Através do mercado único e da moeda única, a UE foi criada para bloquear ao máximo a política industrial, ou seja, o conjunto de medidas através das quais Estados nacionais, que historicamente ficaram para trás, conseguiram promover a mudança sectorial e a sua capacitação tecnológica. O comércio dito livre, a anulação da relevância económica da fronteira política, é muitas vezes o protecionismo dos mais fortes, sabemo-lo pelo menos desde Friedrich List.
Um Estado como Portugal tem todo o interesse em ganhar margem de manobra nacional, incluindo através de medidas que relaxem os constrangimentos europeus às chamadas “ajudas de Estado”, num contexto em que a política industrial musculada está abertamente de volta a ocidente e a oriente. Obviamente, tal implica também deitar fora a tralha das regras orçamentais, como parte do desmantelamento de todas as iniciativas euro-liberais.
No entanto, isto era se as elites do poder em Portugal não tivessem sido totalmente colonizadas pelo euro-liberalismo, se não pensassem como se estivessem no centro. Por isso, já não surpreende ver o governo português a subscrever documentos, com países do norte, a fazer queixinhas à Comissão Europeia, alertando para os supostos perigos que impendem sobre o malfadado mercado interno. Os franceses e os alemães fazem de qualquer forma o que bem entendem e agora isto é absolutamente visível. Nós temos é de começar a tentar fazer o mesmo.
O problema é que as elites estão preguiçosamente habituadas ao medíocre nexo finança-construção-turismo-estufas-distribuição que nos cabe nesta hierarquia por desafiar. Pobre país este, dominado por ideologias destas. Qualquer esperança para este país recomeça com a perda de poder do euro-liberalismo, com a quebra do Consenso Bruxelas-Frankfurt.
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