A semana passada, Cláudia Azevedo, presidente da comissão executiva da Sonae, que detém a cadeia de hipermercados Continente, dirigiu uma carta aos trabalhadores na qual lamenta uma “campanha de desinformação sobre as causas da inflação alimentar”. Uma campanha certamente deliberada e organizada, orquestrada pelo maquiavélico inspetor-geral da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), em conluio com o ministro da Economia.
Esta missiva, em tom de vitimização, surge, note-se a coincidência, na sequência de declarações de António Costa Silva, que admitiu a possibilidade de tomar “medidas mais musculadas” – sem, na verdade, adiantar nada de concreto – para conter a inflação nos bens alimentares. Na mesma conferência de imprensa, Pedro Portugal Gaspar, inspetor-geral da ASAE, apresentou dados bastante esclarecedores: em algumas grandes superfícies têm sido registadas margens médias de lucro bruto de até 50% em bens alimentares essenciais, como as cebolas (superior a 50%), os ovos, laranjas, cenouras e febras de porco (entre 40 e 50%), ou ainda as conservas de atum, azeite e couve coração (entre 30 e 40%).
O resto da crónica pode ser lido no setenta e quatro.
2 comentários:
A Dona Cláudia Azevedo,deveria informar-se como o HOMEM que partiu hoje, construiu um Império olhando para todos, partiu feliz com o sentimento do dever cumprido.
Espero que o lide da crónica não seja da responsabilidade da Vera Ferreira: «A presidente da Sonae diz haver uma “campanha de desinformação” contra os hipermercados, mas a verdade é que os preços dos produtos alimentares não param de subir, mesmo quando a inflação abranda. E os baixos salários das famílias das classes trabalhadoras não esticam. Não, não estamos todos no mesmo barco.»
Claro que não estamos todos no mesmo barco e que os baixos salários são duramente golpeados. Mas também é preciso perceber os fenómenos. Para iliteracias e aldrabices económicas, já nos basta o Costa. A «inflação abrandar» não significa que os preços dos produtos «param de subir», significa apenas que sobem mais devagar.
A propósito, a questão da inflação dos produtos alimentares não é assim tão simples. As mesmas estatísticas, da mesma fonte oficial que cita, são bem elucidativas. Confira na Base de Dados do INE, «Índice de preços de produtos agrícolas no produtor (Base – 2015) por Produto agrícola; Anual» e «Índice de preços no consumidor (IPC, Base - 2012») por Localização geográfica (NUTS – 2013) e Agregados especiais; Anual».
Em 2022, os preços dos bens agrícolas (vegetais e animais), no produtor, aumentaram em média 20,3% (o respetivo índice passou de 114,83 para 138,10). Mas, no mesmo ano, os preços dos produtos alimentares não transformados, no consumidor, aumentaram em média “apenas” 12,2% (o respetivo índice passou de 112,416 para 126,154).
Uma brutalidade, face aos parcos aumentos dos salários, das reformas e das pensões. Mas bastante menos do que nos produtores.
Os pequenos produtores agrícolas, agrupados na CNA, são esmagados pelo aumento dos custos de produção. Mas é preciso diferenciar socialmente os próprios agricultores. Os preços e os rendimentos dos agricultores, no que dependa da produção nacional, já para não falar da importada, são sobretudo determinados e capturados pelos grandes produtores. Também os agricultores nacionais «não estão todos no mesmo barco».
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