segunda-feira, 20 de abril de 2020

Vem mesmo de dentro


Chamaram-me a atenção para a mais recente mensagem política na publicidade do Pingo Doce: “compre produtos nacionais, porque a nossa força vem de dentro”. É mesmo caso para dizer, meio a brincar, meio a sério, que o Pingo Doce dá uma linha política mais acertada do que os que andam por aí à procura da força que viria de fora. De fora, da UE, só vem constrangimento. O melhor que se pode pedir é mesmo que não atrapalhe.

É claro que a soberania não está no consumidor e que o Pingo Doce deverá ser obrigado a dizer: pague impostos nacionais e salários decentes aos de dentro, precisamente para que a nossa força venha daí.

A força vem realmente de dentro, ou seja, do povo. E isto só pode significar que a solução está cá dentro. Se queremos estimular a produção nacional, garantindo uma maior auto-suficiência nacional, o que é e será cada vez mais reconhecidamente necessário, até por razões de segurança e ambientais, temos de recuperar instrumentos de política cambial e comercial, substituindo importações e só importando o que podemos “pagar” com as nossas exportações.

Viver dentro das nossas possibilidades, com uma balança corrente equilibrada, num contexto em que se almeja o pleno emprego, é uma aprendizagem colectiva que pode ser bem sucedida se tivermos instrumentos para gerir o constrangimento externo decentemente; neste momento, não temos.

E, claro, é preciso controlar capitais para travar as chantagens dos pingos doces desta vida e a instabilidade financeira que vem de fora, parte da reabilitação da ideia económica de fronteira, sem a qual não existe comunidade com capacidade de se autodeterminar politicamente. Em questões macroeconómicas, a distinção entre moralismo e moralidade está na acção colectiva e no manejo nacional de instrumentos de política económica.

É preciso também insistir, junto dos que ainda confundem integração neoliberal com internacionalismo, que esta capacidade nacional deve ser reconhecida aos outros povos, como de resto indica a nossa Constituição no artigo sobre relações internacionais, o que clama contra os imperialismos e reconhece o direito universal à autodeterminação.

 Já agora, pergunto: que forças têm por cá insistido na produção nacional, na ancoragem material da soberania democrática, na força que vem de dentro?

23 comentários:

PauloRodrigues disse...

Unilever=holanda

Anónimo disse...

Yap...Realmente a força vem de dentro, que digam os produtores que veem as suas margens de lucro esmagadas.

Anónimo disse...

O PCP.

Anónimo disse...

A CDU.

Anónimo disse...

"Viver dentro das nossas possibilidades"?! É possível dizer isto no Ladrão de Bicicletas?

Anónimo disse...

Ao que parece, pois ainda não tenho a fonte segura, há um país nórdico que garante apoiar apenas as empresas com sede fiscal no próprio país. Era um bom princípio .

Anónimo disse...

"estimular a produção nacional, garantindo uma maior auto-suficiência nacional, ... substituindo importações e só importando o que podemos “pagar” com as nossas exportações."
Excelente ideia. E como vamos decidir o que produzir (em que quantidades, para consumo interno ou para exportação) e o que importamos (quantidades, preços, ...)? Criamos um "Ministério Central do Planeamento, Produção, Importação e Exportação" para determinar (em assembleias populares? Conselhos de Sábios?) que produtos e que quantidades produzimos ou continuamos a confiar nos mecanismos de Mercado, nos preços e na liberdade dos agentes económicos?

Anónimo disse...

O PCP e a CGTP-IN

Celestino Escaleira disse...

O PCP desde há muitos anos.

Jaime Santos disse...

De novo, não é por demais chamar a atenção a este artigo de Bárbara Reis, dedicado à IL, mas que deveria ser de leitura obrigatória do lado da Esquerda. Portugal era um País miserável nos anos 70 e 80 e foram os fundos comunitários que permitiram que hoje exista uma comunidade científica nacional, que as águas residuais sejam tratadas e as praias estejam limpas, que os nossos jovens sejam capazes de estudar, fazer mestrados e doutoramentos, que possamos ter acesso à melhor tecnologia, incluindo a médica que salva vidas, e por aí a fora...

https://www.publico.pt/2019/12/13/politica/opiniao/813-milhoes-esmolas-deputado-cotrim-ajudou-gerir-1897184

No sec. XXI, um País sem massa crítica intelectual (e às vezes é muito bom que ela possa emigrar e que possamos igualmente ser capazes de receber pessoas que dão o melhor entre nós e que contribuem para o nosso sistema de segurança social no processo) é um País sem futuro.

