querem reais, comparando-a quer com a tradição da economia política liberal que ousou por uma vez ou outra entrar nas fábricas, a de um certo John Stuart Mill, quer com a tradição da economia moral de matriz socialista encarnada por Karl Polanyi.

2 comentários:

Jaime Santos disse...

Muito bem escrito, João Rodrigues. O problema parece ser desde logo o carácter incompleto do pensamento de Polanyi, como você assinala. E sobretudo, desgraçadamente, o facto da História do Socialismo no sec. XX não ter seguido um percurso assente no cooperativismo e numa abordagem empirista, em vez do planeamento centralizado que caracterizou o totalitarismo soviético, outra forma de pensamento utópico e bem mais tosco, pelos vistos, que o seu congénere capitalista, a julgar pelos resultados. Coisa que, infelizmente, à Esquerda, pouca gente parece ser capaz de reconhecer em voz alta, a julgar pelas loas que ainda se ouvem a 'paraísos' como a URSS ou Cuba.

E há ainda outro aspecto, reconhecido por Axel Honneth em livro recente, um pecado original do Socialismo pré-Marxista, a sua pouca preocupação com direitos fundamentais fora da esfera económica, os tais direitos individuais que Polanyi parece que apreciava e cuja expansão permitiria o fim de certos direitos deletérios...

O Liberalismo é, goste ou não, o Pai da ideia de autonomia do indivíduo, com todas as suas consequências, boas ou más. E se essa autonomia não estiver presente numa qualquer teoria futura de um Socialismo renovado, este só merece mesmo ser enviado para o caixote do lixo da História...

Anónimo disse...

Até que enfim que ao longo destes anos todos de crise, alguem se lembrou do nome de Antonio Sergio.
O Programa e a Declaração de Principios do PS quando da fundação do Partido em 1973 em BAD MUNSTEREIFEL na então Republica Feseral Alemã , tambem conhecida por Alemanha Ocidental na naquela data , tinha algo de inspiração em Antonio Sergio , só que os tempos agora são outros e ouve grandes mudanças. O que se aprendeu com Antonio Sergio parece ter sido esquecido.