Num retiro, provavelmente espiritual, numa aldeia do Ártico, responsáveis do BCE lá reconheceram, em off, o óbvio ululante: a inflação está nos últimos tempos a ser sobretudo puxada pelos lucros das empresas. Já em on, a orientação será a mesma de sempre: inflação de direitos laborais e pressão salarial são a ameaça a esconjurar.
Num contexto em que os salários reais diminuem e em que a produtividade cresce, o peso dos rendimentos do capital aumenta imparavelmente. Em Portugal, no ano passado, a transferência do trabalho para o capital foi superior à patrocinada pela troika no pior ano. O BCE fez parte da troika, que de resto resultou da sua inação, insistamos.
Agora, o importante é continuar a aumentar a taxa de juro, garantindo lucros recorde à banca até ver e aumentando as desigualdades, também por via do aumento do desemprego, de resto já em curso. Eles têm mesmo um plano e é terrível.
Confirma-se pela enésima vez que o BCE e o euro foram o maior triunfo institucional do neoliberalismo nesta zona: um banco central supranacional, independente dos poderes políticos democráticos existentes nacionalmente, é sempre dependente do capital financeiro. As escalas nunca são neutras e os mandatos também não.
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