O PCP defende que se deve investir em indústrias que nunca seriam concorrenciais no mercado internacional. O PCP, tal como os capitalistas monopolistas, detesta a concorrência e a inovação, e continua a não perceber que foi a incapacidade de inovar dos sistemas de Economia planificados ao nível da produção de bens comuns que levou à ruína da URSS (um País ímpar a produzir armas e tecnologia espacial e incapaz de ser auto-suficiente na produção de bens de primeira necessidade, adivinhem de onde importavam o trigo?).

O PCP acha que se deve abandonar o Euro, mas nunca apresentou uma estratégia coerente para que isso fosse feito com o mínimo de disrupção possível, ou porque não é capaz e espera que outros o façam e sofram as consequências (o PS, como sempre!), ou porque continua lá no fundo a acreditar na tese do quanto pior melhor?

O João Rodrigues pelo menos aceita que devemos viver dentro das nossas possibilidades, o que quer dizer que aceita que o Estado deve gerir os recursos de forma equilibrada, o que implica naturalmente que não se pode dar às pessoas tudo o que desejam. Aliás, infelizmente não se lhes pode muitas vezes sequer dar o que de toda a Justiça mereceriam.

Mas a prática política do PCP mostra que isso os comunistas não aceitam. A defesa dos interesses da classe que o apoia é mais importante que o interesse colectivo. Algo que aliás a Direita também faz, só que pelo menos a Direita não se considera depositária do ceptro da soberania nacional.

O PCP, a julgar pelo que nos diz o João Ferreira, aceita a Democracia Liberal em que vivemos (revê-se no sistema político existente). Já o João Rodrigues chama-lhe Democracia Limitada. Como a soberania popular está limitada pelos direitos individuais (por isso é que existem Constituições) todas as Democracias são limitadas. Pela Lei, a tal que protege os nossos direitos fundamentais e adquiridos, incluindo aquela coisa horrorosa que é o direito a ter propriedade.

O PCP sempre considerou infelizmente que o papel que teve na luta contra o Fascismo lhe deveria conceder um 'droit de regard' em relação à evolução do sistema político em Portugal. A entrada para a CEE e o subsequente processo de integração europeia até pode ter sido um erro, mas então foi sufragado pela larga maioria dos votos do povo português e essa é a soberania que conta. Como dizia aquele cartaz pouco após o 25 de Abril, 12% não é nenhuma maioria... Muito menos 6%, diria eu...

alexandre paiva disse...

Tranquilizou-me o senhor Presidente quando ouviu os "donos" do pingo doce e continente dizerem que a economia podia abrir porque tinham as prateleiras cheias;Talvez se o senhor Presidente também ouvisse os desempregado,os sindicatos,e os que trabalham até exaustão;Talvez o senhor Presidente não ficasse tão tranquilo assim.

Anónimo disse...

Uma excelente posta

(Pobre paulorodrigues. Cada vez que ouve falar na Holanda tem um sobressalto. Ele ou aliás joão pimentel ferreira, bem se desdobra para parecer que são muitos.

Faz lembrar tanto aquele tipo que ficou com uma azia dos demónios pelo facto de Portugal ir fabricar Ventiladores...

Queria o descalabro do SNS, em prol dos lucros privados na saúde.)

Jose disse...

Cada um dentro da sua concha a fazer que bem entende.

Para tal efeito, mais seguro do que imprimir moeda, é imprimir senhas de racionamento.

Anónimo disse...

Um excelente comentário

Anónimo disse...

"E como vamos decidir o que produzir (em que quantidades, para consumo interno ou para exportação) e o que importamos (quantidades, preços, ...)?"

Então e os Mercados, e os preços e a liberdade dos agentes económicos?

A histeria é muito má companhia. Faz lembrar aquele tontinho em hipnose a declamar versos pseudo-eróticos aos seios da Matilde

O que este quer sabemos nós. Rezar aos "mercados" para que tudo fique na mesma e que continuemos a vegetar com este euro a falar alemão ou holandês

Anónimo disse...

