sexta-feira, 10 de março de 2023

As casas aumentaram porque se construiu pouco na última década?


«Se é certo que se registou, de facto, um abrandamento da construção na última década, a verdade é que a relação entre a procura (famílias) e a oferta (alojamentos), pouco se alterou neste período. Com efeito, se em 2005/09 havia um excedente de 1,906 milhões de casas face ao número de famílias, esse superavit apenas se reduz para 1,847 milhões em 2015/20 (infografia nossa à direita, na imagem). O que ajuda a explicar, aliás, que o rácio de alojamentos por família se tenha mantido em torno dos 1,5 (uma casa e meia por família), na última década.
Faz, portanto, pouco sentido interpretar a subida vertiginosa dos preços e a atual crise de habitação como um simples problema de «falta de casas», devendo antes tentar perceber-se o que mudou na procura de alojamentos ao longo dos últimos anos. É neste âmbito, de facto, que deve ser avaliada a pressão, sobre a oferta, de processos como os associados à financeirização e internacionalização dos investimentos imobiliários, em muitos casos especulativos, a par da intensificação do turismo. Fatores que não podem ser dispensados na explicação do aumento vertiginoso dos preços da habitação, num país que, de resto – e tal como na Europa –, assiste a uma persistente estagnação dos rendimentos das famílias
».

O resto da crónica pode ser lido no Setenta e Quatro.

1 comentário:

Anónimo disse...

"(...) devendo antes tentar perceber-se o que mudou na procura de alojamentos ao longo dos últimos anos".

E assim se cai no trapilho liberal de que os problemas são exógenos a um "mercado perfeito", isto é, quando se separa "oferta" de "procura", produção de distribuição, etc etc.

Se é certo que no mercado de imóveis algo mudou nas últimas décadas do lado da "procura", convém associar isso também à mudança na "oferta" das últimas décadas. Há um problema de produção, sim. Mas não como a direita diz, quando refere a falta de produção privada, porque se algo mudou na procura, essencialmente externa, a sua produção não vai ser para a procura interna. De facto, o problema essencial da produção trata-se da falta de produção pública.