Público, 17/3/2013 |
Dito desta maneira, parece óbvia que a política seguida - de forte contracção da procura interna para obter uma desvalorização salarial competitiva - foi um completo disparate, à luz dos ojectivos traçados. Não é asfixiando alguém que se consegue que respire melhor.
A evolução do défice comercial externo é a prova disso: apesar da forte redução peso dos salários no PIB de 2010 a 2016, quando se tenta aumentar o consumo, o investimento e até as exportações, a componente importada - essa sim! - asfixia o crescimento e o desenvolvimento. Não são os salários. Se naquele período a Balança de Bens melhorou, isso deveu-se à asfixia do consumo e investimento gerada pelo corte salarial; não por melhoria de competitividade externa. Mal se recupera a vida e o poder de compra, o défice da Balança de Bens afunda-se outra vez e apenas é compensado pelo superávite da Balança de Serviços (sobretudo turismo). E esse problema nacional mantêm-se.
Basta que algo suceda ao turismo e esse problema, aparentemente invisível, emergirá com toda a força.
Fonte: INE, a partir dos valores das contas nacionais |
Mas mesmo que se mostre qual é o problema, estas ideias - de que é necessário manter os salários baixos - voltam a aparecer, como parasitas. Agora é a propósito do combate à inflação. Impede-se os salários de subir para evitar "uma espiral inflacionista" e resta saber se não virá uma nova crise do sector financeiro desregulado, que nos obriguem, de novo, a pagar. Ora, mais uma vez, assistiremos a uma redução a prazo do peso dos salários no PIB em proveito dos lucros. E mais uma vez os desequilíbrios se tornarão evidentes quando tentarmos crescer e desenvolver-nos. E pelo caminho apenas se criará devastação social, ampliação das desigualdades e pobreza, com riscos políticos de deriva à extrema-direita.
É loucura pensar que aplicar a mesma política, produzirá resultados diferentes. O problema é outro.
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