Como é observável, as duas notícias foram publicadas no mesmo jornal... do mesmo dia.
Nessa altura, Pedro Passos Coelho vivia um momento político atormentável.
Desde 2011/12 que Passos Coelho assumira ser favorável a um programa de políticas de austeridade - "o Estado tem vivido acima das suas possibilidades" - que aumentasse a competitividade das empresas; em Agosto de 2012 entrara em vigor um pacote laboral que visara reduzir os salários dos trabalhadores, ao fragilizar o emprego (embaratecendo o despedimento), ao aumentar os tempos de trabalho pelo mesmo salário, ao reduzir o preço do trabalho extraordinário a ponto de estimular o seu uso, ao reduzir o montante e a duração do subsídio de desemprego (procurar "2012" aqui); em Setembro de 2012, Passsos Coelho fora enxovalhado ao ter proposto e depois recuado naquela ideia radicalmente experimental de reduzir a TSU do patronato de 23,75% para 18% e de aumentar a dos trabalhadores de 11% para 18%, o que representava um corte dos salários nominais de 7% que era transferido, imediatamente, para as empresas; em Outubro de 2012, Passos Coelho aceitara um "aumento enorme de impostos" - que agravou a tributação sobre salários e pensões - como forma zangada de compensar o corte - desejado! - nas despesas públicas com funcionários, proibido pelo Tribunal de Contas. O então ministro das Finanças, Vítor Gaspar (hoje no FMI) prometeu ser transitório, mas o agravamento fiscal foi persistindo durante uma década.
Ou seja, tudo medidas que reduziriam o peso dos salários no PIB em proveito dos donos das empresas. E na realidade provocaram uma histórica recessão e uma histórica emigração e um histórico recuo da população portuguesa porque os portugueses viram os seus rendimentos recuarem. Lembram-se?
E no entanto, depois disso tudo, Passos Coelho manifestava-se em Dezembro de 2012 preocupado com a "injustiça social na distribuição do rendimento"...
Público, 5/3/2013 |
Estranhas ressonâncias coincidentes de uma mesma política europeia, levada a cabo por diferentes personagens.
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