Jaime Santos quer obrigar-nos a ler as suas leituras predilectas

Não teria nada de mal se as alargasse a todos.

Mas esta de as querer como "leitura obrigatória do lado da esquerda" cheira a catequização.E ainda por cima a catequização à dita esquerda por não obedecer ao catecismo da direita

Francamente. Parece mal . E não cheira bem

Anónimo disse...

Jaime Santos tem um problema de credibilidade

Este carpir sobre a miséria dos anos 70 e 80, estes hinos ao paraíso sobre a batuta dos fundos comunitários, escondem o seu compromisso ideológico.

Quer um modelo económico para o país assim deste tipo.Que a nossa massa crítica possa sair. E que nós possamos receber outra massa igualmente crítica. Tipo vistos gold?

(Isto dizendo que um país sem massa crítica é um país sem futuro. Estamos no reino do delírio?)

É que o problema de credibilidade de JS deriva também de todo o seu historial de defesa da nossa perda de soberania. Da nossa sujeição aos critérios neoliberais duma UE que se arroga ser o centro dum império colonial

Sacrifica JS os seus postulados sociais-democratas às manigâncias liberais dos seus senhores

E numa demonstração ou do Síndrome de Estocolmo ou de traição aos ideais dos velhos sociais-democratas ( ou ambos) arrastou-se por um ror de comentários e durante um ror de tempo a sua frase favorita:
" venham a mim as grilhetas de Bruxelas"

Para estas manifestações de submissão e de cobardia saltitante perante os donos já demos o que tínhamos a dar

Anónimo disse...

O resto da dissertação de Jaime Santos é o seu direito inalienável a ser o que é.Claro que infelizmente esse seu direito vem misturado com aquelas alarvidades que o acompanham.

Quer JS hipotecar a economia nacional?Gosta mais de servir,desde que ele faça parte do banquete? Não gosta da industrialização e não gosta do PCP?

Está no seu direito,claro. Podia-nos é poupar aos desvarios de alguém que se bandeou para o outro lado e que precisa de um álibi para andar por aí. Pelo que os gostos pelos capitalistas monopolistas só mesmo da cabeça de alguém que cita Voltaire sem nunca ter lido o livro que por aí andou a citar. Uma questão de coerência

Mas JS não se fica por aqui e qual vero neoliberal do século XX com tiques do século XXI dá um saltinho em defesa da honra da "concorrência"

Não gosta também da URSS? Mas está no pleno gozo das suas prerrogativas.Cheira é demasiado a impotência argumentativa para vir buscar a bengala do costume.Então a defesa do aniquilamento do nosso tecido produtivo foi por causa da URSS?

Tchtchtch...pobre JS

Anónimo disse...

JS acha que se deve permanecer no euro? E o mauzão do PCP acha que se deve sair do EURO?

O PCP está coberto de razão.Claro que pode ser por defender a tese do "quanto pior melhor". Por isso viabilizou contra Passos Coelho a indigitação de Costa contra os colaboracionistas do PS. É preciso dizer mais alguma coisa?

Depois assistimos a um espectáculo confrangedor. Em vez de respeitar o que João Rodrigues ou o PCP de per si dizem, vemos que JS tenta descortinar o que um e outro defendem. Mas contrapondo-os desta forma tão mimosa: um acha que devemos viver dentro das nossas possibilidades.Outro acha que não, mas que devemos aceitar a democracia liberal, coisa que o outro não considera

Galhardamente nem se veda em exprimir o que lhe vai na alma. A Direita ,ah essa direita de que tão bem defende as grilhetas, ao menos essa direita não se considera depositária do ceptro da soberania nacional

( confessemos que perante isto, somos levados a pensar, quiçá injustamente que há aqui qualquer complexo de vende-pátrias não assumido)

Anónimo disse...

Finalmente, finalmente, voltamos ao mesmo disco riscado de JS.

Quando será que este aprende que aqui não se debatem nem votos nem votinhos. Aqui debatem-se ideias. Recorrer sistematicamente a estas fugas, mais uma vez se repete, é sinal de uma frustrada impotência argumentativa. ( tanto mais e pelo que se saiba que nenhum dos tratados europeus foi levado a votos,o que demonstra bem a democracia de polichinelo que se defende)

A esse propósito poder-se-ia citar Miguel Torga quando dizia num dos seus diários que "uma voz chega para enfrentar o mundo e ter razão. A morte está sozinha contra a vida inteira, e é verdade"

Mas isso francamente será demasiado para a camioneta do pobre JS, que ainda anda às voltas com as aldrabices que andou a pintar sobre o Cândido, de Voltaire

A.R.A disse...

