A Comissão Europeia demorou a responder à crise, mas, até agora, as suas decisões e o protagonismo de Ursula von der Leyen estão longe de decepcionar. Bruxelas disponibilizará 37 mil milhões para a economia e para a produção de bens da área da Saúde. Vai criar uma reserva estratégica de equipamentos médicos e disponibilizá-los aos Estados em situação de carência, como hoje acontece com Itália e a Espanha. Instou os Estados-membros a proibir a exportação desses bens e equipamentos, tentando evitar negócios escandalosos como a venda por uma empresa italiana de 500 mil kits para testes aos Estados Unidos. Van der Leyen tem apelado aos governos para que flexibilizem os controlos fronteiriços aos transportes de mercadorias ou aos europeus que querem regressar aos seus países — e restringiu o acesso externo à União. E, ponto crucial, o Banco Central Europeu aprovou em duas fatias 870 mil milhões de euros para comprar dívida soberana, garantindo fazer “tudo o que for necessário para ajudar a área do euro a atravessar esta crise”. (Manuel Carvalho, director do Público, 22/3/2020)
O melhor das medidas é o tempo do verbo - o futuro.
Nada foi feito em tempo, nada foi feito até agora. E o que for feito, deve manter a todo o custo as fronteiras abertas, mesmo que a UE seja já a fonte dos contaminados. Ontem, havia cerca de 120 mil infectados na Europa, mais do que em toda a Ásia.
E quanto aos dispositivos criados: recusa-se os eurobonds - nem se fala de outras soluções como transformação da dívida detida e adquirida pelo BCE em dívida perpétua - e promete-se mais dívida soberana para, no futuro - como o FMI já está a fazer com a Itália - se voltar a esticar a trela da troica, com a imposição de medidas neoliberais que já provaram em 2011-2014 que não funcionam, criam desigualdade, não aumentam a produtividade, geram desiquilíbrios externos, aprofundam desequilíbrios estruturais, desequilíbrios na distribuição do rendimento, geram mais pobreza, mesmo para quem tenha trabalho.
Não há crise humana que faça a esta gente perder de vista o objectivo do jogo: manter a fonte do poder - a dívida.
E por isso, não há dúvida que está “longe de decepcionar” porque nunca houve dúvidas ao que vinha. Decepção é este jornalismo do poder.
domingo, 22 de março de 2020
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9 comentários:
O mais grave de toda esta lógica é que estão a repetir a situação da crise de 2008:
incentivaram as economias a fazerem despesa,de curto prazo, para depois cobrarem em dobro.
Podemos dizer, sem sombra de dúvida,que privilegiaram o negócio financeiro em detrimento de qualquer politica de ajuda à reestruturação,dos sistemas produtivos,em particular das economias mais endividadas.isto é : politicas monetárias para a frente e o resto logo se vê.....e viu-se :resultados todos ao contrário.
Portanto, o longo prazo não interessa para nada, depois do levantamento das emergências e depois do "bicho" ter sido eliminado, voltará tudo ao normal, mercado dixit, isto é se ainda "houver mercado"
"What is abundantly clear is that the EU has become a financially-driven cartel, not a human-centered federation of nations. An organization that cannot adequately protect the health of its public is not an organization worth defending. The EU’s declarations of democracy and solidarity are being seen for the facade that they are. That facade was always shaky. A microbe is enough to tear it down."
Traduzindo...
"O que é bastante claro é que a UE tornou-se um cartel financeiro, não uma federação de nações centrada no ser humano. Uma organização que não pode proteger adequadamente a saúde do seu público não é uma organização que valha a pena defender. As declarações de democracia e solidariedade da UE estão sendo vistas pela fachada que realmente são. Essa fachada foi sempre instável. Um micróbio é suficiente para derrubá-la."
https://www.zerohedge.com/geopolitical/covid-19-shatters-facade-european-union
As políticas neoliberais não funcionam desde o Chile de Pinochet...
O objectivo da seita neoliberal não é a criação de riqueza (e certamente não é para a distribuir decentemente), o objectivo é acabar com a Democracia, com os avanços sociais e económicos da classe trabalhadora!
Mas suspeito que o João sabe que é assim mesmo antes de 2011...
40 anos de Neoliberalismo, basta! Neoliberalismo está-nos literalmente a matar!
A "liberdade de circulação de mercadorias" do mercado único no seu melhor.
"Déjà distribué aux hôpitaux tchèques
Après enquête, les autorités ont effectivement admis vendredi que ces masques provenaient bien de la cargaison de la Croix-Rouge de la province chinoise du Zhejiang destinée à l'Italie, sans préciser comment elle s'était retrouvée sur le territoire. Dans un communiqué, le ministère de l'Intérieur tchèque a fait son mea culpa."
Traduzindo...
"Já distribuídas aos hospitais checos
Após investigação, as autoridades admitiram efetivamente na sexta-feira que essas máscaras realmente vieram da carga da Cruz Vermelha da província chinesa de Zhejiang destinada à Itália, sem especificar como foi parar no território. Num comunicado de imprensa, o Ministério do Interior tcheco fez a sua mea culpa."
Solidariedade europeista no seu melhor...
http://www.leparisien.fr/societe/coronavirus-la-republique-tcheque-reconnait-avoir-detourne-des-masques-destines-a-l-italie-22-03-2020-8285340.php#xtor=AD-1481423553
"What is abundantly clear is that the EU has become a financially-driven cartel, not a human-centered federation of nations".
A Madame Ursula proclama que as cidades pobres da dita União (ex. Portugal), podem endividarem-se (em Euros), cada vez mais. Os presidentes das câmaras de essas cidades, atentos, venerandos e obrigados, agradecem aliviados, pois vêm aí eleições.
«em detrimento de qualquer politica de ajuda à reestruturação dos sistemas produtivos»
Reestruturação?
Não é isso o preâmbulo de reformas estruturais e outras actividades amaldiçoadas aqui no jardim à beira-mar?
Ou trata-se do equivalente a nacionalizações e planeamento central, financiados pela UE?
Não nos parece muito correcto afirmar que a UE tenha tido uma atitude de prontidão e eficácia para esta situação grave.
Parece haver uma desorientação por parte da UE e todos os seus responsáveis, ao manterem as fronteiras abertas, cuja excepção devia ser as mercadorias ,quando é precisamente na UE que a propagação do virus tem sido maior.
Há um aspecto curioso é como o foco de contaminação nasce nos antípodas e se propagou à Europa quando a OMS calssifica o virus como de propagação moderada.
As contradições são bem visiveis.
"-A tirania do auxílio.Havia entre nós quem, em vez de mandar nos outros, em vez de se impor aos outros, pelo contrário os auxiliava em tudo quanto podia."
Fernando Pessoa "O Banqueiro Anarquista.
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