Já grande parte da população entendeu o que pode fazer para conter a propagação do COVID19. Também há algumas coisas que podemos fazer a nível individual para diminuir os impactos da crise económica associada.
Tal como no combate ao vírus, uma boa parte do combate à crise económica que se está a desenvolver depende das autoridades nacionais e europeias. Sobre isso voltarei noutra ocasião. Vale a pena, ainda assim, ter presente algumas coisas que podemos fazer para combater a dimensão económica desta crise.
Uma regra básica é lembrarmo-nos que os gastos de uns são os rendimentos de outros. O isolamento social a que aderimos para conter a propagação do vírus significa que reduzimos drasticamente os nossos consumos. Os gastos ainda diminuem mais para aqueles cujo rendimento é imediatamente atingido pela crise. Proteger os rendimentos (através de transferências do Estado, por exemplo) é importante, mas não chega. Se, nesta fase, as pessoas gastarem menos do que podem, cria-se um círculo vicioso: menos gastos –> menos rendimentos –> menos gastos... Este é um bom momento para NÃO vivermos abaixo das nossas possibilidades.
A responsabilidade é maior para quem tem rendimentos fixos. Para estes, especialmente, não há necessidade de cortar em gastos como: explicações, aulas de música, terapias várias (psicológica, da fala, etc.), etc. Muitas destas actividades estão já a procurar soluções para prosseguir a sua actividade online e seria bom que quem delas usufrui, caso possa, continue a fazê-lo. Até os ginásios (cujo crescimento foi notório nos últimos anos em Portugal) poderão orientar actividades físicas à distância, podendo e devendo ser remunerados por isso.
A situação é mais delicada para cabeleireiros, dentistas, lojas de rua, cafés, etc. Não só estas actividades exigem mais a presença física, como têm mais dificuldades em encontrar soluções tecnológicas alternativas. Aqui, os apoios públicos serão mais importantes, para que não haja uma quantidade catastrófica de falências caso a situação se prolongue (tratarei disto noutra altura).
Um caso especial é o das empregadas domésticas. A continuação da actividade destas profissionais é um risco para as próprias e para as famílias para quem trabalham. Deveriam, por isso, ser das primeiras profissões a suspender a actividade. A maioria destas profissionais, no entanto, não tem acesso a segurança social (apesar de ser obrigatório por lei). Aqueles que as empregam têm aqui uma responsabilidade acrescida.
Lembremo-nos, também, que muitos órgãos de comunicação social vivem da publicidade e das assinaturas dos leitores. A publicidade tende a cair a pique nestas alturas - precisamente quando precisamos mais de informação rigorosa (aquela mais sensacionalista, dispensa-se). As assinaturas dependem de nós.
Também na economia o comportamento de cada um de nós não resolverá o problema. Mas pode ajudar.
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2 comentários:
Temos que salvar os órgãos de comunicação social porque precisamos de informação rigorosa...
Os mesmos órgãos de comunicação social que fornecem informação rigorosa como a "bancarrota" e "arma de destruição maciça"?
Os órgãos de comunicação social "rigorosos" não terão a minha ajuda.
Caro Ricardo Paes Mamede
O que propõe é alterar o comportamento individual daquilo que as pessoas julgam sensato para influenciar um resultado macro.
Por certo está ciente da ineficiência da sua démarche. Até o mais pintado mago de "opinion nudging" precisaria de meios e tempo. E meios e tempo é coisa que não abunda.
O desastre já está aí para quem não tenha reservas de liquidez, e a sugestão mais sensata que já vi foi uma largada de Helicopter money creditada a cada cidadão individualmente. Cortesia de Christine Lagarde do ECB. Até já Draghi já tinha ventilado essa hipótese antes do coronavirus e antes de sair da presidência do BCE.
https://www.zerohedge.com/economics/draghi-open-mmt-and-peoples-qe
Depois tem três artigos que abordam a questão:
Steve Keen
https://braveneweurope.com/steve-keen-thinking-exponentially-about-containing-the-coronavirus
Richard Murphy
https://braveneweurope.com/richard-murphy-an-economic-plan-to-beat-the-impact-of-coronavirus
Frances Coppola
https://braveneweurope.com/frances-coppola-central-banks-and-coronavirus
Situações macro não podem ser geridas a nível micro, e os países apressam-se a anunciar apoios e subsídios.
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