Jaime Santos
Se a sua intenção foi de chegar a uma suposta conclusão acente em factos históricos da História contemporanea peço lhe que ao menos seja menos sectário, para que quem o lê, mesmo discordando, possa com alguma urbanidade dirimir pontos de vista inteligiveis consigo.
Mas lamentavelmente a sua ideia está, ironicamente, acente numa k7 que jucosamente sempre foi associada ao PCP. Irônico não acha?
Bom, quer goste ou não, desnovelando o seu novelo de ladainhas começo por fazer uso da História em que foi efectivamente o PCP que abriu caminho para a sua liberdade pois era a única força política organizada na oposição à ditadura sendo a escola para muitos futuros governantes (ironicamente alguns tornaram-se os mais cáusticos opositores de ocasião do PCP) do nosso país e por conseguinte junto com o partido mais antigo de Portugal a pedra fundadora da nossa democracia.
Falou de um Portugal arcaico nos anos 70/ 80 salvo por uma CEE mas não menciona (deliberadamente) que fomos o país na Europa com a mais longa ditadura fechada para o mundo e que adesão à CEE foi acente na destruição do nosso sector primário e da pouca indústria que tínhamos em troca de dinheiro fresco que, segundo o meu ponto de vista, tal adesão, mais uma vez, ironicamente seguiu exactamente os mesmos moldes de mercado que os colonos Portugueses aplicavam nas suas fazendas aos colonizados trabalhadores que lá trabalhavam por meia pataca mas que largavam o seu soldo nas vendas que os mesmos colonos tinham nessas fazendas que pelo seu isolamento criavam um ciclo econômico fechado ou seja o colono Português ganhava sempre a dobrar: com a colheita e com o comércio/ o trabalhador ganhava e gastava o seu salário no seu local de trabalho.
Pois foi este o mesmo molde para a nossa adesão mas com requintes mais sofisticados onde constava a obrigatoriedade de Portugal (colonizado) comprar (ex.) agricultura á França (colono),indústria á Alemanha (colono), abdicar de soberania do nosso mar, e assim tivemos acesso a dinheiros comunitários emprestados com juros para desenvolver o país (?)... será que consegue encontrar a correlação irônica com o modelo acima do colono Português? É que para além de serem nossos credores ainda hes desenvolviamos, com o nosso dinheiro, a sua indústria e afins á custa da cláusula de "obrigatoriedade " e exclusividade de parceiros de um mercado comum. Genial!!
Também, ironicamente, a grande experiência inovadora imposta pela UE foi a liberalização do nosso mercado dando origem a algo totalmente novo... os cartéis econômicos e financeiros.
Mas nem tudo foram auto-estradas, é abate de 80% da nossa frota pesqueira e do nosso rural PSI-20 pelo que houve grandes avanços nomeadamente no sector terciário e na educação mas, ironicamente, criamos gente de educação superior que o país não teve capacidade de usufruir do seu investimento humano e foram convidados a sair das suas zonas de conforto para irem desenvolver os países credores de Portugal. Irônico não é? Para além de manterem o país subjugado ainda usufruem da nossa imigração altamente qualificada.
Por isto tudo e por muito mais acredito que o seu xangrila liberal para Portugal não passa de uma ideia turva e enviesada da realidade e com isto não estou a ser irônico.

Anónimo disse...

"Faz lembrar tanto aquele tipo que ficou com uma azia dos demónios pelo facto de Portugal ir fabricar Ventiladores"
Quando for publicada a primeira notícia de que foi já foram produzidos ventiladores e acabarem as notícias de que vão ser ...

Anónimo disse...

Sim sim está a ser em tempo recorde a produção de ventiladores

E eles ainda vão ser precisos. Não só cá mas também para exportar para quem os não tem

Para desespero de quem apostou no descalabro em Portugal

E para raiva de quem não gosta do que por cá se pode produzir

Os comentários de ódio que pulularam e pululam por essas redes sociais e pelas caixas de comentários dos jornais

Nao é verdade ó João pimentel Ferreira? Estão a estragar o negócio aos seus amigos