terça-feira, 17 de março de 2020

Face à crise, todo um novo mundo

Nos EUA, a administração de Trump anunciou hoje um novo pacote de estímulos à economia no valor de $850 mil milhões, que inclui ajudas do Estado às empresas e transferências diretas de dinheiro para as pessoas - algo de que não estavam sequer dispostos a ouvir falar há um par de dias. O secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, deixou claro que as medidas são para implementar com a máxima brevidade possível.

Itália já tinha aprovado €25 mil milhões para apoios às famílias e empresas; em França, foram 45 mil milhões destinados às empresas. Em Espanha, Sánchez anunciou um plano de €200 mil milhões para financiar subsídios de apoio aos mais velhos e vulneráveis, extensão do subsídio de desemprego e linhas de crédito para o setor empresarial. Depois da reunião entre os líderes da UE, Merkel deixou no ar a possibilidade de emissão de dívida conjunta na zona euro para financiar a despesa no combate ao vírus. As "coronabonds", como lhes chamou a Bloomberg, permitiriam reduzir bastante os custos de emissão de dívida, algo que a própria Alemanha não admitia sequer discutir em 2011/12, com o euro à beira do colapso. A dimensão da crise que atravessamos também se mede pela rapidez com que algumas ideias passam de impensáveis a necessárias aos olhos dos líderes mundiais.

8 comentários:

Paulo Marques disse...

Qual quê, o que é isso face à reserva estratégica das contas certas? Quase que dá para, hmmm, uma semana?

Geringonço disse...

Então a hipocrisia do "não há dinheiro" está a ser desmantelada...

Mas estará garantido?

Se se não aproveitar esta oportunidade para educar a população a hidra europeísta austeritária neoliberal vai voltar a tentar manipular a mesma, vai continuar com os mitos "bancarrota" e "não há dinheiro" assim que a crise Covid19 termine!

Anónimo disse...

Comprova-se que os poderes fácticos que dominam a finança global sabem muito bem como resolver a crise larvar do sistema.

O problema é a dificuldade em conciliarem as soluções (que são óbvias para quem perceba um mínimo do riscado) e a manutenção do poder que a supremacia financeira confere.
Para simplificar, as "elites"estão finalmente a sentir medo, e por isso cedem pequenas migalhas na tentativa de preservar o sistema que tão bem lhes serve.

Até há pouco alguns remendos aqui e ali tinham mantido o barco à tona apesar de já terem tido que abdicar de algumas metas globalistas. Agora existe a ameaça muito palpável de colapso generalizado.

Pouco importa se é um factor exógeno como o coronavirus. É apenas um gigantesco cisne negro que põe em causa os fundamentos da ordem económica vigente.

O que não impede que as ditas "elites" se agarrem com unhas e dentes. Daí que se tentem agarrar a mitos como a "livre circulação de pessoas" apesar das esmagadoras evidências de que pelo menos enquanto persistir a ameaça do coronavirus, essa circulação tem que ser restringida.

Anónimo disse...

Dois sintomas de que as tensões sociais a um nível microeconómico podem ficar ao rubro a muito curto prazo:

Primeiro, porque num sistema com poucas protecções contra o desemprego este pode atingir valores inimagináveis até há bem pouco tempo:

https://www.zerohedge.com/political/mnuchin-reportedly-told-senate-gop-without-bailouts-virus-means-depression-era

Segundo, porque numa sociedade com um emprego precarizado e endividamento familiar elevado a insegurança está pronta a explodir:

https://www.zerohedge.com/economics/americans-rush-buy-firearms-covid-19-stokes-fears-unrest

Embora o nível de protecção social na Europa seja mais elevado, isso apenas significa um pouco mais de tempo antes que a situação se agudize. Será que este tempo vai ser usado para reflectir e implementar soluções adequadas ou vai ser desperdiçado em questões de lana caplina como de costume?

Francisco disse...

E se além de outra coisas, de repente déssemos por nós (agora que não temos coisas tão fundamentais como os muitos programas e rubricas diárias sobre "bola") a reflectir sobre outro modelo de organização jurídico-política, económica, social e cultural das nossas sociedades? Mais solidárias, humanizadas, em que a consciência de que a existência de um eu individual e de um nós colectivo, podem e devem ser as duas faces da mesma e única moeda estrutural da nossa existência. Uma sociedade em que o individualismo feroz e escludente, a competitividade pelo lucro e a acumulação em que radicam as mais obscenas desigualdades, dê lugar a modos de organização social verdadeiramente sustentáveis, justos e em que a felicidade pode mesmo ser um objectivo partilhado por todos os indivíduos desta extraordinária espécie que é a nossa.
É preciso transformar a utopia em acção organizada, dando-lhe a feição de um projecto congregador, aparelhado com todas as ferramentas que lhe são necessárias (ideológicas e políticas, sobretudo), mas que não abdique da regra de ouro, de que a compreensão do Mundo, é um passo importante, mas preliminar apenas, àquilo que é verdadeiramente essencial: a sua transformação. Vão pensando nisso, meus amigos.

Jose disse...

Larvar, mesmo larvar, é esta ambição de um crescimento de consumo sem outro limite que não o 'tudo a todos'.

E haverá algo mais evidente do que, pondo as impressoras a trabalhar, o dinheiro sempre aparece?



Anónimo disse...

Como os salários têm estado estagnados na generalidade dos países desenvolvidos, o consumo também não tem crescido grande coisa. Logo, o que há a travar é a parte dos rendimentos de capital no PIB.
José deveria saber disso. Mas não... Está com um medo larvar da impressora.
Ainda estamos muito longe do "tudo a todos". Até parece que José já está com medo que cada familia tenha o seu superiate:
https://www.the-sun.com/news/544248/saudi-prince-superyacht-capsize-sink-greece/
Spoiler alert: Just to poke fun.
Se o ridículo matasse, José já teria gasto umas centenas de vidas.

Jose disse...

Ridiculamente presumo que a parte dos rendimentos do capital sempre ia parar a algum lugar.

Em que percentagens adicionais às existentes, onde ia parar tal fatia e com que consequências previsíveis, é uma área onde um atávico pudor silencia as vozes mais esclarecidas.

E fico nesta ânsia ridícula de não saber se me estão a falar da revolução mundial ou a praticarem o esconjuro de um qualquer trauma ideológico.