Vale a pena pensar no significado desta contestação, dificilmente redutível a agendas da direita neoliberal ou a reivindicações sectoriais específicas, do Serviço Nacional de Saúde (SNS) à educação pública. Parte do descontentamento resulta de uma dupla intuição: reivindica-se mais, não porque se discorda mais da actual solução governativa do que da anterior, mas porque é maior a esperança de obter resultados (veja-se o recente caso da integração de precários na RTP – Radiotelevisão Portuguesa); e reivindica-se mais porque, à medida que se aproxima o fim de uma legislatura duplamente inédita – capacidade de influência das esquerdas em contexto económico internacional favorável – se pensa que o que não for conseguido agora dificilmente o será noutro contexto.
Desta dupla intuição nascerão, porventura, reflexões sobre as limitações estruturais ao desenvolvimento do país decorrentes da arquitectura dos tratados europeus e do euro, ou ainda sobre a integração em instâncias da globalização neoliberal como a Organização Mundial do Comércio (OMC), numa altura em que o dogma da liberalização comercial abre brechas onde menos se esperava.
Sandra Monteiro, A Justiça social e os seus responsáveis, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Dezembro de 2018.
Contrastem o editorial de Sandra Monteiro com o hábito de pensamento arreigado em tantos editoriais da imprensa convencional, enquadrando a contestação laboral pelo prisma político-partidário, como se os trabalhadores não tivessem razões que valeria a pena considerar, capacidade de acção colectiva autónoma a que valeria a pena atentar. Porque será que um editorial de um jornal de negócios jamais enquadraria a acção colectiva patronal, as greves do capital, perdão, a acção e reacção dos mercados, por um prisma político-partidário?
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